Depois de 16 meses sem atividade, o tradicional Espaço Klaine, em Santa Felicidade, realizou neste mês o primeiro evento teste utilizando o sistema Check-in Seguro. O programa da Prefeitura de Curitiba permitirá verificar se os frequentadores de um estabalecimento tiveram contato com pessoas que tenham estado no mesmo local, dia e horário e que tenham teste positivo de covid-19 ou que venham a testar positivo posteriormente.
Nesta etapa de testes, o programa Check-in Seguro tem caráter educativo e busca a conscientização dos cidadãos.
Grande parte dos convidados e a equipe de funcionários e de prestadores de serviço foram cadastrados pelo sistema. Na avaliação do proprietário do espaço, o engenheiro Geraldo Klaine, a experiência foi muito boa.
“Estou otimista, pois funcionou. Será a melhor ferramenta para o retorno das atividades”, disse Klaine, que manteve a contratação dos seus 11 funcionários durante toda a pandemia. “Minha equipe é meu maior patrimônio. Eles representam o DNA da nossa empresa”, diz o empresário.
Recuperação econômica
Klaine destaca que o setor de eventos é um segmento importante para a economia. “Nós movimentamos o setor de turismo da cidade, contratamos muitas pessoas que trabalham exclusivamente com a demanda de eventos”, defende.
Segundo ele, que atua neste segmento há 11 anos, a retomada das atividades resultou em alterações. “O setor carecia de mudanças. Agora todos que sobrevivemos à pandemia temos que trabalhar de forma muito profissional, cuidadosa e segura, temos que zelar pela higiene de todos em todas as etapas. Quanto mais seguro, melhor será a recuperação”, analisa.
Ele conta que os eventos voltaram a ser agendados “numa intensidade nunca vista”. “Só temos vagas nos fins de semana em 2023. Por isso, estamos incentivando as pessoas que nos procuram para que façam seus eventos noutros dias da semana, como as sextas-feiras e os domingos, por exemplo”, disse ele.
Ele reconhece que nesta retomada os estabelecimentos têm uma responsabilidade. “Quando você coloca pessoas numa pista de dança, elas tendem a se aglomerar. Nossa maior preocupação é com a segurança.”
O espaço preparou um vídeo que deverá ser usado sempre que a equipe observar que as pessoas estão desrespeitando os protocolos. A mensagem é para lembrar os convidados que é preciso manter o distanciamento e o uso da máscara todo o tempo.
Para evitar que alguém fique impossibilitado de usar o acessório, o espaço também oferece máscaras aos participantes do evento. E quando necessário, os convidados são abordados por alguém da equipe que pede que a pessoa volte a colocar a máscara.
Primeira festa de casamento pós-pandemia
O casal Thiago e Janaína Pereira foi o primeiro a testar o Check-in Seguro na sua festa de casamento. “Dentre os nossos amigos, acho que o nosso casamento foi um dos primeiros desde a pandemia”, contou Thiago, 35 anos, que é engenheiro mecânico. Ele e Janaína, economista de 29 anos, pretendiam celebrar a união em abril de 2020, duas semanas depois de a cidade ter sido colocada em situação de emergência devido à pandemia.
Os noivos chegaram a remarcar a festa outras três vezes. Para viabilizar o evento, diminuíram o número de convidados e o espaço onde a festa foi realizada estava preparado para receber os 160 convidados. A ideia inicial era convidar 250 pessoas.
Segundo Thiago, a dificuldade maior foi em relação ao cadastramento dos que moram fora de Curitiba. “Alguns me perguntaram se seria seguro informar seus dados pessoais, pois eles não são de Curitiba, ficaram receosos de colocar seus dados”, comentou antes da festa.
Casados no civil em maio, Thiago contou o quanto era importante fazer a celebração de forma segura.
“Agora que a maioria está vacinada, todos os requisitos do protocolo foram seguidos e podemos reunir as pessoas de modo mais seguro. A gente queria virar a página e seguir em frente”, comentou o noivo.
Para garantir a segurança de todos durante a festa, o local fez a aferição da temperatura de todos e os convidados recebiam na chegada um recipiente com álcool em gel para uso durante a comemoração. Também havia tapete sanitizante na entrada do salão, no ponto onde os convidados previamente cadastrados faziam o Check-in Seguro. Todas as mesas também tinham álcool em gel. No casamento de Thiago e Janaína, não houve utilização da pista de dança. Todos os funcionários permaneceram com máscara e a proteção facial (face shield).
Novo jeito de cozinhar
A chef de cozinha Natália Konzen trabalha no Espaço Klaine há seis anos e precisou se adaptar às novas formas de cozinhar. “Precisamos mudar a cozinha para fornecer a ventilação e refrigeração ideais. Lá dentro, usamos face shield, máscaras, lavamos as mãos o tempo todo e somos muito cuidadosos com o preparo dos alimentos. Tem que ser dessa maneira, para garantir a segurança”, destaca ela, que coordena uma equipe fixa de quatro cozinheiros, e contrata funcionários adicionais em dias de evento.
“Antes, éramos em mais pessoas na cozinha. Mas hoje os eventos são menores, não recebemos mais 600 convidados como antes, então nossa equipe também é menor, o que permite ficarmos mais distantes uns dos outros”, relatou. Natália faz parte da equipe fixa da casa de eventos e permaneceu empregada durante a pandemia.
Pamela Diniz, porém, compõe o staff contratado somente para a organização dos eventos e precisou se adaptar à suspensão das atividades.
“Se não tinha eventos, eu não era chamada para trabalhar. E como cuido da minha avó, ela também depende da minha renda, eu tive que me reinventar: passei a fazer canecas artesanais para revender durante a pandemia. Agora, com a retomada dos eventos, eu mantive as duas atividades, até porque eles estão acontecendo de forma gradual, com menos pessoas, ainda não está como era antes”, pontuou Pamela.
Ela também conta que os protocolos sanitários têm sido essenciais na retomada, e que se sente segura para voltar a trabalhar.
“Quando as pessoas respeitam os protocolos, podemos nos permitir voltar a fazer algumas atividades com segurança. Aqui, mesmo estando em contato com várias pessoas durante o evento, temos essa segurança. E agora, com o check-in da Prefeitura, temos mais uma medida ao nosso lado, um controle maior, e caso alguém seja contaminado [pelo coronavírus], podemos rastrear e isolar antes que mais pessoas sejam expostas”, relatou Pamela.
Assim como Pamela, Maicon Pires Ramos é parte da equipe contratada para trabalhar somente nos dias de eventos. Ele e a esposa são parte do staff da Klaine Gastronomie e ficaram cerca de um ano e meio sem poder trabalhar. Maicon também é dono de uma barbearia, que foi sua principal fonte de renda durante a pandemia. “Se possível, eu também usaria o Check-in Seguro em meu estabelecimento. Acho que toda medida que ajude a proteger o cliente é válida”, avalia ele.
Ferramenta está sendo descoberta
Além das casas de festas, o Check-in Seguro pode ser utilizado por academias, canchas para a prática de atividades esportivas e restaurantes, que totalizam cerca de 5,5 mil estabelecimentos em Curitiba. O Restaurante Dona Helena, no bairro Alto da XV, atende em torno de 180 clientes por dia, e utiliza a ferramenta há mais de um mês.
O proprietário do estabelecimento, Daniel Esmanhotto, explica que foram distribuídas mais de 90 plaquinhas com o código QR em todas as mesas do restaurante. Na plaquinha também foi incluída uma breve explicação sobre o que é o Check-in Seguro e um passo a passo para utilizá-lo.
“A plaquinha com a explicação foi muito importante, porque o público ainda não conhece o Check-in Seguro, e alguns ficam com medo de usar, de fornecer os dados pessoais. Então muitos ainda não fazem o check-in por medo e desconhecimento, mas com o tempo mais pessoas podem aderir”, conta Daniel.
O cadastro é feito pelo e-Cidadão, sistema de cadastro único do Município, desenvolvido de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), e pode ser usado por residentes e visitantes. Os dados coletados com o check-in serão utilizados exclusivamente e para identificação dos cidadãos com diagnóstico confirmado para covid-19 e monitoramento dos contatos.
Para Esmanhotto, a ferramenta é importante para a retomada dos setores que mais sofreram com a pandemia. “O movimento já tem melhorado, mas não podemos nos esquecer que o vírus ainda está aí, e mesmo vacinados com a segunda, terceira dose que seja, não é hora de relaxar. Os cuidados devem continuar, e o Check-in Seguro foi uma das formas que a Prefeitura encontrou para ajudar na retomada e dar uma proteção a mais para a população”, aponta.