O turismo rural no Paraná deixou de ser apenas uma alternativa pontual de fim de semana para se consolidar como uma atividade estruturada, diversificada e com peso crescente na economia de propriedades do Interior. Um retrato inédito desse setor foi apresentado nesta semana com a divulgação da primeira pesquisa estadual sobre turismo rural, conduzida pela Secretaria de Estado do Turismo (Setu) em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná).
O levantamento mapeou 249 empreendimentos distribuídos em 16 dos 18 territórios turísticos do Estado, trazendo um diagnóstico detalhado sobre quem empreende, o que é ofertado, como o público se comporta e quais são os principais desafios para o crescimento do segmento.
Os números mostram que o turismo rural já opera em duas frentes bem definidas. Para 57,3% dos empreendimentos, a atividade turística funciona como complemento de renda, integrada a outras práticas produtivas das propriedades, como agricultura, pecuária ou agroindústria. Ao mesmo tempo, 42,7% indicam o turismo como principal fonte de receita, um sinal de que a atividade passou a ocupar papel central na sustentabilidade financeira de muitas famílias e negócios no campo.
O perfil mapeado pela pesquisa ajuda a compreender o amadurecimento do setor. A maior parte dos empreendedores tem origem familiar na zona rural, com histórico de permanência no campo, e alia essa tradição a níveis mais elevados de escolaridade e experiência acumulada. Mais da metade possui ensino superior e uma parcela expressiva atua no turismo há mais de três anos, o que aponta continuidade e consolidação da atividade. Na prática, isso significa que o turismo rural paranaense vem sendo conduzido por pessoas que conhecem o território, dominam o fazer local e buscam profissionalizar a experiência do visitante, transformando a vivência rural em produto turístico.
A oferta mais presente nas propriedades é a gastronomia, que aparece como motor do turismo rural no Estado. O levantamento indica que a maior parte dos empreendimentos atua com alimentos e bebidas, seja por meio de cafés coloniais, refeições típicas, degustações, venda de produtos artesanais ou integração com agroindústrias. Em seguida, surgem atividades de lazer e recreação e, em proporção relevante, a realização de eventos no espaço rural. Parte das propriedades também opera com hospedagem, ampliando a permanência do visitante e estimulando a economia local para além do passeio de um dia.
Do lado da demanda, o turismo rural no Paraná se mostra fortemente conectado ao público doméstico e regional. As propriedades recebem principalmente famílias, casais e grupos de amigos, com destaque também para o turismo pedagógico, que tem presença significativa. A procura por experiências no campo, geralmente concentrada nos fins de semana, reforça uma tendência observada nos últimos anos: a valorização de passeios curtos, ao ar livre, com contato com a natureza, gastronomia típica e atividades que aproximam crianças e jovens do cotidiano rural.
A pesquisa também evidencia o grau de incorporação da comunicação digital no setor. O WhatsApp e as redes sociais se consolidaram como canais quase universais de relacionamento com o público, e o Instagram aparece como principal vitrine das propriedades. Em contrapartida, plataformas de reserva e comercialização ainda são pouco utilizadas, o que aponta uma oportunidade para ampliar o alcance e profissionalizar a venda, especialmente junto a públicos de fora da região.
Apesar do avanço, o diagnóstico identifica gargalos que ainda limitam o potencial do turismo rural. A falta de sinalização turística surge como uma das principais dificuldades, assim como a integração insuficiente de parte dos empreendimentos em rotas organizadas. A pesquisa também revela demandas por capacitação, especialmente em marketing digital e gestão financeira, além de desafios relacionados à infraestrutura e ao acesso, que, no contexto rural, dependem diretamente da qualidade das estradas e da conectividade.
É nesse ponto que o turismo rural passa a dialogar de forma direta com as políticas públicas de desenvolvimento regional. O setor depende de condições estruturais para crescer e tende a ser impulsionado por investimentos em trafegabilidade, sinalização e organização territorial. O Paraná vem avançando na regionalização do turismo e na estruturação de segmentos, conectando municípios e territórios turísticos para fortalecer roteiros e ampliar a capacidade de comercialização. Paralelamente, o apoio à qualificação, à formalização e à melhoria da infraestrutura nas propriedades contribui para elevar a qualidade do atendimento e preparar o empreendedor rural para transformar a visitação em uma atividade sustentável de longo prazo.
Outro aspecto relevante apontado pelo levantamento é a disposição do setor em investir e se adaptar. A maioria dos empreendimentos relatou melhorias recentes na estrutura, com investimentos em infraestrutura, ambientação e acessibilidade. Os índices de formalização também indicam um movimento consistente de profissionalização, com grande parte dos negócios já contando com registros e cadastros que facilitam a integração ao mercado e o acesso a políticas e programas do setor.
Ao reunir dados sobre oferta, demanda e gargalos, a pesquisa passa a servir como base para ações integradas entre Estado, municípios e empreendedores, com foco na ampliação de rotas, qualificação de serviços, melhoria da infraestrutura e fortalecimento da comercialização. Mais do que um retrato, o levantamento funciona como um mapa de oportunidades para que o turismo rural avance com planejamento, aproveitando a diversidade produtiva e cultural do Paraná e transformando o modo de vida no campo em uma experiência turística valorizada, capaz de gerar renda, movimentar economias locais e fortalecer a permanência das famílias em seus territórios.




