A primeira quinzena de janeiro marca o aniversário de duas figuras históricas, que superaram as barreiras do seu tempo, do racismo e abriram caminhos por onde passaram. Coincidentemente, ambos formados em engenharia, André Rebouças e Enedina Alves Marques, em momentos diferentes, construíram, não só com obras, legados para o desenvolvimento do Brasil e do Paraná que ecoam até hoje.
Nascido em 13 de janeiro 1838, André Rebouças é reconhecido como um dos principais arquitetos do movimento abolicionista, foi também um dos maiores engenheiros do Brasil Imperial. Filho de um jurista que ascendeu socialmente também o jugo do racismo, Rebouças teve formação acadêmica no Rio de Janeiro e na Europa.
No Paraná, sua grande marca técnica é a ferrovia Paranaguá-Curitiba, considerada até hoje uma das maravilhas da engenharia. Essa obra, inaugurada em 1885, superou desafios naturais impressionantes, que atravessa a Serra do Mar e liga Curitiba ao litoral do Paraná.
Rebouças não contribuiu apenas tecnicamente, mas como abolicionista, ele via as obras de infraestrutura, investimentos na educação e a democratização do espaço rural, como meios para a promoção da autonomia dos escravizados.
75 anos depois André Rebouças, na mesma data, nascia outra figura negra que romperia barreiras no Paraná: Enedina Alves Marques. Ainda criança alfabetizou-se em troca de tarefas domésticas. Trabalhando como babá conseguiu bancar seus estudos e formou-se professora em 1932.
Após dar aulas em alguns colégios no estado, em 1945 pela Universidade Federal do Paraná realizou seu sonho e tornou-se a primeira mulher negra a conquistar o título de engenheira no Brasil. Em um contexto que automaticamente legava às mulheres apenas tarefas domésticas, notadamente, sua trajetória é um testemunho de resiliência e talento.
Enedina destacou-se em projetos voltados à área de energia, incluindo sua contribuição à construção da Usina Capivari-Cachoeira (atual Usina Governador Pedro Viriato Pagot de Souza). Também foi quem contribuiu com o projeto da Casa do Estudante Universitário, no coração de Curitiba.
Mais do que engenheira, Enedina foi um símbolo de resistência. Ao desafiar as expectativas impostas a mulheres negras, especialmente em áreas dominadas por homens brancos.
Ainda que separados por décadas, os engenheiros André Rebouças e Enedina Alves Marques pavimentaram caminhos para as gerações futuras, seus legados e histórias nos deixam um espelho de pioneirismo e que nos desafiam a enfrentar o racismo, romper barreiras e construir um país melhor.