A votação de uma honraria de Cidadania Honorária na Comissão de Educação da Câmara Municipal de Curitiba, realizada no dia 17 de dezembro de 2025, provocou um debate prolongado entre vereadores e gerou desdobramentos institucionais nos dias seguintes. A discussão ocorreu durante a análise de um projeto que concede o título ao líder comunitário judeu Isaac Baril, em reconhecimento à sua atuação social e comunitária na capital paranaense.
Durante a reunião, a vereadora Professora Angela (PSOL) apresentou voto em separado contrário à concessão da honraria. Ao justificar sua posição, a parlamentar relacionou a atuação do homenageado à Federação Israelita do Paraná e ao incentivo à Aliyah — termo que designa o retorno de judeus à terra de Israel — a questões do atual contexto geopolítico envolvendo o conflito entre Israel e Palestina. A vereadora afirmou que seu posicionamento estava alinhado às bandeiras políticas de seu mandato, entre elas a defesa da causa palestina.
As declarações motivaram questionamentos de outros integrantes da comissão. O vereador Guilherme Kilter (Novo) solicitou esclarecimentos sobre como essas conclusões foram extraídas da biografia de Isaac Baril, argumentando que o histórico apresentado no projeto não faz referência a posicionamentos políticos internacionais nem a temas relacionados à negação de direitos territoriais. Durante o debate, Kilter destacou que a Aliyah é um conceito religioso presente em textos judaicos há séculos, anterior à criação do Estado de Israel, e que o projeto avaliava exclusivamente os serviços prestados pelo homenageado à cidade de Curitiba.
A discussão avançou com a reafirmação, por parte da vereadora Professora Angela, de que seu voto era de natureza política e não religiosa. Outros parlamentares ponderaram que a vinculação entre uma prática religiosa e posicionamentos políticos contemporâneos poderia gerar interpretações divergentes, o que levou a novos pedidos de esclarecimento durante a sessão.
Mesmo com o debate, a Comissão de Educação prosseguiu com a votação. A maioria dos vereadores se manifestou favorável à concessão da honraria, enquanto a vereadora manteve seu voto contrário.
Após a reunião, o episódio ganhou novo capítulo. A vereadora Indiara Barbosa (Novo) protocolou uma representação formal solicitando a abertura de processo ético-disciplinar contra a vereadora Professora Angela, por suposta intolerância religiosa e quebra de decoro parlamentar. O pedido foi encaminhado à Mesa Diretora e à Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal de Curitiba
De acordo com a representação, as declarações feitas durante a sessão da Comissão de Educação teriam atribuído conotação negativa a práticas religiosas do judaísmo, especialmente ao associar o instituto religioso da Aliyah a posicionamentos políticos contemporâneos, sem relação comprovada com a trajetória do homenageado. O documento sustenta que esse tipo de associação pode configurar violação ao Código de Ética Parlamentar, que prevê o dever de promoção do respeito institucional e da liberdade religiosa
O pedido também solicita a apuração formal dos fatos, com análise das gravações da sessão e oitiva das partes envolvidas, para que seja avaliada eventual infração às normas regimentais e éticas da Casa Legislativa. A iniciativa ocorre em um contexto em que o Legislativo municipal discute a responsabilidade institucional na condução de debates públicos, especialmente em temas que envolvem religião e política internacional.
Isaac Baril, indicado à honraria, possui histórico de atuação voltado ao diálogo inter-religioso em Curitiba. Durante sua presidência na Federação Israelita do Paraná, participou de iniciativas que reuniram lideranças judaicas, cristãs e da comunidade árabe, com foco na convivência e no respeito entre diferentes grupos, conforme descrito na biografia apresentada junto ao projeto.
A representação agora será analisada pelos órgãos internos da Câmara, que deverão decidir sobre a abertura ou não de procedimento ético, enquanto o projeto de concessão da cidadania honorária segue seu trâmite legislativo.
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