A partir de 27 de março, Curitiba passa a contar com um novo complexo cultural. O Cine Passeio, na esquina das ruas Riachuelo e Carlos Cavalcanti, no Centro, tem a proposta de trazer de volta a concepção dos cinemas de rua e ser um espaço de formação audiovisual e de inovação na área da economia criativa.
A inauguração, às 19h30, faz parte das comemorações do aniversário de 326 anos da cidade, e será marcada por uma série de atrações.
“A ideia é fazer desse lugar um ponto de encontro das pessoas, a meio caminho entre a Universidade Federal, o Passeio Público, o Solar do Barão e o Centro Histórico", destaca o prefeito Rafael Greca. "O velho quartel foi revitalizado para evocar os antigos cinemas de rua que fazem a lenda do século 20 e da Cinelândia curitibana. Pela cultura vamos renovar definitivamente a Rua Riachuelo para que sirva ao bom uso de todas as famílias de Curitiba”, diz.
O investimento no projeto, que levou aproximadamente dez anos para ser concluído, é de R$ 9,5 milhões, recurso captado pela Prefeitura por meio de comercialização de cotas de potencial construtivo. Com área de 2.597 m², o Cine Passeio ocupa uma edificação histórica, classificada como Unidade de Interesse Especial de Preservação (UIEP), que foi totalmente restaurada e adaptada para receber as atividades culturais dentro do programa Rosto da Cidade.
O Cine Passeio passa a ser uma nova unidade da Fundação Cultural de Curitiba dedicada à linguagem audiovisual, assim como a Cinemateca e o Cine Guarani. A administração do espaço está a cargo do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac).
“O Cine Passeio representa a vitalidade de Curitiba na área cultural. É fruto de um esforço conjunto para valorizar a nossa produção artística e oferecer um espaço agradável do qual todos os curitibanos podem se orgulhar. Não poderia existir presente melhor para a cidade”, diz a presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro.
Segundo o diretor executivo do Icac, Marino Galvão Jr., o Cine Passeio terá, do ponto de vista da gestão, o mesmo tratamento de outros espaços administrados pelo instituto, como a Capela Santa Maria. “Os excelentes resultados de performance artística e de gestão cultural alcançados em outras áreas agora serão aplicados na linguagem audiovisual, possibilitando um retorno mais rápido à sociedade”, destaca o diretor.
Salas Luz e Ritz homenageiam antigos cinemas. No terraço, filmes a céu aberto
O complexo tem duas salas de cinema para exibição de filmes em sessões diárias. As salas Luz e Ritz foram assim denominadas em referência aos dois antigos cinemas mantidos pela Fundação Cultural – o Cine Luz, que funcionou na Praça Zacarias e depois na Praça Santos Andrade, e o Cine Ritz, que ficava na Rua XV de Novembro.
Com capacidade para 90 pessoas, as salas possuem os mais modernos equipamentos de projeção e sonorização existentes no mercado. São dotados de tecnologia para recepção de filmes em formato DCP (digital cinema package), com alta qualidade de desempenho, possibilitando inovação ao setor audiovisual.
Já a partir do dia 28 de março, as duas salas estarão em funcionamento. Com curadoria de dois especialistas, o crítico de cinema Marden Machado e o cineasta Marcos Jorge, a programação será montada com produções disponibilizadas pelas distribuidoras comerciais. As cinematografias clássica e contemporânea, além de mostras especiais, serão contempladas na programação.
O complexo tem no subsolo uma área dedicada às ações de formação, que recebeu o nome de Espaço Valêncio Xavier, homenagem ao escritor, cineasta e criador da Cinemateca de Curitiba, falecido em 2008. Conta com uma sala multiuso (Estúdio Valêncio Xavier), com 110 lugares, também dotada de modernos equipamentos, com projetor móvel e tela retrátil.
No mesmo ambiente funcionará a Sala Video On Demand (VOD), que se refere ao consumo de conteúdo digital com escolha do usuário, como por exemplo Netflix e Amazon. Com tela 4K de 86 polegadas, o local possibilitará o acesso a diversos conteúdos digitais.
No piso está instalada também a segunda unidade do Worktiba, primeiro coworking público do Brasil criado para atender a necessidade de pequenos e microempreendedores. Esta unidade terá como foco a economia criativa, o audiovisual e a inovação.
O segundo pavimento, onde também está a Sala Ritz, dispõe de uma área para cursos na área do audiovisual, que pode ser locada e utilizada por produtores independentes, parceiros estratégicos, como a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), a Associação de Vídeo e Cinema do Paraná (Avec) e o Sindicato da Indústria do Audiovisual do Paraná, e também pelo público em geral.
Um cinema a céu aberto também faz parte do complexo do Cine Passeio e funcionará no terraço, que dispõe ainda de uma área para eventos. Esse local poderá ser utilizado para atender eventos ligados às áreas de economia criativa (design, moda autoral, gastronomia).
Junto à entrada do Cine Passeio, na Rua Riachuelo, e no mesmo no mesmo piso da Sala Luz, funcionará uma cafeteria, que trabalha com produtos selecionados da região de Curitiba (cafés, vinhos e cervejas artesanais).
Projeto preservou características do imóvel histórico
O prédio foi construído em meados da década de 1930 para abrigar setores administrativos do Exército e assim funcionou até aproximadamente o final da década de 1990. Ele é de propriedade do município desde 2010, ano em que foi transferido para a Fundação Cultural de Curitiba para que fosse desenvolvido ali um projeto de restauração em conjunto com Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
Por estar inserida no eixo histórico Barão-Riachuelo, a edificação do antigo quartel foi cadastrada como UIEP, quando então, em 2012, iniciou-se o processo de captação de recursos por meio de troca de potencial construtivo, a fim de viabilizar a proposta de criação da nova unidade cultural.
Paralelamente foram iniciados os estudos e projetos arquitetônicos para a revitalização do espaço, feitos pelos arquitetos Dóris Teixeira e Mauro Magnabosco, do Ippuc. O projeto preserva as características externas e a volumetria do imóvel. Aproveita grande parte da estrutura de alvenaria, as divisões internas e também portas e esquadrias, que foram recuperadas. Foram refeitos todos os sistemas elétrico, hidráulico, de lógica e de drenagem. O prédio está plenamente adequado em termos de acessibilidade e segurança.
Revitalização
O Cine Passeio, além de trazer de volta à cidade a proposta dos cinemas de rua como alternativa à profusão de salas em shopping centers, se insere em programas de revitalização do centro histórico da cidade, e atualmente no programa Rosto da Cidade, lançado pela Prefeitura para recuperação de prédios históricos.
O diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Beto Lanza, chama atenção para o contexto mais abrangente da proposta do Cine Passeio. “É mais um exemplo de que Curitiba está na vanguarda das soluções urbanas”, diz. “O Cine Passeio traz qualidade de vida para aquela região, valoriza a paisagem, pensa no cidadão e no seu direito de acesso à cultura e ao patrimônio histórico. Além disso, cria um ambiente para o porvir, no estrito sentido da palavra, possibilitando que a atual geração, que não conheceu os cinemas de rua, possa aproveitar e experimentar esse ambiente, e também criar e produzir inovação a partir da linguagem do cinema”, afirma.
Na inauguração, fachada vira tela e homenageia a história do cinema
Para a inauguração, a Rua Riachuelo será interditada, pois a festividade começa do lado de fora do prédio. A própria fachada, totalmente branca, se transforma numa tela para a projeção de imagens que fazem referências à história do cinema mundial, incluindo cenas da cinematografia curitibana.
Este happening tem direção e roteiro de Edson Bueno e uma trilha sonora feita especialmente para o evento pelo produtor musical e sound designer Vadeco Schettini.
Após o descerramento da placa pelo prefeito Rafael Greca, os convidados serão levados a conhecer o prédio. Estão previstas exibições de trailers da programação, inauguração do Espaço Valêncio Xavier, abertura da exposição sobre os cinemas de rua de Curitiba e uma homenagem ao cinema italiano que inclui apresentação da Orquestra à Base de Corda.
Alexandre Nero e Maria Flor participam da abertura
O Cine Passeio estará aberto ao público a partir do 28 de março, às 19h. O filme de estreia da programação é Albatroz, com exibição simultânea, nas Salas Luz e Ritz.
Para comemorar o início das projeções, estarão presentes o diretor do filme, Daniel Augusto, e os atores Alexandre Nero e Maria Flor. O filme conta a história de um fotógrafo atormentado após registrar um atentado terrorista. No elenco estão também Camila Morgado, Andrea Beltrão e Andréia Horta. Os ingressos estarão à venda no local.
No dia 30 de março haverá um evento especial no Espaço Valêncio Xavier, sendo prestadas homenagens ao fundador da Cinemateca com a presença de seus familiares. Na ocasião será aberta uma mostra de filmes de Glauber Rocha.
No mesmo dia, será apresentado o projeto Cinco Sentidos, com a exibição do filme Estômago, de Marcos Jorge, no cinema a céu aberto localizado no terraço do Cine Passeio. As comemorações continuam até o fim da semana, com a realização da primeira sessão da meia-noite, na sexta-feira, dia 29, que acontecerá uma vez por mês, e com a matinê para crianças, no domingo, dia 31, às 10h30, que ocorrerá duas vezes por mês. Os filmes a serem exibidos nessas sessões estão em definição.