Com 22 votos favoráveis, nesta terça-feira (11), a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) foi unânime ao aprovar em primeiro turno a homenagem póstuma ao arquiteto e urbanista Jaime Lerner. Falecido em maio de 2021, aos 83 anos de idade, ele foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná, tendo deixado obras icônicas, que se transformaram em cartões-postais da cidade, como o Jardim Botânico, a Ópera de Arame e a Rua 24 Horas.
O projeto de lei aprovado é de Rodrigo Reis (PL) e cria a previsão legal para a denominação de um logradouro público em homenagem ao ex-prefeito da capital paranaense (009.00011.2024). Conforme a redação, a ideia é que um endereço da cidade ainda não identificado receba o nome dele e a seguinte identificação: “Jaime Lerner, arquiteto e planejador urbano”. Esta não é a primeira vez que uma homenagem a Lerner é debatida em plenário. Em 2021, a CMC sugeriu à Prefeitura que Jaime Lerner desse nome ao Parque Barigui.
“O Jaime Lerner foi um dos maiores prefeitos do Brasil, um dos maiores prefeitos da história, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. […] Conversei com o Eduardo Pimentel, o nosso prefeito eleito, e ele acha que temos que denominar de Jaime Lerner algo que seja mais representativo”, disse o vereador. “Não indiquei nenhum bem, justamente para que o próprio Executivo determine algo importante da cidade com o nome de Jaime Lerner, que é reconhecido no mundo inteiro”, acrescentou Reis.
Segundo Reis, homenagear o arquiteto dando seu nome ao Parque das Pedreiras, conhecido nacionalmente como Pedreira Paulo Leminski, “é muito pouco para uma pessoa reconhecida internacionalmente e [que] transformou Curitiba em uma das melhores cidades do mundo para se viver e uma das melhores capitais do Brasil para se morar”. “A cidade hoje é reconhecida no mundo graças à liderança dele em conduzir o Ippuc e outros excelentes profissionais do Município a fazer o que a cidade é. Antes de ser prefeito, ele já conhecia muito a cidade”, emendou Bruno Pessuti (Pode).
“A primeira grande inovação de impacto no Brasil, que foi olhar o ser humano como um pedestre, foi a transformação da rua XV de Novembro em espaço do pedestre [calçadão]. […] Eu sugeriria que a rua XV se chamasse Jaime Lerner e que a Prefeitura de Curitiba pudesse desenvolver um trabalho de requalificação, como um marco para requalificar o Centro de Curitiba, porque o Centro precisa de uma série de intervenções, de apoio, de estímulo, tanto da iniciativa privada, quanto dos órgãos governamentais. Avenida Jaime Lerner”, complementou Angelo Vanhoni (PT).
“É viável até [dar nome] a uma avenida, e [sugiro] de preferência a avenida Paraná, que leva até o descanso eterno do Jaime Lerner. Não precisaria mudar, mas só inserir [o nome]: avenida Paraná – Governador Jaime Lerner, avenida Paraná – Engenheiro Jaime Lerner”, acrescentou Hernani (Republicanos). “O Chapéu Pensador de Curitiba [Bosque da Copel] poderia ser Chapéu Pensador Jaime Lerner. Foi no governo dele que foi estabelecido esse espaço”, sugeriu Oscalino do Povo (PP).
Ao declarar apoio à homenagem, Serginho do Posto (PSD) lembrou que Lerner foi uma “grandeza e deixou sua digital na cidade, no estado”, e sugeriu um diálogo com a próxima gestão da Prefeitura de Curitiba porque é mais difícil “rebatizar equipamentos públicos e logradouros públicos”. “É oneroso o custo [mudar o nome de logradouro], porque a pessoa que pede a mudança tem que pagar toda a mudança de escritura de toda a rua, tem que pagar os comerciantes, é extremamente complexo, mas é possível. Acho que é válida a discussão, principalmente porque o novo prefeito vai ter esse olhar para um grande homem que contribuiu tão bem para a nossa cidade”, acrescentou Noemia Rocha (MDB).
O legado de Jaime Lerner
Filho de Félix Lerner e de Elza Lerner, imigrantes judeus de origem polonesa, Jaime Lerner nasceu em Curitiba, em 17 de dezembro de 1937. Formado em Engenharia Civil e em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), assessorou, na gestão do prefeito Ivo Arzua (1962-1965), a discussão de um novo Plano Diretor para a cidade. Esse grupo foi o embrião do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), do qual Lerner é considerado um dos fundadores e foi presidente, na segunda metade dos anos 1960.
Já reconhecido como arquiteto e urbanista, foi prefeito de Curitiba em três gestões (1971-1974, 1979-1983 e 1989-1992) e governador do Paraná por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). À frente do Poder Executivo da capital, implementou instrumentos previstos no Plano Diretor, que ajudou a desenhar. Dentre essas políticas urbanas estava a valorização da área central, dos pedestres e do transporte coletivo.
Em 1972, segundo ano como prefeito, inaugurou o calçadão da rua XV de Novembro, trecho conhecido como Rua das Flores. No mesmo ano, o Teatro Paiol foi aberto como centro cultural. O pioneiro BRT, canaleta exclusiva para a circulação dos biarticulados, nasceu em Curitiba, em 1974, pelas mãos do arquiteto. O sistema de transporte com as estações-tubo foi copiado ao redor do mundo e é considerado um modal rápido e barato.
Na área ambiental, o parque Barigui, um dos cartões-postais da cidade, foi criado, em 1972, com o objetivo de conter enchentes. São projetos do ex-prefeito, com a proposta de recuperação de áreas verdes, os parques Tanguá, Tingui e São Lourenço, além da Universidade Livre do Meio Ambiente. Inaugurado por Jaime Lerner em 1991, o Jardim Botânico, principal cartão-postal da cidade, também abriga o Museu Botânico.
A homenagem ao ex-prefeito e arquiteto ainda precisa passar por nova votação, na próxima segunda-feira (16). Sendo confirmada, seguirá para a sanção do prefeito de Curitiba, Rafael Greca.