Apesar do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter contestado por diversas vezes as eleições americanas por suspeita de fraude, ao que tudo indica a vitória permanecerá de Joe Biden. A partir deste resultado, será que faz sentido mudar as estratégias de investimento? No médio e longo prazo, como a nova presidência americana irá refletir no mercado financeiro?
Segundo Mariana Gonzalez, Coordenadora do curso “Investindo do Zero” do ISAE Escola de Negócios, apesar dos rumores de que o mercado financeiro receberia mal a chegada do democrata, foi justamente o oposto que aconteceu. Mas para responder as principais dúvidas que permeiam o âmbito das finanças neste momento, a especialista destaca três principais temas da agenda do presidente eleito: tributos, geopolítica e socioambiental.
“A possibilidade do aumento nos impostos em meio à crise da COVID-19 está cada vez mais remota e Biden não tem mostrado intenção de levantar esse tema sem antes endereçar um novo pacote de estímulos à retomada da economia”, aponta. De acordo com a especialista, com mais estímulos e menos impostos, devemos ver uma descompressão sobre a bolsa de valores americana.
Empresas com presenças globais, como Google, Amazon e Apple, não atribuem sua performance apenas ao mercado americano, o que as deixam menos sensíveis a possíveis mudanças na tributação. “Atualmente, qualquer investidor pode acessar esses papéis no Brasil através dos BDRs, que são recibos negociados na bolsa brasileira que representam ações dessas empresas no exterior. Mas atenção: esses ativos estão sujeitos à oscilação do dólar, que já está em patamares bem elevados”, diz. “Difícil saber para onde irá o câmbio, mas a tendência é termos uma acomodação e leve retração daqui para frente”, completa.
Já na questão geopolítica, com postura mais tradicional, porém pragmática, a especialista sugere que Biden deve apresentar um estilo de liderança mais aberto ao diálogo, reduzindo as tensões e favorecendo o comércio global. “Nesse sentido, podemos inferir que países emergentes serão beneficiados, pois são os que tem maior potencial de crescimento”, aponta ela. Com os investimentos cada vez mais globalizados, outra forma de acessar esses mercados é através de fundos de investimento que acompanham os índices de bolsas asiáticas. E para investidores qualificados, existem fundos de gestão ativa de grandes casas internacionais acessíveis aqui do Brasil.
A questão ambiental já vinha ganhando relevância no mundo e a eleição de Biden só aumentou o tamanho do holofote. O índice ESG – do inglês “ambiental, social e governança” – surgiu como forma de avaliação do impacto que uma companhia causa na sociedade e tem sido cada vez utilizado nos critérios de análise do valor de uma empresa ao ponto de alguns analistas já considerarem ser a próxima revolução. “O mercado internacional e consumidores mais exigentes em relação à sustentabilidade farão com que as empresas mais preparadas nesse quesito se destaquem”, afirma.
Em resumo, é esperado que o presidente mantenha seu tom de cautela, menos radical que seus pares democratas, diminua as fronteiras e eleve a bandeira socioambiental. “Entendo que os três principais temas do governo Biden podem ser traduzidos como oportunidades no mundo dos investimentos, com a retomada da economia americana, o crescimento de países asiáticos e a ascensão de empresas engajadas nos fatores ESG”, completa Mariana Gonzalez.