Durante participação no podcast XV Cast, promovido pelo XV Curitiba, o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins (PL), abordou com franqueza os desafios enfrentados pela administração municipal no atendimento à população em situação de rua. Em uma conversa marcada por relatos pessoais e análises sobre a complexidade do problema, Martins revelou que a maioria dos casos observados na capital não está relacionada apenas à falta de emprego ou moradia, mas sim a quadros de dependência química e transtornos mentais.
Logo no início da entrevista, o vice-prefeito compartilhou uma experiência pessoal para ilustrar a realidade enfrentada por muitas famílias: ele contou que um de seus cunhados, advogado bem-sucedido, acabou vivendo nas ruas após se envolver com drogas e desenvolver esquizofrenia. Segundo Martins, esse tipo de trajetória demonstra que julgamentos simplistas não ajudam a resolver a questão.
O vice-prefeito ressaltou que a legislação atual impõe limites severos às ações do poder público. “Não é simplesmente chegar e retirar a pessoa da rua. Há questões legais que precisam ser respeitadas”, explicou. Ele afirmou que, embora o ideal fosse encaminhar compulsoriamente usuários de drogas para tratamento — da mesma forma que uma vítima desacordada de acidente é socorrida sem necessidade de autorização —, a legislação impede intervenções dessa natureza sem consentimento, o que, segundo ele, dificulta a resolução mais rápida do problema.
Martins também criticou a comparação entre Curitiba e outras cidades que, segundo ele, muitas vezes realizam ações que viralizam nas redes sociais, mas que não têm efeitos sólidos no médio e longo prazo. “Fazer vídeo é uma coisa; efetivar de forma legal e permanente é outra bem diferente”, destacou.
De acordo com a experiência da Fundação de Ação Social (FAS), entidade responsável pelo atendimento a pessoas em situação de rua em Curitiba, a maior parte dos casos envolve dependência química. Essa realidade cria um ecossistema propício ao tráfico de drogas, agravando ainda mais o problema urbano. O vice-prefeito relatou que muitos usuários de rua ainda recebem o Bolsa Família, mas que, em diversos casos, os próprios traficantes se apropriam dos cartões de benefício para controlar o consumo das vítimas.
Apesar das dificuldades, Paulo Martins destacou que a prefeitura tem intensificado os esforços no atendimento a essa população. Ele afirmou que o número de agentes da FAS que realizam abordagens foi quase triplicado, permitindo contato contínuo com as pessoas em situação de rua. “Uma hora, a pessoa pode dizer sim ao tratamento”, enfatizou, destacando a necessidade de persistência e resiliência dos profissionais envolvidos.
O vice-prefeito detalhou ainda que, ao aceitar o tratamento, o indivíduo conta com diversas etapas de apoio: desde internação em comunidades terapêuticas parceiras, passando pela qualificação profissional gratuita, até o suporte temporário em hospedagem para reintegração ao mercado de trabalho. “Chamamos isso de ciclo completo. É uma entrega verdadeira, não mero assistencialismo”, disse.





