Uma grave situação envolvendo transplantes de órgãos contaminados pelo vírus HIV está sendo investigada pela Polícia Federal no Rio de Janeiro. O caso, que já desperta a atenção de várias autoridades, inclui seis pacientes que receberam os órgãos de dois doadores infectados, e todos testaram positivo para o vírus. A informação foi confirmada pelo Ministério da Justiça e gerou repercussão na imprensa, incluindo a BandNews FM e o portal g1.
Os pacientes afetados estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), que também confirmou a ocorrência e está colaborando com as investigações. Além da Polícia Federal, o Ministério da Saúde, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) também participam da apuração. Especialistas afirmam que este tipo de incidente é inédito no Brasil, levantando sérias questões sobre os protocolos de segurança nos transplantes de órgãos.
O Sistema Nacional de Transplantes adota critérios rigorosos para o rastreio de doadores, seguindo normas estabelecidas em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todos os órgãos doadores devem ser submetidos a testes sorológicos para detectar infecções como HIV, hepatite B, hepatite C, HTLV, entre outras. Além disso, o rastreio leva em conta fatores geográficos relacionados a doenças, como a doença de Chagas, prevalente na América Latina.
Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, classificou a situação como “gravíssima”, destacando que ela compromete a confiança dos pacientes que já enfrentam condições de saúde delicadas. Essa afirmação enfatiza a gravidade do ocorrido e a necessidade de garantir a segurança nos procedimentos de transplante.
O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), responsável pelos testes que resultaram nos transplantes contaminados, está no centro da investigação. A empresa, cujos sócios incluem Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, e Walter Vieira, casado com a tia de Luizinho, recebeu quase R$ 20 milhões em pagamentos entre 2022 e 2024, segundo dados do Portal da Transparência. O ex-secretário, que ocupou o cargo até setembro de 2023, manteve influência na pasta mesmo após sua saída, levantando questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse.
Os primeiros pagamentos ao laboratório foram feitos em agosto de 2022, antes de um contrato formal ser estabelecido, levando a administração pública a utilizar termos de ajuste de contas, prática considerada excepcional pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).