A quarentena costuma ser uma experiência desagradável, pois implica em separação de parentes e perda da liberdade. As notícias sobre os reflexos da pandemia, a mudança de rotina e as restrições para frequentar estabelecimentos, entre outras alterações, podem interferir diretamente na saúde mental de toda a população. E quanto mais longa a quarentena, maior o impacto emocional, causando principalmente sintomas de raiva, ansiedade e esquiva.
Quais os principais estressores durante a quarentena?
Medo da infecção: as pessoas em quarentena apresentam temor pela própria saúde ou de infectar os outros. Isso é ainda mais frequente em gestantes e em famílias com filhos pequenos.
Frustração e tédio: o confinamento, a perda da rotina, a impossibilidade de realizar as atividades do dia a dia e a redução do contato físico e social com outras pessoas frequentemente causam tédio, frustração e sensação de isolamento do resto do mundo. Estes sentimentos podem causar angústia a quem está de quarentena.
Inadequação de suprimentos: a inadequação de suprimentos como água, comida, roupas ou acomodação durante a quarentena é uma fonte de frustração que tem sido associada à ansiedade e raiva. Estes sentimentos podem durar por volta de quatro a seis meses após o término da quarentena. Além disto, a falta de acesso a atendimento médico regular e prescrições médicas também é um problema para as pessoas em quarentena.
Falta de informação: Muitas pessoas que ficaram em quarentena citaram que a falta de informações do poder público é um estressor, referindo insuficiência de orientações sobre ações e o propósito da quarentena.
Finanças: perdas financeiras podem ser um problema durante a quarentena, pois muitas pessoas não podem trabalhar e são pegas de surpresa neste momento, não podendo se organizar financeiramente.
Estigma: o estigma em relação a outras pessoas é amplamente estudado nestes casos, persistindo por um bom tempo após a quarentena. Em uma comparação entre profissionais da saúde que ficaram em quarentena e aqueles que não ficaram, os primeiros relataram maior sensação de estigmatização e rejeição de pessoas nos bairros onde viviam.
O que se pode fazer para atenuar as consequências da quarentena?
Fornecer o máximo de informações para a população: pessoas em quarentena normalmente têm medo de infectar outras pessoas ou de ser infectadas por elas. Muitas vezes as pessoas confinadas têm avaliações catastróficas dos sentimentos experimentados durante a quarentena.
Fornecer suprimentos adequados: As autoridades devem assegurar que as pessoas em quarentena tenham acesso a suprimentos de necessidade básica.
Reduzir o tédio e melhorar a comunicação: O tédio e o isolamento causam angústia e sofrimento. Pessoas em quarentena devem ser orientadas, e medidas objetivas devem ser repassadas para que elas tenham mais condições de lidar com o estresse da situação. É essencial acionar amigos e familiares remotamente.
Um estudo mostrou que disponibilizar uma linha direta com psiquiatras e outros profissionais de saúde mental especificamente para as pessoas em quarentena diminui o senso de isolamento. É importante que as empresas provedoras de internet se preparem para a sobrecarga de seus sistemas, e que ofereçam velocidade mais alta para os lugares em quarentena. É importante também disponibilizar linhas diretas com profissionais de saúde que possam dar informações sobre o que fazer e para onde se dirigir em caso de contaminação.
Profissionais de saúde merecem atenção especial. Assim como a população em geral, eles sofrem efeitos negativos. Os profissionais de saúde acabam sentindo-se culpados por abandonar seus postos de trabalho e de causar uma sobrecarga aos seus colegas. É importante que estas pessoas tenham o suporte de seus colegas mais próximos.
*Dr. Sivan Mauer é médico psiquiatra especialista em transtornos do humor. O profissional é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine, dos Estados Unidos, e doutor em Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
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