Reconhecida como cidade inteligente e inovadora pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Curitiba compartilhou suas experiências de sucesso no controle de desperdício, recuperação de recursos naturais e produção sustentável de alimentos, nesta quarta-feira (18/8), na Cúpula Mundial de Economia Circular. O fórum internacional teve transmissão pela internet e foi uma iniciativa da cidade de Córdoba, na Argentina.
"Entendemos que a economia circular precisa de uma nova perspectiva de governança, com um vínculo entre a redução do desperdício e os aspectos de sustentabilidade. Tudo para tornar as cidades mais inteligentes e inclusivas", afirmou o prefeito Rafael Greca, que falou no evento por videoconferência.
Curitiba foi a única cidade brasileira presente à cúpula internacional de economia circular e Greca participou do painel de abertura com prefeitos da Argentina e do México.
O debate, com mediação do jornalista Guilherme Lobo, também reuniu Martín Llaryora, prefeito de Córdoba (Argentina); Emilio Jatón, prefeito de Santa Fé (Argentina); Pablo Javkin, prefeito de Rosario (Argentina); Ulpiano Suarez, prefeito de Mendoza (Argentina); Karla Burguete Torrestiana, prefeita interina de Tuxtla Gutiérrez (México); e Horacio Rodriguez Larreta, chefe de governo de Buenos Aires.
Greca detalhou iniciativas da capital que seguem conceitos da economia circular e, entre as pioneiras experiências de Curitiba em logística reversa, um dos pilares da economia circular, ele lembrou que o programa de reciclagem de resíduos da capital começou na década de 1990 e agora está dando os próximos passos.
“O programa EcoCidadão utiliza o conceito 'reciclar, reaproveitar e reduzir', reunindo mais de 900 catadores em 40 associações com apoio econômico e capacitação. Essas cooperativas recebem mais de 1.700 toneladas por mês de material reciclável”, contou o prefeito.
O Bairro Novo da Caximba, com grande impacto social e ambiental, foi apresentado como iniciativa de Curitiba também com foco na promoção da economia circular local. "Como fica na zona de inundação de dois rios que se cruzam, esse projeto de reurbanização urbana prevê um parque nacional protegido, baseado na gestão de inundações, além de polos multifuncionais para o intercâmbio sócio-cultural nas fronteiras urbano-verdes", justificou Greca.
Revolução solar
O prefeito lembrou que o Palácio 29 de Março, sede da Prefeitura, foi transformado no Palácio Solar, com a instalação de 439 painéis solares no telhado, que ajudam a reduzir a emissão de CO2, o consumo de energia e os gastos dos cofres públicos. “A revolução solar da cidade, prevista no Programa Curitiba Mais Energia, já começou a virar realidade e muito mais será feito para tornar a cidade cada vez mais circular”, reforçou.
Até o fim de 2024, a capital irá adotar novas matrizes energéticas, com tecnologias sustentáveis apoiadas por organizações internacionais como a C40 (rede de cidades comprometidas com o enfrentamento das mudanças climáticas) e agência de cooperação internacional do governo alemão (GIZ).
O antigo aterro sanitário do bairro do Caximba, por exemplo, vai ganhar uma inovadora usina pública de energias limpas e renováveis – o primeiro projeto do gênero na América Latina. "Localizada no aterro desativado em 2010, a chamada Pirâmide Solar do Caximba terá painéis de energia solar fotovoltaicos", disse Greca.
Também estão em desenvolvimento, com o apoio do Grupo C40, os projetos de implantação de usinas fotovoltaicas na Rodoviária de Curitiba e nos terminais de ônibus do Pinheirinho, Santa Cândida e Boqueirão. Além disso, o novo Inter 2 terá ônibus elétricos e pontos com paineis fotovoltaicos.
“Com a adoção de ônibus elétricos, 33% da frota terá emissão zero de carbono até 2030 e chegaremos a 100% em 2050”, previu o prefeito.
O projeto Caminhar Melhor, que prevê revitalização de calçadas, requalificação de vias e implantação de 200 quilômetros de ciclovias até 2024, e o programa de plantio de 100 mil árvores, que contribui para auxiliar no armazenamento de água da chuva, diminuir o estresse causado pelo calor e aumentar a qualidade do ar e a biodiversidade, também foram citados como ação de economia circular da cidade para melhorar a qualidade de vida da população e recuperar recursos naturais.
Fazenda Urbana
Já as ações de Curitiba para o incentivo à produção de alimentos de maneira saudável, com estimulo ao plantio comunitário, redução de desperdício e aproveitamento integral, foram destacadas com a apresentação da Fazenda Urbana de Curitiba, das 100 hortas urbanas com apoio da Prefeitura e o Programa Ciclo do Alimento, de redução de desperdício em feiras, mercados e sacolões públicos, uma parceria do município com universidades brasileiras e Royal Institute of Technology (KTH) da Suécia.
“Conectados com a natureza, os cidadãos de Curitiba são estimulados a plantar os seus alimentos, consumir integralmente, diminuir o desperdício e colocar a mão na terra para reduzir o estresse do dia a dia”, argumentou Greca.
O prefeito destacou ainda que, quando falamos em construção sustentável, com desperdício reduzido de materiais de construção, Curitiba possui 20% de edificações com certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) no país. “Além disso, até 2023, a capital ganhará seu primeiro prédio público inteligente, com certificação LEED que credencia os chamados edifícios verdes ao redor do mundo”, frisou. O futuro edifício, com coworking, Fab Lab e espaço para eventos, ficará no complexo do Engenho da Inovação, no bairro Rebouças.
Exemplo
Anfitrião da Cúpula Mundial de Economia Circular, Martín Llaryora, prefeito de Córdoba, abriu o fórum lembrando que a economia circular surgiu como uma alternativa ao modelo de economia linear que segue a lógica de “extração, produção, uso e descarte”. De acordo com ele, sob a ótica da economia circular, governos, empresas e cidadãos se unem para dissociar a atividade econômica do consumo de recursos finitos. "Com a transição para a economia circular busca-se eliminar resíduos e poluição desde o princípio, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais. São grandes desafios", reforçou ele.
Llaryora parabenizou Curitiba pelos projetos de economia circular em desenvolvimento e disse que a capital paranaense é referência para toda a América Latina. “Curitiba é líder absoluto e exemplo para as cidades que querem adotar a economia circular”, frisou.
Também participaram da abertura e painéis da Cúpula Mundial de Economia Circular Gunter Pauli, economista e ativista belga autor do livro “A Economia Azul”; Peter Heck, CEO do Instituto de Gerenciamento de Fluxo de Material Aplicado (IFAS) da Alemanha; Petar Ostojic, CEO e fundador do Centro de Inovação e Economia Circular (CIEC) no Chile; Tom Szaky, diretor executivo da ONG de economia circular Loop da Austrália; Michael Oliveira, representante do Ellen MacArthur Fundation dos Estados Unidos; e Fernando Rodrigo Asencio, subsecretário de Assuntos Nacionais do Governo da Argentina.