Na tarde de terça-feira (1), o governador reeleito, Camilo Santana (PT) divulgou uma nova pasta para o seu governo chamada Administração Penitenciária, nomeando Luis Mauro Albuquerque como secretário, que já prometeu em seu discurso de posse um novo sistema de organização prisional, incluindo efetivar a proibição de telefones celulares dentros dos presídios usando bloqueadores de sinal e o não reconhecimento de facções criminosas, e, consequentemente, acontecerá a extinção da separação de detentos por filiação a grupos de crime organizado. A rivalidade entre os grupos se estende aos presídios e instiga rebeliões por pedidos de transferência.
Com o conhecimento de outros momentos atuando no Ceará, como a rebelião que houve entre os presidiários em 2016, o novo secretário afirma “passei quase seis meses aqui, não vejo essas dificuldades todas, é muito trabalho que deve ser feito. É um desafio bem interessante. A gente vai vencer com trabalho, procedimento e cumprimento da lei”, e acrescenta “quem manda é o Estado. Eu não reconheço facção, o Estado não deve reconhecer facção, a lei não reconhece facção, então nós vamos aplicar a lei”, pontuou.
Essa declaração gerou revolta nos membros de facções que se uniram – apesar de toda a rivalidade por dominação em pontos estratégicos para atuação dos mandantes – para dar uma resposta ao secretário dando início à uma série de ataques que já se tornou a mais violenta da história do Ceará, e o estado está um verdadeiro caos. Os ataques começaram na tarde de quarta-feira (2), e chegam ao 10° dia, colocando medo em toda a população.
O governador Camilo Santana solicitou ao Governo Federal um suporte para controlar a situação e atuar em conjunto para combater o crime organizado no estado do Ceará. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, atuaram de forma rápida ao atenderam ao pedido do parlamentar.
ATAQUES
O número total de ataques aproxima-se de 200, desde o segundo dia do ano até hoje. Os primeiros ataques, entre os dias 02 e 03, foram incêndios a ônibus e microônibus em bairros de Fortaleza, explosão da pilastra do viaduto na BR – 020 em Caucaia, tentativa de incêndio em posto de gasolina, tiros em uma agência bancária, ataques a fotossensores em várias localidades, incêndio na concessionária de carros Renault da av. Santos Dumont, o pátio do Detran da Maraponga em Fortaleza, ataque ao Palácio Municipal de Maracanaú e outros. Após esses ataques, o governador Camilo Santana solicitou ao Governo Federal um reforço para conter as ações criminosas.
Nos dias 04 e 05, os ataques continuaram e com maiores ocorrências, como ônibus de transporte escolar incendiados em Morada Nova, ataques a sedes de vários órgãos públicos em Morrinhos, mais ônibus incendiados em várias localidades de Fortaleza e Região Metropolitana, incêndio a outro posto de gasolina em Fortaleza, ataques a carros da Enel (empresa de energia) em várias cidades, incêndio a carros estacionados no North Shopping Fortaleza da av. Bezerra de Menezes, incêndio a fóruns públicos em diversas cidades do Ceará, ataques a agências bancárias, ataque a prédio da Polícia Rodoviária Federal em Caucaia com 23 carros incendiados, incêndio a caminhão com mais de dois mil frangos em Caucaia, entre outros ataques. No sábado, dia 5, bandidos picharam um posto de saúde no bairro Presidente Kennedy, dizendo que os ataques só iriam parar quando o secretário de administração penitenciária (SAP), Luis Mauro Albuquerque, sair do cargo.
Nos dias 06 e 07, o prédio do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) em Marco foi alvo de incêndio de grandes proporções e ataques em outros prédios públicos, explosivos detonados na ponte do Peixe Gordo em Tabuleiro do Norte deixando três buracos na estrutura, torre de telefonia da TIM foi derrubada em Limoeiro do Norte, entre outros. Embora a atuação de todos os policiais em conjunto tenha reduzido o índice de homicídios no estado do Ceará, a população continua com medo de sair de casa.
Os dias 08 e 09 foram marcados por mais ataques no interior do estado, como o ataque ao Centro de Referência da Assistência Social (Cras), explosão na ponte do Tapebas na Caucaia, tentativa de incêndio a uma torre de telefonia em Pacajus, e na capital, bandidos quebraram as luzes de postes de iluminação em vários bairros para dificultar a ação dos policiais a noite, entre outros ataque.
Ontem, 10, houve outras duas explosões, sendo uma no viaduto do metrô da estação Parangaba, em Fortaleza e outra no viaduto em frente a fábrica da Ypióca, em Messejana. Os explosivos utilizados para atingir os viadutos foram de uma carga roubada no último dia 20, e a carga com 5,7 toneladas de explosivos, 3 mil metros de pavio e 430 detonadores foi toda levada por criminosos. Essa carga roubada antes do natal, só foi revelada após essa onda de ataques. Como os bandidos sabiam de uma carga dessas? Como uma carga de explosivos não possui escolta? Porém, a quantidade de ataques, comparado aos dias anteriores, deu uma diminuída, graças a ação efetiva de todos os policiais que estão trabalhando duro para combater o crime organizado e trazer paz para a população.
PRESÍDIOS
A chegada do novo secretário de administração penitenciária (SAP), mexeu com criminosos dentro e fora dos presídios. Luis Mauro Albuquerque Araújo, hoje tem 50 anos, e atua na área de segurança desde os 19. Conhecido no Nordeste por colocar ordem no presídio Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, quando uma rebelião gerou um massacre entre os presos. As declarações do secretário em sua posse, geraram revolta entre membros de facções, visto que o mesmo cancelaria um acordo feito no ano anterior que dividia membros dos grupos criminosos por presídio, entre as CPPLs (Casa de Privação Provisória de Liberdade), IPPO (Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira) e Centro de Detenção Provisória. As divisões eram:
CPPL 1 e CPPL 4: Comando Vermelho
CPPL 2, IPPO 2 e Unidade Professor José Sobreira de Amorim: Guardiões do Estado (GDE)
CPPL 3: Primeiro Comando da Capital (PCC)
Centro de Detenção Provisória: Presos são divididos por setores.
Além de querer instalar os bloqueadores de sinal nos presídios e acabar com a divisão de facções, o secretário ordenou um “pente fino” nas celas e pavilhões, recolhendo no total Mais de 600 celulares e centenas de televisores, e também as CPPLs 1 e 3 tiveram as visitas suspensas. Quem permitiu a entrada dessas tvs para os presos? Como eles conseguiram essas regalias? Quais os meios de entradas dos celulares nas cadeias? No dia 03, houve um princípio de rebelião na CPPL3 e tumulto seria uma resposta às declarações de Luís Mauro. Logo após a fuga de 23 detentos na Cadeia Pública de Pacoti, agentes penitenciários realizaram uma vistoria no local e encontraram uma plantação de maconha, pedras de crack, cocaína, armas de fogo, balança de precisão e até um receptor de sinal para TV a cabo. A unidade passa a ser investigada como ponto de drogas. O que nos perguntamos é: como os 23 presos ficaram sabendo que a cadeia seria fechada e eles transferidos? Como os presos conseguiram fazer uma plantação de maconha dentro das celas? Quem facilitou a entrada de armas para os internos? Os responsáveis pela cadeia foram coniventes? Foram omissos? Receberam dinheiro para facilitar a vida dos internos? A CGD (Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Agentes Penitenciários) deveria realizar uma investigação profunda sobre este caso. Os chefes de facções foram transferidos para presídios federais com a intenção de desarticular as facções. Impedindo a comunicação dos chefões crime com os “soldados” que estão realizando os ataques no Ceará. Já foram realizadas 40 transferências de chefes de facções para penitenciárias federais. Essas vagas foram liberadas pelo ministro Sérgio Moro, com a intenção de ajudar na desestruturação das facções instaladas no Ceará.
Em uma entrevista dada no ano de 2017 a um canal local de Alcaçuz, o secretário afirmou que preso não deve costurar bola. “Sou contra costurar bola. Preso tem que aprender a ser pedreiro, carpinteiro, mecânico”, pontuou. O secretário também instituiu uma rotina de limpeza na sua última passagem no Ceará em 2016, onde os próprios detentos limpas suas celas, pintam as paredes pichadas dos presídios e outros afazeres, o que fará parte de uma nova política de disciplina imposta aos presidiários a partir de 2019.
APREENSÕES E PRISÕES
O número de detidos por ataques criminosos chega a 287, até a noite do dia 10. O governador, Camilo Santana, está atualizando a população quanto a quantidade de prisões em sua página oficial no Facebook e o Secretário de Segurança Pública, André Costa, está informando a todos sobre apreensões no stories do seu perfil oficial no Instagram.
Artefatos incendiários, como coquetéis molotov, estão sendo apreendidos, e também diversas armas de fogo, drogas e munição. Na tarde de ontem, foi apreendido no bairro Jangurussu, em Fortaleza, em torno de 7 mil litros de gasolina que seria utilizado para ataques. Também foi preso, um motorista suspeito de vender gasolina para criminosos. O item mais chamativo de todas as apreensões feitas pela polícia foi uma submetralhadora de origem russa, em um ponto de drogas no bairro Serrinha, em Fortaleza.
FAKE NEWS
Desde o início dos ataques, viralizaram muitas fake news nas redes sociais. Notícias dizendo que o Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, estaria fechado após receber ameaças, seria falsa, mas mesmo assim, houve pessoas que perderam consultas por acreditarem em tal informação. O hospital afirmou que notícia seria falsa e o funcionamento estava normal. Outra, atribuída ao secretário André Costa, afirma que é o um pedido da Secretaria de Segurança Pública que os moradores não saiam de casa no 05. O delegado desmentiu as afirmações.
TRANSPORTE PÚBLICO E COLETAS DE LIXO
Principais alvo de ataques violentos, os ônibus de Fortaleza sofreram mudanças de rotas. Dos mais de 1.800 ônibus de Fortaleza e Região Metropolitana, houve dias que circularam menos de 60. Motivo seria evitar ataques e prejuízos para as empresas, que se somados, passam de R$ 29,5 milhões, com base nos dados cedidos pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). O metrô de Fortaleza também foi alvo de ataques, e segundo a Metrofor, houveram dias que foi preciso recolher antes do horário de encerramento. Os ataques deixaram a população sem transporte público operando de forma habitual, prejudicando aqueles que dependem de ônibus para irem trabalhar e realizar suas atividades.
Como caminhões que coletam lixo também foram alvo de ataques, e a coleta foi afetada, á bairros sem o recolhimento de lixo há dias e a população está sem saber o que fazer. Em alguns bairros, a quantidade acumulada é absurda e o mau cheiro infesta as localidades, trazendo consigo baratas, ratos e até doenças pela falta de coleta de resíduos.
FORÇA POLICIAL
Ao todo, têm 406 homens e mulheres da Força Nacional atuando em todo o estado, como também 19 policiais de Pernambuco, agentes do Comando de Operações Tática – conhecido como Tropa de Elite da Polícia Federal, operar durante 30 dias. Foram convocados 400 policiais militares que passaram no último concurso, e mais 220 dos 636 agentes penitenciários que aguardam serem convocados, também foram chamados. Um acordo entre governadores do Partido dos Trabalhadores (PT) garantiu mais um reforço, trazendo 100 militares da Bahia. Agentes de segurança do Piauí e Santa Catarina também reforçam a segurança pública e trabalham em conjunto com a polícia militar do Ceará para combater o crime organizado.
O presidente Jair Bolsonaro também liberou uma quantia de R$ 12 milhões para compra de viaturas, armas, coletes e munição para a polícia local.
COMÉRCIO
Em áreas dominadas por facções, como o bairro Sapiranga, membros mandaram comerciantes fecharem as portas e caso desobedecessem, o estabelecimento seria queimado. Ordens como essa foram dadas em vários bairros de Fortaleza e no interior, colocando um medo maior na população e afetando o sustento de famílias que dependem de seus comércios para sobreviverem. Membros passaram em cada ponto e ordenaram o fechamento, como também espalharam panfletos dando instruções para encerrarem vendas. Até supermercados tiveram que acatar ordens do grupos de crime organizado.
Diante dessa crise no Ceará, refletimos alguns pontos: até que ponto o nosso governador foi omisso e deixou as facções tomarem o poder nas ruas, cidades do interior, penitenciárias? Quem foram os beneficiados com toda essa liberdade para as facções? O que mudou no governador Camilo Santana para que ele colocasse alguém para resolver os problemas dos presídios e ainda criticar os ex presidentes de seu partido?
A população do Ceará esperava que o governador tomasse uma posição diante do crime e dos altos índices de assassinato que a cidade de Fortaleza tem. Não sabemos o que finalmente motivou o governador, mas a população aguarda por dias melhores, onde possam voltar a sentar na calçada, a ver as crianças brincando de bola na rua. Os cidadãos fortalezenses aguardam o retorno de uma cidade pacífica, onde podemos exercer o nosso direito de ir e vir sem medo da bandidagem.
Fontes: Tribuna do Ceará, O Povo e Agência Brasil.