A partir do dia 22 de março, a CAIXA Cultural Curitiba recebe a exposição “Nelson Leirner: Parque de Diversões”, uma celebração das obras de um dos artistas mais inventivos do Brasil em sua primeira mostra individual póstuma.
Com um acervo com mais de 70 obras criadas nos seus últimos 20 anos de vida, a exposição inédita no Sul do Brasil compreende esculturas, pinturas, tapeçarias, colagens, fotografias e objetos que representam seu processo transgressor, tanto como artista, quanto professor, tendo sido responsável por uma geração de artistas.

“Esta exposição de Nelson Leirner foca em trabalhos produzidos em suas duas últimas décadas de vida, porém contém também exemplares de séries e ações importantes, realizadas nos anos 1960 e 1970. A mostra dedica-se a reapresentar uma obra superlativa e seminal, predicados decorrentes de sua densidade crítica, se alimentando de aspectos da vida cotidiana, mas não só, discutindo também a figura do artista, a natureza da obra de arte e a sobredeterminação de ambos pela história”, comenta Agnaldo Farias, curador da exposição.
Recorde de público
Em sua passagem por Recife, a exposição “Nelson Leirner: Parque de Diversões” reuniu mais de 80 mil visitas durante a temporada. Além do público geral, a mostra também contou com a visita de escolas e grupos educacionais, em que puderam aprender mais sobre um dos principais artistas da arte contemporânea brasileira. Depois de Recife, a mostra seguiu para São Paulo, onde foi realizada entre 23/11/2024 e 23/02/2025. Em Curitiba, o período expositivo é de 22 de março a 29 de junho.

A exposição “Nelson Leirner: Parque de Diversões” é apresentada pela CAIXA Cultural, com patrocínio da CAIXA e Governo Federal Brasil – União e Reconstrução, com apoio da Silvia Cintra + Box04 e realização da Phi Projetos e Cinnamon.
Instalação “Mirantes: Mirando Nelson Leirner”
Dentro da mostra, o público também poderá conferir a instalação “Mirantes: mirando Nelson Leirner”, de Stela Barbieri. A artista, que foi aluna de Leirner em cursos livres durante os anos 1980, foi convidada para apresentar sua obra artística, que convida o público ao exercício da atenção e da experiência, uma viagem enlevada por materiais e instrumentos que culminam na construção de lugares, mirantes que contemplam o mundo ao redor, a partir de perspectivas e ângulos que fogem do comum, dando margem à fertil substância das surpresas. Em sua instalação, Barbieri utiliza técnica mista, com desenhos em nanquim, tinta acrílica e o uso de carrinhos de ferro, platôs de madeira, estacas de madeira, tecidos e lãs.
“Honrando o interesse de Nelson Leirner pela aproximação da arte com o público, assim como seu esforço em incutir essa orientação em seus alunos, convidamos a artista Stela Barbieri, que foi aluna de Leirner nos anos 80. Ela, que quando menina gastava horas deitada no chão contemplando a lenta procissão das nuvens no céu, nos traz ‘Mirantes: Mirando Nelson Leirner’, uma obra voltada sobretudo, mas não exclusivamente, às crianças”, comenta o curador Agnaldo Farias.
Abertura com visita guiada e palestras gratuitas
Durante a abertura da exposição, marcada para o dia 22 de março das 16h às 19h, ocorrerá a visita guiada com o professor e curador Agnaldo Farias e a artista Stela Barbieri.
Já no dia 23 de março, às 15h, Farias promove uma palestra gratuita, “Playground ou Nelson Leirner e a arte (como tudo) como jogo”, em que explora o compromisso do artista com um trabalho artístico fundamentado na crítica social e na própria arte. O curador ainda destacará a transgressão, um elemento central na obra de Leirner, que se mescla ao bom humor, considerada por uma uma arma indispensável. Por ter sido próximo ao artista, além de apresentar as obras de Leirner, Farias também contará episódios de sua vida que revelam aspectos fundamentais de sua poética. As vagas são limitadas e a classificação sugerida é para pessoas acima de 14 anos.
Além disso, a artista Stela Barbieri também apresenta sua Palestra-Oficina, no dia 16 de maio, às 15h. A artista compartilhará os processos de invenção da obra-oficina “Mirantes: mirando Nelson Leirner”, em suas diversas instâncias de realização, do encontro com um mirante natural e seus convites ao olhar às investigações em diferentes linguagens, como desenhos, maquetes e os estudos para a construção da obra e suas ativação. “Como os mirantes se transformam e se mesclam às paisagens e espacialidades existentes? Quais as diferentes relações e escalas do mirar no cotidiano? Que brechas abrimos para essas relações? Quais as diferentes qualidades dos mirantes conhecidos, desconhecidos e inventados?”, indaga Barbieri. Após a palestra, a artista realiza uma oficina de ativação da obra junto ao público.
Já no dia 17 de maio, também às 15h, Stela promove uma visita guiada pela instalação, em que os participantes poderão entrar em contato não apenas com as possibilidades táteis, relações de movimentos e encontros com os materiais e materialidades da obra, assim como dialogar ao redor das perguntas que impulsionam a pesquisa e seus processos e invenção.
A CAIXA Cultural Curitiba fica localizada na R. Conselheiro Laurindo, 280, Centro. O horário de visitação da exposição é de terça-feira a sábado, das 10h às 20h, e domingos e feriados, das 10h às 19h. A entrada é gratuita. Mais informações pelo perfil oficial da exposição no Instagram | @nelsonleirnerparquedediversoes.
O legado de Nelson Leirner
Nelson Leirner nasceu na cidade de São Paulo, em 1932. Foi um artista intermídia. Viveu nos Estados Unidos entre 1947 e 1952. De volta ao Brasil, estudou pintura com Joan Ponç, em 1956. Entre 1960 e 1965, começou a trabalhar com “apropriações”, culminando com uma exposição com Geraldo de Barros na Atrium Galeria, que depois itinerou para o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires. Participou da Nova Objetividade Brasileira, no MAM-Rio, e Opinião, em São Paulo, exposições que deram início ao movimento de vanguarda no Brasil. Em 1966, fundou o Grupo Rex, com Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Thomaz Souto Corrêa, José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nasser. No mesmo ano, recebeu prêmio na Bienal de Tóquio, com os trabalhos Homenagem a Fontana, que deram início à realização de múltiplos no Brasil. Em 1967, realizou a Exposição-Não-Exposição, happening de encerramento das atividades do Grupo Rex, em que ofereceu obras de sua autoria gratuitamente ao público. No mesmo ano, enviou ao 4o Salão de Arte Moderna de Brasília um porco empalhado e questionou, publicamente, por meio de artigo no Jornal da Tarde, os critérios que levaram o júri a aceitar a obra. Foi também um dos pioneiros no uso do outdoor como suporte. Ganhou o prêmio Itamaraty na 7a Bienal de São Paulo. Em 1969 e 1971, foi convidado a participar da Bienal de São Paulo, mas recusou-se a tomar parte do evento, aderindo ao boicote internacional à ditadura militar. No mesmo ano, abriu a exposição Playgrounds no vão do MASP, com peças feitas para manipulação do público. Nessa época, Leirner se dedicou a outras linguagens, como o design, os múltiplos e o cinema experimental. Nos mesmos anos 1970, criou uma série de alegorias à situação política contemporânea, em um conjunto de desenhos e gravuras. Em 1974, expôs a série A rebelião dos animais, com trabalhos que criticavam o regime militar, pela qual recebeu, da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA, o prêmio de “Melhor Proposta do Ano”. Em 1975, a APCA concedeu ao artista o prêmio “APCA Melhor Desenhista” e encomendou-lhe um trabalho para entregar aos premiados, mas a Associação o recusou, por ser feito em xerox. Como forma de protesto, os demais artistas se negaram a comparecer ao evento. De 1977 a 1997, lecionou na Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP, em São Paulo, onde teve grande relevância na formação de várias gerações de artistas. Dando continuidade aos seus trabalhos críticos ao regime militar, inaugurou, em 1978, na Galeria Luisa Strina, a exposição Uma linha dura… não dura. Em 1980, a exposição Pague para Ver foi cancelada pela Múltipla Galeria de Arte, por causa do texto/convite escrito por Leirner, no qual caracterizava os vários meandros que envolvem o mercado de arte. A presença de elementos da cultura popular brasileira, marcante desde os anos 1960, cresceu a partir da década de 1980. Em 1985, realizou a instalação O grande combate, em que utilizou imagens de santos, divindades afro-brasileiras, bonecos infantis e réplicas de animais. Pretendeu converter em arte o que é considerado apenas cotidiano e banal. Seu trabalho se apropria de imagens artísticas banalizadas pela sociedade de consumo. De maneira bem-humorada, lida com as reproduções da Gioconda (Monalisa), de Leonardo da Vinci, e A fonte, de Marcel Duchamp, como tema artístico. Com a mesma ironia, o artista replicou, sobre couro de boi, imagens da tradição concreta brasileira, na série Construtivismo rural. Em 1994, recebeu o prêmio APCA de “Melhor Exposição Retrospectiva do Ano”. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1997, e coordenou o curso básico da Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage. Em 1998, recebeu o prêmio “Johnny Walker de Arte Contemporânea”. Em 1999, representou o Brasil na Bienal de Veneza, o que lhe abriu portas para uma carreira internacional tanto em galerias como em instituições. Participou das mais importantes feiras de arte no exterior, como Arco, Basel, Miami Basel, Dubai, e expôs na Suíça, Alemanha, Espanha, Portugal, Inglaterra, França e Estados Unidos. Em 2007, foi reconhecido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) com o prêmio “Trajetória de um Artista” e, em 2009, recebeu uma homenagem do Itaú Cultural como “Artista Referência”, com a exposição Ocupação, onde também foi lançado o documentário Assim é… se lhe parece, em sua homenagem. De 2005 a 2007, participou da exposição Tropicália, que inaugurou no Museu de Arte Contemporânea de Chicago, seguindo depois para o Bronx Museum, em Nova York, Casa da Cultura, em Berlim, Barbican Centre, em Londres, e finalizou no MAM-Rio. Participou da exposição Dreamlands, no Centre Pompidou, Paris, em 2010 e, no mesmo ano, expôs na 29 a Bienal de São Paulo, com uma sala especial. Em 2011, realizou a retrospectiva Nelson Leirner 2011-1961 = 50 anos, na FIESP/SESI-SP. No mesmo ano, abriu em Miami, a mostra Who Is Who e foi homenageado pelo Instituto Tomie Ohtake com uma sala especial na exposição Beuys e bem além de ensinar como arte. Em 2014, abriu a exposição Minha casa, minha vida, na Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Inaugurou, em abril de 2015, a exposição itinerante Pop International, primeiramente no Walker Art Center, em Minneapolis e, posteriormente, em 2016, no Philadelphia Museum of Art. Em 2017, o artista participou da mostra itinerante Vastidão dos mapas – arte contemporânea em diálogos com mapas da Coleção Santander Brasil, com curadoria de Agnaldo Farias, e das coletivas How to Read El Pato Pascual, no Mak Center for Art + Architecture, na Califórnia, e Ready Made in Brasil, na FIESP/SESI-SP. Em 2019, fez a exposição itinerante Pop América, 1965-1975, que teve início no Nasher Museum of Art at Duke University, na Carolina do Norte.