Curitiba tem 320 mil árvores nas vias públicas. Isso representa mais ou menos uma árvore para cada seis habitantes, com uma flora de espécies variadas que compõem a paisagem da cidade com o verde e as cores. A pura e simples sombra, a contabilização de áreas verdes por habitante (os curitibanos têm 60m²/hab), a retenção do dióxido de carbono (CO2) e o fornecimento de oxigênio (O2) são benefícios conhecidos e rapidamente lembrados quando se trata de árvores.
Mas para além disso está a contribuição da arborização contra o aquecimento global, fator potencial de desequilíbrio do clima que tem gerado calor e chuvas em excesso. Outro fator importante de auxílio das árvores no ambiente urbano está na drenagem da água. Isso é de grande relevância no cenário atual, considerando a alta taxa de impermeabilização do solo nos centros urbanos.
De acordo com cálculos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para cada grau acrescido na temperatura há o aumento de 10% na quantidade de chuva precipitada.
Em contrapartida, especialistas apontam que as árvores ajudam a reduzir em até 10% o consumo de energia porque as folhas e as raízes contribuem para um efeito denominado moderação climática com a liberação de umidade. Uma árvore sozinha seria capaz liberar 150 mil litros de água no meio ambiente por ano.
Em se tratando de arborização, o cenário de Curitiba é dos mais variados. Convivemos com um pouco de tudo. Desde a nativa Araucária Angustifolia, símbolo do Paraná e de sua capital dos pinhões e pinheirais, às corticeiras de quase 80 anos que resistem nas bandas da Avenida Iguaçu, aos Alfeneiros e as Tipuanas, plantios dominantes nas décadas de 70/80, a paisagem verde da cidade têm se renovado com o passar do tempo.
Nas últimas décadas, passaram a compor a paisagem curitibana, os ipês amarelos e roxos, angicos, dedaleiros, as floridas extremosas e quaresmeiras e as frutíferas pitangueiras e araçás, entre outras espécies.
Porte e função
“Na arborização pública o porte mínimo de uma árvore é de 1,80m, de forma a permitir a acessibilidade de quem caminha ao seu redor”, explica o engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Roberto Salgueiro. A área permeável desejável no entorno de uma árvore é de 1m², segundo o especialista, e a mínima de 80cm por 80cm.
São várias questões a considerar, segundo o especialista, quando se trata de plantar árvores na cidade. Desde o porte, a profundidade das raízes, a suscetibilidade a pragas, locais de plantio entre outros aspectos. “Na mata ciliar em áreas de fundo de vale a predominância é de espécies nativas diversas com a função de evitar a erosão e reter a água”, explica Salgueiro que há 39 anos se dedica à renovação da arborização de Curitiba.
Entre algumas das espécies que ajudam a drenar a água nas beiras dos rios da cidade estão a branquilha, aroeira, araçá, vacum, açoita cavalo e pitangueira.
De acordo com Salgueiro, a garantia da vitalidade na relação de benefício da arborização no ambiente urbano, está na renovação do plantio. “Uma árvore quando está muito velha já cumpriu a sua função ambiental e precisa ser renovada porque oferece risco de queda e acaba sendo vetor de pragas. Um novo plantio, de uma nova espécie, faz renascer a função ecológica”.
Certamente não é por coincidência que o sobrenome do agrônomo do Meio Ambiente e hoje responsável pelo Horto da Barreirinha seja homônimo de uma árvore. “Das 320 mil árvores das vias públicas de Curitiba já plantei 308 mil nesse tempo de serviço. Em 19 de junho completo 39 anos de Prefeitura. Até lá pretendo chegar a 310 mil árvores”, diz Roberto Salgueiro.
Foto:daniel Castellano/SMCS