Com o Dólar batendo recordes de valorização ante o Real nas últimas semanas, o debate sobre a economia, especialmente sobre a situação fiscal brasileira, voltou com força. Não por acaso.
Recentemente, Felipe Salto, ex-Secretário da Fazenda do Governo de São Paulo, e Gustavo Franco, ex-Presidente do Banco Central, dois dos economistas mais respeitados do Brasil, escreveram artigos, cada um à sua maneira, com um alerta: a conta não fecha. Salto clama pela coragem outrora demonstrada por Mário Covas; Franco denuncia um ajuste fiscal que é pouco mais do que retórica.
Felipe Salto busca o exemplo do Estado de São Paulo dos anos 90. O então Governador Mário Covas enfrentou sindicatos, um lobby fortíssimo, corporativismo e um cenário de caos financeiro para impor um ajuste fiscal indigesto, mas necessário. Não é o caminho fácil, mas é o caminho possível. Para Salto, falta hoje o que Covas teve de sobra: coragem para romper o ciclo de irresponsabilidade fiscal e enfrentar os problemas estruturais.
Na avaliação de Salto, o pacote de ajuste fiscal apresentado pelo Governo Federal é um primeiro passo, mas é insuficiente. O Brasil ainda se nega a mexer onde realmente importa: nas despesas indexadas, nos incentivos tributários que esvaziam o orçamento e nos supersalários que zombam do contribuinte.
Já Gustavo Franco não economiza críticas. Para ele, a política fiscal brasileira tornou-se um conjunto vazio de promessas sem entrega. O foco exclusivo no aumento de arrecadação é paliativo, quase que um placebo. Enquanto isso, os gastos seguem crescendo, intocados, alimentando uma máquina pública ineficiente e insaciável.
O descompasso entre as políticas fiscal e monetária completa o quadro. A expansão fiscal pressiona a inflação, os juros e o câmbio, em um círculo vicioso que penaliza o país inteiro. Franco não enfeita: sem cortes efetivos, a política fiscal é uma ficção que não sobreviverá à realidade.
Apesar de Salto e Franco partirem de ângulos distintos, há convergência em um ponto óbvio: não há espaço para improvisação. A situação fiscal do Brasil exige ações concretas e coragem para mexer onde todos fingem não ver.
De um lado, Salto nos lembra que o ajuste fiscal demanda compromisso político e enfrentamento: Covas é o exemplo. Do outro, Franco aponta a debilidade do ajuste atual ao expor um governo que não esconde a sanha arrecadatória. Ambos sinalizam a mesma urgência: enfrentar os gastos públicos com seriedade.
O impasse fiscal brasileiro é mais do que um problema de planilha. É um teste de caráter político e um alerta sobre os limites do improviso. Não há ajuste sem custo, e não haverá solução sem enfrentar privilégios, rever incentivos, subsídios e reformar a máquina pública.
Como demonstrou Covas, coragem política não é uma questão de popularidade. É sobre compromisso com o futuro, um compromisso que parece faltar. Entre o vazio denunciado por Franco e a coragem evocada por Salto, o Brasil segue patinando, à espera de lideranças que saibam tomar decisões difíceis.