O que deveria ser um insumo básico tem se tornado um fator de risco no campo paranaense: a energia elétrica fornecida pela Copel tem falhado sistematicamente nas regiões produtoras de peixe do Paraná, gerando prejuízos severos, especialmente em tanques-rede de tilápia no Oeste e Sudoeste do estado. Quedas de energia constantes, muitas vezes sem aviso prévio, têm resultado em mortandade em massa de peixes, colapsando a oxigenação dos tanques e estrangulando o setor.
Em março de 2025, uma piscicultora em Sede Alvorada, distrito de Cascavel, perdeu cerca de 60 toneladas de tilápias após quase 24 horas sem energia elétrica. O prejuízo estimado gira em torno de R$ 300 mil a R$ 420 mil. Além do colapso da produção, o restaurante anexo à propriedade teve de ser fechado, ampliando as perdas. “O impacto foi devastador. Perdi a produção e interrompi meu negócio”, afirmou a produtora.
Outros casos semelhantes foram registrados no mesmo ano, como um incidente que resultou na morte de 66 toneladas de peixe em tanques da região. Piscicultores relatam dificuldade em obter respostas da Copel, que nega responsabilidade nos episódios ao atribuí-los a causas externas, como tempestades e quedas de árvores — argumento que tem sido usado para recusar pedidos de indenização com base na Resolução Aneel nº 1000/2021.
A Copel, por sua vez, sustenta que os eventos se deram por fatores alheios ao seu controle e que o fornecimento foi restabelecido dentro de prazos adequados. No entanto, isso não tem evitado perdas. Em Toledo, um criador relatou apagões diários durante uma semana inteira em fevereiro de 2025, o que quase levou à morte de 120 mil tilápias. Ele conseguiu evitar o pior com uso emergencial de geradores, mas teve dois aeradores queimados — e também acionou judicialmente a Copel.
Estatísticas recentes reforçam a gravidade da situação. Em média, o Paraná registrou 30,9 mil interrupções de energia por mês em 2023. No meio rural, 38,7% dos produtores relataram ter enfrentado mais de 20 apagões em um ano, e 41,6% disseram ter tido equipamentos queimados por causa das oscilações. A FAEP/Senar-PR recebeu mais de 50 ofícios de sindicatos rurais relatando falhas de energia e pediu providências urgentes à Copel.
Além disso, deputados estaduais alertaram para a dimensão econômica das perdas: somente em 2023, 28 mil pedidos de indenização por danos rurais foram protocolados, muitos deles relacionados à piscicultura. A estimativa informal da liderança parlamentar aponta para dezenas de toneladas de peixes perdidos em apenas uma temporada na região de Cascavel.
Apesar das cobranças e da mobilização crescente do setor produtivo, a falta de respostas efetivas da Copel agrava a insatisfação no campo, onde cada queda de energia pode significar não apenas um apagão, mas a perda de meses de trabalho e investimento.


