Um projeto de extensão multidisciplinar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem mudado a realidade de animais com deficiência física por meio da tecnologia. A iniciativa, que une os laboratórios Engenhar-MEC e 3D Life Lab, desenvolve próteses, órteses e dispositivos de locomoção personalizados utilizando impressão 3D, com foco em soluções de baixo custo para melhorar a qualidade de vida dos animais atendidos.
Um dos casos mais emblemáticos é o da galinha Gorda, resgatada após perder parte da pata por conta de um câncer. Ela recebeu uma prótese feita sob medida, desenvolvida por estudantes e professores dos cursos de Engenharia Mecânica e Medicina Veterinária da UFPR. O dispositivo foi adaptado com base em um modelo disponível na internet, que precisou de ajustes para melhor funcionalidade. A ave, inicialmente receosa, adaptou-se bem ao novo membro e voltou a se locomover.

Além de Gorda, o projeto já beneficiou diversos outros animais, como cães, gatos, um marreco e até uma ovelha. O trabalho é coordenado pelos professores Sérgio Fernando Lajarin, do Departamento de Engenharia Mecânica, e Maria Fernanda Torres, do Departamento de Anatomia. Os dispositivos são fabricados com filamentos plásticos como PLA, PETG e TPU – este último com propriedades flexíveis. Os materiais e os equipamentos são fornecidos por uma empresa parceira, o que garante que os tutores não tenham custos.
A aplicação da tecnologia assistiva na área veterinária começou com o caso do cachorro Bento, que nasceu com uma malformação em uma das patas. Após um pedido feito via Instagram, a equipe desenvolveu uma órtese para corrigir o problema, evitando complicações na coluna e articulações. A divulgação do caso gerou repercussão e abriu caminho para novos atendimentos, inclusive em parceria com o Hospital Veterinário da UFPR.
Imagens: Engenhar-MEC
Cada animal passa por um processo específico: inicia-se com a moldagem da região afetada, geralmente com atadura gessada. O molde é digitalizado e convertido em um arquivo tridimensional. A partir disso, a prótese ou órtese é modelada em software e impressa em 3D com parâmetros ajustados para resistência, flexibilidade e leveza. Todo o processo dura cerca de 15 dias.
Outro exemplo é o cão Chico, da raça bulldog francês, diagnosticado com hemivértebra, uma malformação na coluna. Ele perdeu a coordenação dos membros traseiros e precisava se arrastar para se locomover. A equipe desenvolveu um carrinho de alumínio personalizado que permitiu ao animal correr novamente pelos corredores do campus.
Também há o caso da ovelha Vitória, que sofreu uma lesão nervosa após ser atacada por um cão. Com um dos membros em flexão permanente, a UFPR produziu uma órtese com “salto”, apelidada de “tamanquinho”, que nivelou a altura entre as patas e ajudou a proteger a pele lesionada.
Além dos ganhos para os animais e seus tutores, o projeto representa uma oportunidade de aprendizado profundo para os estudantes. A vivência prática e interdisciplinar permite que alunos de Medicina Veterinária se familiarizem com softwares de engenharia e apliquem conhecimentos anatômicos na criação das soluções.
Bárbara Beatriz Garcia Santos, aluna do 9º período de Medicina Veterinária e participante da equipe, destaca que a integração entre saúde e ciências exatas amplia o conhecimento dos aspectos biomecânicos e do processo de fabricação das próteses. Ela também ressalta o impacto humano do projeto. “Aprendi ainda mais sobre a importância de compreender a história e a individualidade de cada animal. Esse contato contribui para o desenvolvimento de uma visão crítica em relação ao planejamento e às condutas adotadas em cada situação clínica”, conclui.
Imagens: Engenhar – MEC







