O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição permanente que afeta diretamente os aspectos da comunicação, interação social e comportamento dos diagnosticados. Estima-se que no Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas apresentem os sintomas do transtorno que no geral é identificado na infância, mas também pode ser descoberto na vida adulta em alguns casos. Por se tratar de um espectro, o autismo pode atingir cada pessoa de maneira e intensidades diferentes. Embora não tenha cura, é possível amenizar os déficits de desenvolvimento e linguagem com tratamentos específicos.
O acompanhamento terapêutico, seja na escola, em clínicas especializadas ou mesmo no lar de uma criança com autismo, deve ser regular e contínuo. Portanto, além dos desafios já existentes na educação de autistas, como a falta de inclusão e preparo das instituições educacionais, a necessidade de distanciamento social em decorrência da pandemia da Covid-19 representou uma dificuldade ainda maior para pais e professores.
De acordo com Ana Regina Caminha Braga, psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e Educação Inclusiva, o principal impacto da pandemia na educação de autistas é a paralisação das terapias e as consequências da interrupção de atendimentos especializados. “Autistas precisam do acompanhamento terapêutico adequado para verificar a rotina e saber como está o funcionamento dentro de casa, além de monitorar as questões relacionais e educacionais. Geralmente o acompanhamento diário é promovido na escola, que ajuda na realização das tarefas e na interação com os colegas. A falta de um auxílio atrapalha significativamente a evolução que é moldada no dia a dia”, diz.
Mais do que pausar a evolução, o afastamento das terapias e acompanhamentos durante o período de isolamento pode causar uma regressão no desenvolvimento psicossocial da criança. “Em virtude de eles não terem as atividades escolares sendo reforçadas diariamente, principalmente as que envolvem o aprendizado de conteúdo, acaba acontecendo um retrocesso”, explica a especialista. “A evolução do autistas depende de rotina e sequência. A interrupção deste ciclo pode fazer com que todo o trabalho já desenvolvido se perca”, completa.
Como amenizar os efeitos do distanciamento
De acordo com a especialista, mesmo sem o auxílio presencial da rotina escolar e de acompanhamento profissional, é possível atenuar os impactos do distanciamento. “Neste contexto, é necessário que os responsáveis mantenham o contato com a escola semanalmente, para que esse autista veja o seu professor, mesmo que no formato online, e para que o educador consiga manter o diálogo mais próximo com o aluno, exercitando a rotina de apoios e direcionamentos que ele precisa”, afirma Ana Regina Caminha Braga.
Além disso, quando tratamos das questões sociais, também é necessário tentar manter as relações ativas, mesmo de maneira virtual. “Os pais e responsáveis devem explorar os recursos e ferramentas disponíveis, como as videochamadas, pois é de extrema importância garantir o contato e interação do autista com outras pessoas. É importante que eles não deixem de ver as pessoas que eles gostam, os familiares e amigos. Garantir esses laços afetivos, mesmo que de forma remota, é fundamental”, destaca a profissional.
Para completar, Ana Regina explica que é indispensável manter a criança autista estimulada. “As atividades que devem ser incentivadas nesse momento são as com materiais concretos, como alfabeto móvel e brincadeiras antigas. Também fazer com que essa criança tenha seus momentos de leitura, e reforçar os métodos de comunicação alternativa para que eles possam seguir ampliando a sua fala e interação, procurando sempre atividades com ilustrações. A intenção é explorar a liberdade e interação com os brinquedos e atividades que estão disponíveis em casa”, completa Ana Regina Caminha Braga.