Litoral do Paraná registra 314 encalhes de tartaruga-verde em julho; mais de 300 morreram

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Foto: Ana Cláudia Nunes LEC-UFPR

O litoral do Paraná registrou em julho de 2025 um dado que preocupa especialistas: 314 encalhes de tartaruga-verde (Chelonia mydas) foram contabilizados apenas neste mês, representando um aumento de 502% em relação ao mesmo período de 2024, quando ocorreram 52 registros. As informações são do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), coordenado no estado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR), que monitora diariamente as praias entre Guaratuba e Guaraqueçaba.

Segundo a coordenadora do projeto, Camila Domit, a alta no número de encalhes acompanha uma tendência observada nos últimos invernos, mas o volume registrado em 2025 é excepcional. A tartaruga-verde é comum na região em sua fase juvenil e exerce papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas costeiros. Classificada como vulnerável à extinção no Paraná, a espécie está protegida por legislação estadual e nacional, e sua conservação é prioridade de programas como o Plano de Ação Nacional para Conservação de Tartarugas Marinhas.

Durante o inverno, frentes frias alteram as condições oceânicas, provocando queda na temperatura da água, mudanças na salinidade e nas correntes marinhas. Esses fatores afetam diretamente as tartarugas, tornando-as mais suscetíveis a doenças, desnutrição e encalhes. Além das causas naturais, a ação humana agrava a situação: muitos animais resgatados apresentam sinais de ingestão de plástico, interação com redes de pesca e colisões com embarcações. O médico veterinário Fábio Henrique de Lima explica que, na maioria dos casos, múltiplos fatores comprometem a saúde dos indivíduos, aumentando o risco de morte.

Entre os 314 animais encontrados, cinco estavam vivos e foram levados para o Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise da Saúde da Fauna Marinha (CReD/UFPR), onde recebem tratamento especializado. Segundo o médico veterinário Felipe Yoshio Fukumori, o processo de recuperação é delicado e exige protocolos individualizados, visando a devolução segura dos animais ao mar.

O trabalho do LEC-UFPR vai além do resgate. As equipes registram todas as ocorrências no Sistema de Informação de Monitoramento da Biota Aquática (SIMBA), alimentando pesquisas que ajudam a entender a saúde dos ecossistemas marinhos. Para a gerente operacional do PMP-BS/LEC-UFPR, Liana Rosa, o monitoramento é uma ferramenta essencial que conecta ciência, conservação e compromisso ambiental.

A participação da sociedade é fundamental para a preservação da fauna marinha. A Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98) proíbe a captura, ferimento ou molestamento de animais silvestres, prevendo multas e até prisão para infratores. A orientação para quem encontrar um animal marinho encalhado é manter distância, não tocá-lo e acionar imediatamente o PMP-BS/LEC-UFPR pelos canais oficiais.

Com ações coordenadas entre ciência e comunidade, é possível reduzir os impactos, proteger as espécies e contribuir para a preservação do oceano e de sua biodiversidade.

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