CMC – A Câmara Municipal de Curitiba aprovou, em votação simbólica realizada na sessão desta segunda-feira (19), com 10 votos contrários e 1 abstenção, moção de repúdio ao comediante Dihh Lopes, por piadas com a capoeira feitas em um show de stand-up. Autor do requerimento (060.00002.2018), o vereador e capoeirista Mestre Pop (PSC) defendeu que o humorista “desrespeitou” o esporte.
“A capoeira é reconhecida como patrimônio cultural imaterial da humanidade. Existe toda uma luta para tirá-la da marginalidade. A capoeira chegou a ser proibida no Brasil [até a década de 1930], e precisou ser disfarçada em dança”, declarou. “A capoeira chegou aqui [ao país] dentro de um navio negreiro. Foi arma de resistência contra escravatura. Não aceito, não admito [as piadas].”
“Ele compara a capoeira a fezes, para não usar o termo pejorativo que ele usa”, continuou Pop. No vídeo, Lopes pergunta ao público se tem alguém que “luta ou joga capoeira” e diz ter “vergonha” da prática. “Desculpa, não tem como respeitar”, afirma, em outro trecho. “Dois negões gigantes rebolando, é capoeira ou parangolê? Quem tá [sic] ali quer ver sangue. Juro, a galera queria ver. Capoeira só ameaça. Não consigo respeitar”, declara o humorista. Ele debocha, na sequência, dos nomes dos golpes e da capoeira ser considera uma arte.
“Não fiz para todos assinarem porque 30% não iam assinar, assim como foram pedir para eu retirar. A Confederação Brasileira de Capoeira e outras estão em movimento, para que isso não se repita”, complementou o autor da moção de repúdio, para quem a capoeira “é a maior representação cultural brasileira”. “Arte tem sua liberdade, mas para no momento que você desrespeita alguém. Arte tem limite”, disse Pop.
Osias Moraes (PRB) argumentou que também há casos de desrespeito a outros segmentos, como aos evangélicos e a padres. “Já tivemos aqui o Thiago Ferro [PSDB], ridicularizado por um humorista”, acrescentou. “Temos sim que combater esse humorismo, esses espetáculos que têm como fundamento ridicularizar um segmento e pessoas. Me somo ao senhor pela capoeira e vários outros segmentos.” Também declararam apoio a Mestre Pop os vereadores Professor Euler (PSD), Professor Silberto (MDB), Ezequias Barros (PRP) e Oscalino do Povo (Pode).
“Censura”
Contrária à aprovação da moção de repúdio, Julieta Reis (DEM) foi à tribuna debater o requerimento. “Uma coisa é a valorização da capoeira, como patrimônio cultural brasileiro e mesmo internacional. Outra é um pedido de repúdio a um comediante, que nem sei quem é, envolvendo a Câmara como um todo. Uma censura”, avaliou. “A maior parte dos comediantes hoje fala mal dos políticos, faz uma sátira. Nós teríamos que fazer voto [moção] de repúdio todo dia. Temos que pensar bem. Uma coisa é você [Pop] fazer de forma individual, por uma associação”, completou.
“É uma linha tênue entre valorizar a capoeira e os votos de repúdio da Câmara a uma piada de mau gosto, que acontece todo dia. Poderia ser ao balé. Vamos censurar todos os comediantes por piadas de mau gosto, a maior parte delas sobre políticos? Nós [vereadores] não podemos, vai do público não aceitar”, continuou a vereadora. “Não é o momento desta Casa fazer nenhum pronunciamento”, concordou Jairo Marcelino (PSD).
Professora Josete (PT) se absteve e justificou o voto devido à censura. A parlamentar disse concordar com a importância da capoeira e que existe racismo no país, mas alegou que “neste momento de exceção, com intervenção militar [federal] no Rio de Janeiro, tenho grande temor com censura”. “É um debate muito delicado”, completou. Para ela, as associações de capoeira e outras entidades “têm todo o direito de fazer a crítica a esse humorista”.