O ex-prefeito de Curitiba e atual secretário no governo do Paraná, Rafael Greca, participou do XVCast, podcast do portal XV Curitiba, onde abordou o crescimento da população em situação de rua na capital. Durante a entrevista, Greca destacou que a questão vai além da ausência de moradia e está fortemente ligada à dependência química, à desestruturação familiar e a questões sociais profundas, como o desemprego e a vergonha de voltar para casa sem condições de sustento.
Segundo Greca, durante suas últimas gestões na prefeitura de Curitiba, houve um esforço contínuo para acolher a população em vulnerabilidade, especialmente em períodos de frio. “Não chegam a ser 1.800 [pessoas nas ruas], porque, quando faz frio e a gente dá o alerta que, abaixo de 9 graus, ninguém deve ficar na rua, eles vão todos, quase todos. Um ou outro que não vai”, disse. Ele ressaltou que, durante os invernos de suas duas últimas gestões, não houve registro de mortes por hipotermia. “A ideia é não perder nenhum dos desvalidos.”
Durante a conversa, Greca foi categórico ao afirmar que o principal fator que leva muitas pessoas à rua é a dependência química. “Por princípio, o diabo inventou a droga. A droga inventou o mercado da droga. A dependência química… Primeiro, o álcool”, disse, explicando que o alcoolismo frequentemente desencadeia conflitos familiares e leva à ruptura de vínculos. “A pessoa fica difícil para a família, pesa às vezes para a mulher, às vezes para os filhos.”
O ex-prefeito também mencionou situações em que o uso de drogas leva jovens a se afastarem da família para consumir livremente, chegando a explorar pais e avós para sustentar o vício. “Eles vão exigir a televisão, o liquidificador, a batedeira para vender, para comprar a droga”, relatou. Outro fator apontado é o desalento causado pelo desemprego. Ele citou o caso de um rapaz que, envergonhado por não conseguir sustentar a família, fugiu de casa. Após ser identificado pela equipe da prefeitura, foi encaminhado para um emprego na Cotrans, o que o ajudou a recuperar o desejo de viver.
Greca também relembrou a história de um homem em situação extrema de abandono, coberto de sujeira e vivendo dentro de uma caixa telefônica na Praça Rui Barbosa. “Esse homem morava no ponto do ônibus. Passou toda a gestão do Gusttavo Fruet e não fizeram nada com ele. Eu mandei buscar. Hoje ele mora em uma casa-lar, limpinho, arrumadinho, vive com serenidade e amor.”
Além da questão do vício e do abandono, o ex-prefeito também destacou problemas relacionados à ocupação do Centro de Curitiba e ao tráfico de drogas. “Eles querem vender droga, às vezes, na porta da catedral. São apenados, têm tornozeleira, mas querem vender lá porque lá é o ponto”, afirmou, defendendo a necessidade de uma vigilância constante por parte da Guarda Municipal.
Ele também citou o impacto desse cenário para o comércio local. Ao passar pela Rua Vicente Machado, observou um morador de rua dormindo em frente a um restaurante da região. “O dono do restaurante tem direito de que o morador de rua não fique na soleira do seu estabelecimento. Mas isso não é compulsório, não pode ser feito com perversidade.”
Greca concluiu enfatizando que o atendimento à população em situação de rua deve ser feito com sensibilidade e respeito, relembrando o trabalho social desenvolvido por sua esposa, Margarida, durante sua gestão. “A misericórdia é a medida para fazer a acolhida e o acolhimento social. Eles gostam de nós até hoje pelo trabalho da Margarida.”
A entrevista revela a complexidade do problema da população em situação de rua em Curitiba e destaca que a resolução da questão passa por ações estruturais e humanizadas, com foco na saúde mental, no combate à drogadição e na reintegração social.