É clichê utilizar a expressão “o recado das urnas” na análise política, mas ao mesmo tempo é difícil fugir deste lugar comum ao avaliar as eleições municipais de 2024. O recado é claro: expressiva vitória do Centrão, com seus expoentes, PSD, MDB, PP e União Brasil; o crescimento da direita, principalmente pelos números do PL; e, por fim, uma derrota flagrante do PT, que fez menos prefeituras que o zumbi do que outrora foi o PSDB.
O Partido dos Trabalhadores, que sempre arrogou para si o monopólio do povo e sua representação não logrou, mais uma vez, êxito nas tentativas de emplacar seus candidatos a prefeito, o partido venceu apenas 17,9% das eleições que disputou. Explicações são várias, e algumas têm certo embasamento, como a relação entre a distribuição dos recursos do orçamento, via emendas (secretas ou não) e o candidato a prefeito apadrinhado pelo deputado, sendo que estes em sua maioria eram do Centrão.
Outro fator, citado por petistas seria a ausência de Lula nos palanques Brasil afora. Há quem diga que a escolha foi estratégica, a fim de não comprar insatisfações em sua nervosa base do Congresso. Outros supõem que o Lula de 2024 não tem o mesmo pique do Lula de 2012, ano que PT fez o maior número de prefeituras em sua história.
O fato é que sem uma significativa ampliação de sua base, Lula e seu partido devem refletir sobre o resultado, partindo principalmente das promessas e premissas postas em 2022, na disputa contra Jair Bolsonaro. A defesa da democracia, repetida como um mantra, desmorona ante à ambiguidade do governo em relação à líderes autoritários de esquerda, como a clara conivência e passadas de pano para o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.
Em 2022, Lula falou em “incluir o pobre no orçamento”, e de fato incluiu, mas as avessas, e o grande símbolo foi a chamada taxação das blusinhas. Além disso, a promessa de proteção ao meio ambiente foi literalmente ofuscada pela cortina de fumaça que sufocou o Brasil nos últimos meses, após uma epidemia de queimadas. Um problemão para quem lançou mão da crítica pesada à inação e refluxos do governo anterior na pauta ambiental. O PT precisa fazer uma correção de sua rota, ou então enfrentará seriíssimas dificuldades em 2026…
Por fim vale atentar às próximas movimentações no tabuleiro dos que mais acumularam capital político nesta eleição: Kassab, presidente do PSD; Baleia Rossi, presidente do MDB; Arthur Lira, presidente da Câmara, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo; e o ex-presidente Jair Bolsonaro. A cada dia que passa, as intenções de cada um ficam mais claras e, de certa forma, todos precisam de todos, mas ninguém confia em ninguém (com razão).
O segundo turno nas grandes cidades vai acabar só no último domingo do mês, contudo, estas figuras diariamente movimentam suas peças na disputa pelo controle da Mesa Diretora da Câmara e na viabilização de candidaturas, palanques e estratégias para a eleição de 2026.