Após ter começado o ano na casa dos 4 reais, a moeda norte-americana está sendo negociada esta semana na casa dos 5 reais, ou seja, uma valorização de 20% em apenas dois meses e meio. Ao testemunhar a escalada meteórica da cotação do dólar, muitos investidores se sentem tentados a migrar seus investimentos para a moeda norte-americana. Porém, antes de qualquer movimento, é fundamental ter clareza sobre o seu objetivo ao investir em dólares. De maneira geral, pode-se dizer que a compra de dólares pode atender a quatro objetivos distintos.
O primeiro seria a aquisição da moeda para uma finalidade de consumo, como uma viagem, uma compra no exterior ou para fazer frente a despesas pessoais ou de um dependente nos Estados Unidos. A segunda finalidade seria com objetivo de proteção, também conhecida pelo termo em inglês “hedge” – como se sabe, a oscilação do dólar tende a ser inversa a da Bolsa de Valores, enquanto um valoriza, o outro desvaloriza. Um terceiro objetivo é a compra de dólares como estratégia de investimentos propriamente dita, ou seja, um ativo a mais para diversificar a carteira do investidor. E o quarto objetivo, naturalmente, seria a possibilidade de ganho no curtíssimo prazo, de poucos dias a poucos minutos.
Para qualquer uma das primeiras três finalidades, a dúvida mais comum é sobre o momento de realizar a compra – comprar agora ou mais adiante? A cotação da moeda vai cair ou subir? Do ponto de vista prático, o ideal é se programar com antecedência e adquirir a moeda norte-americana, no volume desejado, ao longo de um determinado período de tempo – que pode ir de algumas semanas a alguns meses.
Por exemplo, para despesas como uma viagem programada para o final deste ano, o investidor pode estimar o valor que será necessário em moeda estrangeira – 8 mil dólares, por exemplo – e realizar a compra gradualmente, de abril a novembro, formando assim um “preço médio” de compra. O mesmo raciocínio pode ser utilizado para fins de “hedge” e de investimento.
Qualquer que seja o objetivo do comprador, é importante entender que investir em dólares apresenta vantagens, mas também riscos. Por isso, é importante seguir alguns cuidados:
1. Não aplicar em dólares recursos dos quais você possa precisar no curto ou curtíssimo prazo: Como regra de bom senso, não devemos converter em dólares aquele dinheiro que vamos precisar para o nosso fluxo de caixa normal, como despesas do mês e reserva de emergência.
2. Não concentrar seu capital em um único ativo, seja dólar ou qualquer outro tipo de investimento: Uma carteira de investimentos bem estruturada deve ser pensada para atravessar de forma resiliente os mais diferentes cenários ao longo de anos. Isso requer que o investidor inclua diferentes estratégias de investimento, como renda fixa, multimercados e renda variável, de acordo com o seu perfil de investidor e objetivos de curto, médio e longo prazo.
3. Respeite o seu perfil de investidor: O “perfil de investidor” é aquele que você sabe que tem, não aquele que alguém diz que você tem. Se você já tomou alguma decisão de investimentos da qual se arrependeu depois, provavelmente aquela decisão não respeitou o seu perfil naquele momento.
4. Não se arrependa se o dólar subir ou cair. Pode muito bem acontecer de você comprar dólares – ou investir em um fundo cambial – e na sequência a moeda cair; ou de vender seus dólares – ou pedir resgate do seu fundo cambial – e a cotação do dólar subir. Se serve de algum consolo, sua disciplina e persistência serão premiados no longo prazo.
*Laudemir Miyashita é Assessor de Investimentos e Coordenador do GBA “Investindo do Zero” no ISAE Escola de Negócios (www.isaebrasil.com.br).