Nesta semana aconteceu a prestigiada e tradicional premiação Bola de Ouro, promovida pela revista France Football. Em suma, recebe o prêmio o jogador considerado, pelo júri escolhido pela revista, que teve o melhor e mais impactante desempenho na temporada anterior.
Vinicius Júnior, craque brasileiro do Real Madrid, segundo maior clube do mundo (o meu clubismo dá este teto ao Real), foi indubitavelmente, para quem gosta e acompanha futebol, o jogador que teve o melhor e mais impactante desempenho nas conquistas do seu clube na La Liga (Campeonato Espanhol) e na UEFA Champions League (campeonato europeu de clubes).
Entretanto, o vencedor do prêmio foi o Rodri, jogador do Manchester City, da Inglaterra. De fato, o volante espanhol é um grande jogador, e até teria chances de ser titular no meu time. Mas Rodri não foi o melhor (ou mais impactante) jogador de seu time na conquista da Premiere League (campeonato inglês) e nem da seleção espanhola no título da Eurocopa.
Injustiças em prêmios individuais não são incomuns no futebol, contudo, o que leva o efusivo questionamento? A resposta está no comportamento do craque brasileiro. Não são poucos os que dizem que Vini é provocador e, desta forma, irrita adversários dentro e fora do campo. Mas o excelente Renato Senise, jornalista da ESPN, lembrou em post no X do goleiro argentino Emiliano Martinez, considerado atualmente como o maior provocador do futebol mundial, que já venceu duas vezes o prêmio como melhor goleiro.
Qual a diferença entre os dois?
Caetano Veloso em sua essencial “Sampa”, música que homenageia a cidade de São Paulo, saca a genial frase “Narciso acha feio o que não é espelho” numa crítica à dificuldade humana ao entender ou admirar o que não é semelhante. Contudo algumas situações colocam setores da sociedade diante de um espelho e a imagem que aparece não é das mais agradáveis.
O comportamento “inaceitável” de Vini Júnior é colocar um incômodo espelho, com visibilidade mundial, que escancara o racismo de torcedores, jogadores e jornalistas mundo afora. O camisa 7 do Real literalmente dança na cara de racistas após fazer gols, dribla e aponta o dedo na cara de criminosos. De cabeça erguida e afrontoso ele não é conivente com o silêncio que sempre imperou no esporte mais popular do mundo.
George Weah, o primeiro africano a vencer o Bola de Ouro, foi o escolhido para abrir o envelope com o nome do vencedor e entregar troféu na premiação deste ano. O ex-presidente da Libéria não soube disfarçar o constrangimento ao ler o nome de Rodri. Confesso que chorei ao ver o vídeo. Lembrei de algo que minha mãe sempre repetia: não basta sermos tão bons quanto o resto, temos que ser duas vezes melhores