“Agora eu tô bem barbaridade!”. Essa é a expressão usada pelo ex-metalúrgico João Savulski de Souza para comparar os 18 meses que separam sua vida atual, na instituição de longa permanência para idosos Casa do Vovô, no Pinheirinho, do dia em que deixou o ponto de ônibus onde se abrigava, na praça Rui Barbosa, no Centro, em uma kombi da Fundação de Ação Social (FAS).
Savulski, que completa 75 anos de idade nesta sexta-feira (13/7), começou a ser acompanhado pela FAS em abril de 2016, mas nunca aceitou atendimento. Apenas em janeiro de 2017 foi acolhido. Estava com a saúde debilitada, sem higiene, escoriações no rosto e feridas por todo o corpo.
O idoso diz não lembrar do dia 7 de janeiro de 2017, data do resgate, e recorda apenas de sentir “tristeza e desânimo” quando precisava decidir onde se abrigaria do sereno e do frio, noite após noite. Porém, conta que nasceu em Joinville (SC), mudou com os pais para Curitiba aos 6 anos e foi metalúrgico. A Serralheria Iguaçu foi um dos locais onde trabalhou.
Lembra também que faz aniversário nesta sexta-feira e que vai comemorar a data na companhia da equipe da casa e dos outros 19 acolhidos. “Quero ficar nessa casa até morrer porque estou num bom lugar. Minha família é essa”, afirma ele, filho único com poucos parentes afetivamente distantes.
Fazendo planos
A antiga dúvida sobre onde dormir ficou no passado e, agora, deu lugar a um projeto. Em dezembro, Savulski quer se vestir de Papai Noel para animar eventos natalinos. “Ele até me contou que está deixando a barba crescer para isso”, revela a assistente social Ana Vaz, que ainda não sabe onde poderiam acontecer as aparições do personagem. “Vamos avaliar”, diz.
Na Casa do Vovô, que é conveniada à FAS, o futuro Papai Noel divide o quarto número 2 com outros dois idosos. Adornada por uma bonita manta de crochê, sua cama é a mais próxima da janela e a primeira a receber o sol da manhã.
Cuidando da saúde
Discreto e disciplinado, segundo a assistente social, Savulski levanta por volta das 7h e toma café no refeitório. Faz atividades físicas leves em grupo, duas vezes por semana, assistido por uma equipe de enfermagem, e toma banho. Vê um pouco de televisão ou lê e almoça perto das 11h30.
Depois da refeição, é hora do descanso. O colega de moradia Raul Sérgio Jordão, que ainda trabalha e passa parte do dia fora, é o preferido para conversar. “Ele é muito educado e não reclama de nada. Só não gosta de jogar e, agora, se ressente da dor nas costas que já está sendo medicada”, diz Ana.
Sua preocupação, agora, é eliminar essa dor, que ele atribui ao mal funcionamento dos rins. A origem do desconforto, porém, pode ser lombar e está sendo investigada. É o que sugerem os primeiros exames feitos a pedido do médico que o atendeu na Unidade de Saúde Concórdia, situada na rua atrás da instituição.