Manual de gíria curitibana
ADEVOGADO: pessoa formada em direito e aprovada no exame da ordem
ALIMENTADOR: ônibus laranja que faz terminal-bairro, demora em média 78 minutos pra vir e anda no tempo dele
APURE: apresse, como no exemplo “o uber chegou, apure piá” (ver “piá”)
ARANHA MARROM: como chamamos qualquer espécie de aracnídeo. O veneno é capaz de derrubar 10 capivaras adultas segundo a minha vó
ARREGADO: pessoa sortuda ou porção generosa, “olhe que cachorro quente arregado com 3 vinas” (ver “vina”)
ATLETIBA: clássico do futebol que antecede uma semana de depressão
BANANA CATURRA: aquela mais barata cheia de pinta
BARIGUI: maior concentração de gente bonita e de capivaras do sul do mundo
BÉRA: é cerveja, piá tongo (ver “piá” e “tongo”)
BERMA: bermuda, artefato usado só no verão e olhe lá
BISCATE: mulher pegadora, aeroporto de pomba-gira, exemplo: “deu em cima do meu namorado aquela biscatinha”
BOCA MALDITA: fica ali na praça Osório; reza a lenda que foi um ponto de encontro de aposentados fofoqueiros sem nada melhor pra fazer
BOCÓ: pessoa boba ou inconveniente mas sem maldade, só bocó mesmo
BOLACHA: aqui a gente come bolacha, biscoito é de São Paulo pra cima
BORBOLETA 13: figura mitológica, mulher de voz inconfundível que vende sempre o último bilhete, mesmo no início do expediente
CANALETA: pista que deveria ser exclusiva pra ônibus mas onde circulam ciclistas, skatistas e turistas perdidos que não têm a puta ideia de como foram parar ali
CANCHA: quadra poliesportiva onde a piazada se quebra (ver “piá”)
CAPAZ: o mesmo que “sério?” mas com entonação que escrevendo não sei como explicar
CARRO DO SONHO: desde a fundação da cidade repete o mantra “olha aí freguesia é o carro do sonho que está passando é o sonho bem fresquinho sonhos de nata creme chocolate doce de leite e goiaba o sonho freguesia”
CETRA: o mesmo que estilingue, serve pra tacar mamoma na piazada da rua de cima. Piá de prédio não sabe do que se trata (ver “piá de prédio”)
CHAMPAGNAT: bairro fictício porque Bigorrilho ninguém merece
CHINCHA: conversa séria, como no exemplo “chamou o bocó na chincha”
CHINEQUE: pão doce com farofinha crocante por cima, nas variações farofa, creme, banana e goiaba
CHUNCHO: gambiarra ou improvisação feita igual o seu nariz
CIDADE: é como chamamos o centro da cidade, um lugar onde devemos ir arrumados segundo a minha vó
CONVENCIONAL: ônibus amarelo que faz centro-bairro. No centro entre pela porta da frente e respeite a fila caso tenha amor à vida
COXA BRANCA: torcedor do Coritiba, piazada que anda meio jururu ultimamente (ver “jururu”)
COZIDO: bêbado, como no exemplo “guria do céu, tomei um tubão no terminal ontem e fiquei muito cozida” (ver “tubão”)
CRENDIOSPAI: expressão de espanto tipo “Creeedo”, exemplo: "crendiospai 15 pila o quilo do pinhão" (ver "pinhão" e "pila")
CUQUE: bolo seco e fofinho com uma farofinha crocante sensacional por cima, tem gostinho de infância
CURITIBOCA: reclamão para o qual nada nunca tá bom
DA HORA: legal ou interessante, “que da hora essa tua bota, guria!”
DAÍ: palavra coringa que pode ser colocada ao final de toda frase, independente do assunto daí
DE CARA: abismado ou muito puto, “fiquei de cara com aquela biscate, guria”
DE VARDE: à toa, sem nada pra fazer
DECERTO: talvez, exemplo “tava sozinha no bailão, decerto largou aquele jaguara” (ver “jaguara”)
DESCER: ato de ir ao litoral, como no exemplo “desce quando, piá?”
DJANHO: do diabo, chato, insuportável; pode ser um piá do djanho, um frio do djanho ou um cruzamento do djanho, por exemplo
DOLANGUE: mentira, fake new curitibana, o mesmo que migué. (ver “migué”)
ECOVILLE: outro bairro que inventaram porque Mossunguê não vende apartamento
ESTAÇÃO TUBO: ponto de ônibus em forma de tubo de vidro onde param ligeirinhos e biarticulados; só Deus sabe a quantidade de gente que cabe ali
EXPRESSO/BIARTICULADO: ônibus vermelho imenso com 1 ou 2 articulações que roda em canaleta exclusiva; quando faz curva rápida tem um efeito chicote lá no fundão que faz vc se sentir um peão de rodeio
FARNÉU: marmita ou aquela porção que a gente leva numa tapauér depois da festa (ai que horror)
FEIRA HIPPIE: feira de artesanato domingo de manhã no Largo da Ordem, provavelmente a maior concentração de curitibanos por m2 que vc verá
FIAMBRE: apresuntado com especiarias meio suspeitas. Fiambreria é onde vendem frios
FILHO DE CHOCADEIRA: criança com pais ausentes; os jaguaras sempre nos trinques e o piá todo remelento (ver “jaguara” e “piá”)
FRIACA: frio lazarento (ver “lazarento”)
GASOSA: qualquer refrigerante de sabor exótico, tipo framboesa ou sabe Deus mais o quê
GRALHA AZUL: ave metafísica símbolo da região que ninguém nunca viu mas sabe que existe em algum lugar do Olimpo
GURIA: mulher jovem (ou não). Normalmente vem com um adjetivo (guria do céu!) ou verbo no modo imperativo (apure, guria!)
IMPOSSÍVEL: arteiro, bagunceiro, “mas este piá tá impossível hoje, crendiospai”
INTERBAIRROS: ônibus verde que circula só nos bairros; o mais famoso é o Interbairros II, que tem sentido horário e anti-horário. Dica de sobrevivência: preste atenção e pegue o verdão do lado certo senão vai conhecer a cidade inteira
INTER 2: versão Ligeirinho do Interbairros II, diariamente desafia a lei da física que diz que 2 corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço – ocupam sim, tá bom?
JACU: pessoa caipira ou muito tímida. “Jacu do mato” é o jacu com dose extra de jacuzisse
JAGUARA: sem vergonha, cafajeste ou preguiçoso; pode se referir a pessoas ou animais, “mas olhe que gato jaguara, dorme o dia inteiro”
JAPONA: jaqueta grande com zíper sem a qual não haveria vida nesta cidade. A típica mãe curitibana não deixa o piá sair de casa sem ela
JURURU: ou borocoxô, pessoa amuada, cabisbaixa ou quieta num canto
LAGARTEAR: tomar sol, costume que garante a preservação da vida neste lugar durante o inverno
LARGAR OS BETS: quando a gente desiste de algo – de uma guria, da dieta ou simplesmente de esperar o maldito alimentador
LAZARENTO: forma genérica e até carinhosa de xingar, que vale pra amigos, inimigos, animais e fenômenos quaisquer. “que trânsito lazarento”; “gato lazarento, pegou meu bife”; “olhe que lazarento, fez churrasco e não convidou”
LEITE QUENTE: frase emblemática que identifica o sotaque curitibano por meio da pronúncia impecável da vogal E (nossa, emocionado aqui)
LIGEIRINHO: ônibus cinza que só para em estação tubo. O povo entra e sai pela mesma porta, então cada tubo é um duelo entre uma manada de búfalos e uma de rinocerontes
LINHA VERDE: é o trecho da BR116 que corta a cidade, foi toda repaginada, tá top, mas é melhor evitar (fica a dica)
LOQUE: pessoa doida, inconveniente ou pentelha. A forma correta de xingamento é “seu loque!”. “Tirar pra loque” significa fazer de besta
MALACO: piá meio loque com a barba cheia de cotoco e vestido igual um indigente
MIGUÉ: mentira ou enganação. Miguezeiro é o praticante de migués
MIMOSA: nome genérico pra mexirica, bergamota, poncã e tangerina – aqui é tudo mimosa daí
NO GALETO: fazer algo rapidamente, exemplo: “guria do céu, o expresso desceu no galeto e quase que pega o piá”
OILMAN: figura mitológica, homem que desfila de sunguinha, besuntado e empurrando uma bicicleta. Aja com naturalidade e não fique olhando igual um jacu do mato
ORDENADO: salário, exemplos: “gasta o ordenado todo com cachaça o lazarento”; “não é assim um ordenadão mas tá bom”
PALHA: coisa desinteressante ou chata, “aquela série nova da Netflix é palha, piá”
PÃO D'ÁGUA: tipo pão francês mas em formato de bundinha
PESCOÇO: pessoa enxerida. A forma mais comum de xingar é “ê pescoção!”. Pescocear é dar uma volta para obter informações
POLACO: pessoa de cabelo claro ou branquela, normalmente antecede os adjetivos “do djanho” ou “jaguara”
PENAL: estojo de lápis e caneta de uso escolar, mas que costuma abrigar bolacha mole, chiclete usado e brilho labial
PIÁ: como chamamos indivíduos do sexo masculino, sem limite de idade. Admite as variações piazinho, piazão e piazada, que é o plural
PIÁ DE PRÉDIO: pessoa mimada que não come coraçãozinho de frango e não sabe soltar raia (ver “raia”)
PILA: unidade monetária, exemplo: “quanto tá o chineque de banana piá? Tá 2 pila cada”
PINHÃO: semente da araucária que vc vai comer de maio a agosto mesmo sem gostar e cuja colheita fora de época pode lhe render uma condenação perpétua inafiançável
POSAR: escrita correta do verbo pousar, é dormir na casa de alguém
RAIA: pipa. Piá de prédio nunca soltou uma e jamais saberá o desespero quando a diaba desprende e voa para o infinito
RAPOSINHA: marsupial primo do gambá que a gente chama de raposa porque ninguém nunca descobriu o nome desse bicho
REFRESCADA: dizemos “deu uma refrescada” quando a temperatura está perto de zero grau
ROLLMOPS: peixe enrolado no picles e preso com palito, chega a dar medo
RUA DAS FLORES: é a rua XV de Novembro, corta o centro, é minha e mandei ladrilhar
SERRAÇÃO: neblina. Aqui temos o ditado “neblina que baixa, sol que racha”
SINALEIRO: sinal ou semáforo, onde verde é “venha”, amarelo é “apure” e vermelho é “será que dá tempo?”
SUBIR: retornar do litoral, exemplo: “aproveite e suba com o tio, piá”
TERMINAL: onde fazemos conexão sem pagar outra passagem. É uma terra sem lei onde só os mais fortes acham lugar pra sentar
TESÃO PIÁ: “que legal”, é tipo um mantra na terra das araucárias
TIGRADA: piazada arruaceira, melhor passar de largo e não fazer contato visual
TONGO: lerdo, burro ou ingênuo. Tongo véio é o tongo reincidente na tonguice
TORÓ: temporal, comum o ano inteiro, surge do nada e sempre quando vc esqueceu a sombrinha
TRINCHEIRA: túnel, promessa típica de políticos dolangueiros (ver “dolangue”)
TUBÃO: refrigerante com bebida alcoólica barata, drink típico servido numa garrafa pet, uma visão do inferno
VIA RÁPIDA: avenida com no mínimo 3 pistas, cuja regra é o inverso de uma autoestrada: veículos rápidos à direita, lerdos no meio e workshop de baliza à esquerda
VINA: não é o mesmo que salsicha, já que salsicha não existe. Cachorro quente bom leva sempre duas vinas
VOLTE-MEIA: com certa frequência, exemplo: “volte-meia essa biscatinha aparece aqui”
XAROPE: chato ou entediante, “guria do céu, este texto xarope não termina nunca”
Prova final sem consulta – decifre a frase: “Apure piá tongo que aquele alimentador do djanho tá vindo no galeto daí”
Solan Valente