O Foo Fighters tocava a terceira música na noite deste domingo, 25, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e Dave Grohl já suava. Sua cabeleira chicoteava para lá e para cá, na mesma velocidade que sua mão direita esmurrava as seis cordas do instrumento de corpo azul brilhante com a palheta. "Vocês querem um pouco de rock and roll?", perguntou ele. Ouviu um sonoro "não". O público que se reuniu no estádio transformado em arena – 30 mil pessoas, de acordo com a organização – não queria pouco Queria muito. Queria mais. "Vocês querem muito, então?", gritou Grohl. "Então vamos!"
E Dave Grohl, meus caros, sabe o que faz sobre o palco. Um dos maiores showmen do rock da atualidade, no comando do seu Foo Fighters, o norte-americano é potência e gritos, é suor e êxtase, é calmaria e convulsão.
E bom frontman que é, Grohl não deixa o show esfriar com muito blá-blá-blá inicial. De primeira, ele enfileira canção seguida de canção, como se todas fossem uma coisa só, numa mesma energia, ou sinergia. Com canções de refrões incendiários e contagiantes, o Foo Fighters é uma banda de impacto imediato. É fácil se empolgar com a banda, logo de início. Culpa disso está nas suas músicas de precisão matemática, de explosões nas pontes que precedem os refrões, esses já costumeiramente fervidos. É um método que funciona em arenas como o Maracanã, onde o suor era tanto que a temperatura parecia maior do que indicava no termômetro.
Grohl prometeu canções novas e velharias. O mais novo disco do grupo foi lembrado moderadamente, embora músicas como Run e The Sky Is a Neighborhood tenham funcionado melhor ao vivo do que no álbum Concrete and Gold, lançado no ano passado, sob críticas mornas. "Vocês querem canções do primeiro disco? E do segundo? E do terceiro? Quarto? Quinto? Sexto? Sétimo? Oitavo? Não sei quantos discos nós temos", brincou Grohl ao microfone – são nove, no total, ao longo de 24 anos de existência.
Com a voz entregue, Grohl é uma figura ímpar, de paixão pelo ofício que transpira pelos poros – e isso emociona. Cada show é como o último e assim ele tem feito desde o início do Foo Fighters, em 1994, após a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana Mesmo nos intervalos premeditados e no mise-en-scène anterior ao bis, tudo funciona para acrescentar mais justificativas à tese de que Dave Grohl é o cara "mais legal do rock".
Entrega, essa é a palavra. E o segredo. Entrega e suor. Afinal, é disso que um show de rock and roll é feito. Nessa inédita turnê em conjunto com o Foo Fighters, o Queens of the Stone Age é o peso, força e empuxo. Não tem papo ou agrado à plateia. O que a banda liderada por Josh Homme, que subiu ao palco antes de Grohl e companhia, faz é transformar seu som numa locomotiva em velocidade, incansável, implacável. Que potência! Quanta pancada! Com uma escolha acertada de repertório e sem concessões, o grupo derreteu, música a música, na noite abafada do Rio.
Com o disco Villains lançado no ano passado, a banda decidiu por dar ênfase nos principais sucessos, o que fez sentido. Villains foi um disco controverso, com menos quilos de distorção e a velocidade característica da banda – é um álbum com suingue. Dele, tocaram cinco canções – com destaque para a contagiante The Way You Used to Do e a atmosférica Villains of Circumstance. Mas grande parte da apresentação foi focada nos discos mais aclamados de Homme e companhia: …Like Clockwork (de 2013) e Songs for the Death (2002).
No fim das contas, o calor carioca naquela noite reforçou a potência do Queens of the Stone Age no palco. Músicas como Little Sister, No One Knows, Make It Wit Chu e Go With the Flow parecem ter sido criadas para ambientes assim, quentes, úmidos, furiosos e sem o frescor de um aparelho de ar condicionado ligado por perto.
Diferentemente da conturbada turnê pelo território norte-americano, quando Josh Homme demonstrou destempero e falta de vontade ao microfone – e ainda chutou uma fotógrafa que trabalhava no show -, o Queens of the Stone Age foi destruição em massa.
Emoção
Eles tinham pouco mais de meia hora no palco. Não muito, mas suficiente para criar uma boa impressão. A banda brasileira Ego Kill Talent, escolhida para abrir a noite deste domingo no palco montado no Maracanã, criou sua avalanche particular a partir do único álbum lançado pelo quinteto, no ano passado. Com vigor de sobra e alternâncias climáticas no peso das guitarras, o grupo entrega seu próprio caldo temperado por stoner rock, grunge e metal melódico, criado a partir da vontade de seus integrantes de curtirem o próprio som – o nome da banda vem da ideia de que "muito ego pode destruir seu talento".
Com músicas como Still Here e Last Ride – essa última ganhou um videoclipe há poucos dias, filmado no deserto do Atacama, no Chile – o Ego Kill Talent foi força e peso. A recepção do público foi calorosa, o que emocionou os integrantes sobre o palco. No fim das contas, o Ego Kill Talent entregou o que se espera de uma banda de abertura em shows desse porte: potência e novidade.
A turnê conjunta, com as três bandas, segue para São Paulo (no Allianz Parque, dias 27 e 28 de fevereiro), Curitiba (Pedreira Paulo Leminski, dia 2 de março) e Porto Alegre (Beira-Rio, dia 4).