No Rio Grande do Sul, as mulheres desabrigadas pelas recentes chuvas enfrentam um desafio adicional: a ameaça de abuso sexual nos abrigos e nas ruas. Em busca de proteção, muitas recorrem a redes de apoio e locais mais seguros.
Nos abrigos, a situação é alarmante. Disputas para usar banheiros coletivos, colchões próximos a pessoas com antecedentes criminais e relatos de comentários ameaçadores ou abordagens físicas durante a noite são comuns. Essas circunstâncias agravam o sofrimento já causado pela catástrofe climática, destacando a violência de gênero que muitas enfrentam.
Inspirado pelos relatos de abuso sexual após o furacão Katrina nos Estados Unidos, o Instituto E Se Fosse Você, presidido por Manuela d’Ávila, criou espaços de acolhimento específicos para mulheres e crianças em Porto Alegre. Um desses abrigos, no bairro Santana, oferece um ambiente mais seguro e acolhedor.
Com capacidade para 80 pessoas, o abrigo no bairro Santana atualmente acolhe cerca de 50 mulheres e crianças. De acordo com Gabriele Lanot Gottlieb, vice-presidente do Instituto E Se Fosse Você, o abrigo oferece melhores condições, como um chuveiro para cada 40 pessoas, em contraste com outros locais onde a proporção pode ser de um chuveiro para cada 200 pessoas.
Apesar desses esforços, a demanda por abrigos seguros excede a oferta. A advogada Thais Constantin enfatiza a necessidade de um sistema de prevenção eficaz dentro dos espaços de acolhimento para evitar crimes e garantir que as vítimas sejam atendidas por autoridades especializadas.
Denúncias de abusos podem ser feitas através da Polícia Militar (190), Polícia Civil (197), Central de Atendimento à Mulher (180) e Disque Denúncia (181). Além disso, a plataforma SOS RS permite que queixas sejam enviadas anonimamente para os órgãos competentes.
A Secretaria de Segurança do Estado informou que a convivência nos abrigos facilitou a notificação de casos que antes permaneciam ocultos. A polícia tem realizado prisões quando notificações são feitas, embora não tenha divulgado o número de ocorrências. Carolina Aguirre da Silva, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, explicou que uma força-tarefa verifica todas as denúncias e acompanha as famílias, oferecendo apoio psicológico. Crianças desacompanhadas são encaminhadas ao Conselho Tutelar, onde recebem atendimento e encaminhamentos necessários.