A queda de um avião da VoePass em Vinhedo, no interior de São Paulo, levantou uma série de questões sobre a segurança operacional da companhia aérea, uma das mais antigas em operação no Brasil. Ex-funcionários da empresa, anteriormente conhecida como Passaredo, trouxeram à tona graves denúncias de irregularidades e negligências na manutenção das aeronaves, apontando uma cultura corporativa que colocava o lucro acima da segurança.
Um dos relatos mais impactantes veio de um ex-funcionário que, sob anonimato, revelou que uma das aeronaves da frota era popularmente conhecida como “Maria da Fé”. Segundo ele, o apelido fazia referência ao estado precário do avião, que “só voava pela fé”. Imagens registradas no interior de uma das aeronaves corroboram a denúncia, mostrando uma poltrona parcialmente solta e uma fresta na porta sugando um pedaço de papel durante o voo.
Henrique Hacklaender, diretor-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, afirmou que as reclamações sobre a VoePass se intensificaram após a pandemia de Covid-19, em março de 2020. Hacklaender destacou que os tripulantes relataram níveis de fadiga crescentes e falhas recorrentes no sistema de ar-condicionado das aeronaves, um problema que já havia sido observado em diversos voos da companhia.
A jornalista Daniela Arbex, em um desabafo nas redes sociais, compartilhou sua experiência em um voo da VoePass realizado um dia antes do acidente. Em seu relato, ela descreveu a situação caótica a bordo, com passageiros passando mal devido ao calor extremo provocado pela falha no sistema de ar-condicionado. Segundo Arbex, a tripulação justificou o problema afirmando que o ar-condicionado só funcionava durante o voo, mas, naquele caso, nem mesmo no ar o sistema estava operante.
A VoePass acumula um histórico preocupante de problemas judiciais e reclamações. Desde 2021, a companhia enfrenta pelo menos 150 processos no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a maioria relacionada a pedidos de indenização por danos morais. No site Reclame Aqui, utilizado por consumidores para registrar suas experiências com empresas, a VoePass recebeu quase 900 reclamações nos últimos 12 meses, sendo classificada como “não recomendada” pela plataforma.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu recentemente a perícia inicial no local da queda. O órgão recolheu dados das caixas-pretas do avião e iniciou a análise das informações para determinar as causas do acidente. Três hipóteses estão sendo investigadas: a formação de gelo nas asas, possíveis danos causados por um “tailstrike” ocorrido em março deste ano e problemas no sistema de ar-condicionado.
O relatório preliminar sobre o acidente deve ser divulgado nos próximos 30 dias, mas a conclusão final pode levar mais tempo, dependendo da complexidade da investigação.