A Prefeitura de Curitiba conta com 2.581 mulheres em cargos de chefia e assessoramento. Estas servidoras de carreira são responsáveis pelo gerenciamento de equipes ou pelo assessoramento técnico de projetos. Segundo dados da Secretaria de Administração e de Gestão de Pessoal, este número representa mais de 62% destas funções, que totalizam 4.151 chefias.
Curitiba proporciona as condições para que as mulheres acessem os cargos de chefia. A Prefeitura tem o compromisso da igualdade de oportunidades para as mulheres.
Nas próximas semanas, um comitê intersetorial coordenado pelo Departamento de Saúde Ocupacional voltará a se reunir para debater o tema nas secretarias.
Na avaliação da assessora de Direitos Humanos e Políticas para as Mulheres, Elenice Malzoni, a representatividade feminina na Prefeitura é marcante também no comando das secretarias e órgãos.
“Temos muitas mulheres que estão conduzindo políticas públicas”, observa a assessora de Direitos Humanos e Políticas para as Mulheres.
Levantamento feito com base nas informações disponíveis nos sites das 27 capitais brasileiras mostra que Curitiba tem 12 pastas lideradas por mulheres. É o maior número entre as capitais da Região Sul. Florianópolis tem nove mulheres e Porto Alegre tem uma.
Cidades como Salvador, Vitória e Maceió têm apenas cinco representantes mulheres no primeiro escalão. Cuiabá, três, e Goiânia, duas.
Consideradas todas as capitais, à frente de Curitiba estão São Paulo com 19, Belém com 17. Brasília, que não tem prefeitura, conta com 16. (Lá, as secretarias de estado atendem todo o Distrito Federal, ou seja, Brasília e as cidades satélites.) Fortaleza e Macapá empatam com 13 no comando das pastas.
Dentre tantas mulheres e histórias diferentes, é possível observar algumas semelhanças. São trajetórias de competência e persistência. Elas vivem diariamente o trabalho desafiador de unir, ouvir, acolher e dialogar.
Coração Boa Vista
Pelo 12º ano, a cirurgiã-dentista Janaína Gehr, servidora aposentada da Prefeitura, é administradora da Regional Boa Vista. Ela atribui o reconhecimento que tem na comunidade e dentro da Prefeitura ao amplo conhecimento que acumulou ao longo da vida profissional como dentista e como chefe de unidade de saúde (autoridade sanitária) em seis unidades da Regional Boa Vista.
“Sempre trabalhei nessa região, moro aqui. Além disso, a Saúde me oportunizou essa vivência porque trabalhamos de forma intersetorial e pensando sempre o território onde estamos. Isso me deu uma visão mais abrangente, me deixou preparada para o cargo”, diz ela.
“Como administradora de uma regional, temos que ouvir a população, discutir os problemas. E mais: aqui não existe hierarquia, existem relacionamentos de respeito. Somos uma rede de apoio, uma grande família”.
Ela ressalta ainda que, mesmo depois de tanto tempo de experiência, ela continua aprendendo. “Tenho a oportunidade de crescimento pessoal diariamente”, diz ela.
Janaína lembra que sua trajetória é semelhante à de muitas mulheres brasileiras. “Conciliei o trabalho e a família. Antes de ser administradora, eu trabalhava das 8 horas às 22 horas. Depois da unidade de saúde, eu atendia à noite no meu consultório. Esta é a realidade de todas as mulheres. E tenho muito orgulho do que conquistei como profissional e do que construí em família”, afirma ela, que tem três filhos adultos e um neto.
Orgulho também não falta à autoridade sanitária da Unidade de Saúde Vila Machado, no Pinheirinho, que está à frente de uma equipe de 32 pessoas. Byanca de Cassia Cardozo Kusminski é enfermeira, trabalha há 15 anos na Prefeitura de Curitiba e concilia a carreira no Município com a de professora da rede estadual de ensino. A disciplina que ela ensina é Saúde da Mulher, no curso técnico de enfermagem do Colégio São Pedro Apóstolo.
O desafio da mulher de hoje
“Ao longo do tempo vejo que a mulher soube cuidar do seu corpo mais do que os homens. O biológico está saudável. Mas ela descuidou-se das emoções, da sua saúde mental. A mulher está adoecida e ela precisa mudar isso”, analisa.
Nascida na CIC, Byanca começou sua carreira na Prefeitura na Unidade de Saúde Nossa Senhora da Luz, também na CIC.
"Sempre trabalhei em comunidades desafiadoras”, resume.
Sua experiência de vida também foi determinante. “Pai alcoólatra, padrasto agressor. Sou capaz de identificar rapidamente uma mulher ou uma criança vítima de violência. Minha experiência de vida aguçou a minha capacidade de perceber as outras pessoas”, declara.
Mesmo assim, Byanca diz que sempre foi movida pela crença que tem nas pessoas. “Eu realmente acredito no potencial de cada um, na capacidade de mudança. Minha mãe dava aulas para crianças especiais, sempre falamos de inclusão em casa e isso me faz acreditar que tudo é possível”.
Ela acredita na importância de uma rede de suporte. “Precisamos ter alguns atores nos apoiando. No meu caso, meus pilares foram minha mãe, meu marido e meus três filhos, que hoje têm 18, 21 e 25 anos”, diz ela. Byanca destaca ainda que, dentro da Secretaria da Saúde, encontrou grandes mentoras que a ajudaram.
A gestão de pessoal é um dos maiores desafios para muitas das gestoras da Prefeitura. É assim para Lucilda Sergio da Silva, diretora do Centro Municipal de Educação Infantil São José, no bairro Augusta. Ela é servidora da Prefeitura de Curitiba há 26 anos.
“Uma das coisas difíceis que tive que aprender foi a dizer não. Existem coisas que nós, gestores, não temos como fazer diferente porque respondemos por isso”, alerta.
Ela conta que ficou assustada quando assumiu sua primeira direção. “Fui observada por um ano. Quando me escolheram, meu coração veio na boca. No início, eu carregava pro sono as questões do trabalho. Com o tempo, a gente adquire confiança, aprendemos que nem tudo pode ser mudado, nem tudo depende da gente. E que as coisas que não podem ser como gostaríamos, podem ser transformadas em outras”, ensina.
Lucilda ingressou na Prefeitura como atendente infantil. “Eu tinha só o ensino médio. Aqui tive a possibilidade de crescer e me formei em História. Aqui na Prefeitura só não cresce quem não quer”, resume. “Eu não pensava em ser gestora. Quando entrei, pensei apenas que a carreira na Prefeitura seria uma boa opção de vida. Com o tempo, percebi que poderia crescer”, conta.
Crescer foi um caminho natural para a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Ana Cristina Martins Alessi. Filha de empreendedor, ela abriu sua própria agência assim que saiu da faculdade de Publicidade e Propaganda e, junto com dois sócios, tocou a empresa por dez anos. Ela tinha ainda a vivência do trabalho social na pastoral carcerária.
Mais tarde, em sua primeira experiência como empregada, decidiu estudar tecnologia para poder atender a empresa na área de telefonia onde trabalhava. “Entrei no mundo da tecnologia, mas na minha área, a publicidade, o marketing. Assisti a uma mudança de cultura. O digital entrou na publicidade”, declara.
A visão empreendedora sempre esteve presente.
“E eu nunca tive medo. Se eu não sabia, eu fuçava e procurava enfrentar. Tive sorte, mas também me lancei, estudei muito e me conectei a outras pessoas. Tudo isso me ajudou a crescer”.
Cris Alessi viu de perto transformações no mercado de publicidade, nas agências, nas linguagens da comunicação e participou ativamente do surgimento do marketing digital. “Entrei no mercado num ambiente analógico e acabei participando de uma grande transformação”, conta.
Hoje à frente do Vale do Pinhão, ela declara que deu um salto do ponto de vista profissional. “Estes dois anos aqui foram desafiadores. Aqui são públicos muito diferentes, desde o microempreendedor individual até o unicórnio. É muito empolgante”, diz ela referindo-se às empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Vigorosa trajetória
A enfermeira de carreira e secretária da Saúde Márcia Cecília Huçulak não se incomoda com a fama de obsessiva. “Sou uma pessoa dinâmica, tenho muita energia, cobro da minha equipe, sou determinada e amo o que faço. Podemos transformar vidas”, afirma.
“Eu não me estresso com desafios. Eu adoro. Estou sempre pensando o que posso fazer para melhorar tanto em relação aos pacientes quanto em relação aos processos de trabalho. E acho que, se eu posso fazer algo para ajudar, não posso me omitir”.
A trajetória da servidora que se aposentou em 2019 tem muitos momentos marcantes. Seu primeiro emprego, antes da carreira pública, foi em uma UTI. “Participei do primeiro transplante cardíaco do Paraná, em 1985”, lembra ela, que fez o primeiro concurso público da Prefeitura, no mesmo ano.
Nomeada em 1986, ela conciliou por um tempo a carreira pública com o trabalho na iniciativa privada e viu de perto, em 1987, a primeira epidemia de sarampo da cidade, além de ter participado depois da criação dos primeiros distritos sanitários e da primeira central de leitos.
Também trabalhou no Governo do Estado e assumiu, entre outras tarefas, a coordenação do programa Mãe Paranaense, que reduziu taxas de mortalidade materna e infantil. Além disso, trabalhou em Brasília e pode conhecer diferentes realidades do País.
Por trás do sobrenome ucraniano está a família de origem italiana. “Moramos num condomínio familiar. Meus pais e irmãos moram todos perto. Faço parte de uma família muito feliz e acolhedora”, diz. Além do filho e da família, Márcia valoriza muito a relação com as amigas. “Minhas amizades são uma parte muito importante da minha vida. Tenho amigas que são irmãs.”
À frente das políticas públicas
Também integram o primeiro escalão da Prefeitura de Curitiba as secretárias da Comunicação Social, Mônica Guimarães Santanna, da Educação, Maria Sílvia Bacila, do Meio Ambiente, Marilza Dias, as presidentes da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro, do Instituto Curitiba de Saúde (ICS), Dora Pizzatto, do Instituto Municipal de Turismo, Tatiana Turra, a procuradora-geral do município, Vanessa Volpi, as administradoras da Regional Cajuru, Adriane Cristina dos Santos, e de Santa Felicidade, Simone da Graça das Chagas Lima.