Curitiba pode estar à beira de mudanças significativas se as propostas do mais recente plano de governo do candidato Samuel de Mattos Figueredo, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), se concretizarem. Com o foco na classe trabalhadora, o plano delineia uma série de reformas profundas, visando alterar drasticamente a estrutura de poder e a gestão pública da cidade. As propostas, que certamente suscitarão debates acalorados, incluem desde a extinção de terceirizações até a expropriação de grandes imóveis para a construção de moradias populares.
O documento, que apresenta uma forte crítica ao atual modelo de administração, aponta que Curitiba é uma cidade de grandes contrastes. Enquanto a propaganda oficial exalta uma “cidade modelo”, uma parte significativa da população ainda enfrenta desafios como transporte público precário, falta de vagas em creches e serviços de saúde insuficientes. A resposta do plano a esses problemas é clara: a eliminação das terceirizações e a reversão da gestão das unidades de saúde para controle municipal, com a contratação direta de profissionais via concurso público.
Um dos pontos mais controversos do plano de Samuel de Mattos é a proposta de reduzir a tarifa de transporte público para R$ 1,00, com a meta final de implementar tarifa zero. Para alcançar isso, o candidato propõe a extinção da URBS, empresa que atualmente gerencia o transporte público de Curitiba, substituindo-a por uma nova secretaria de transporte gerida por usuários e trabalhadores. Esse modelo, segundo o documento, visa garantir um serviço de qualidade, acessível e controlado diretamente pela população, sem a intervenção de grandes empresas de transporte que, segundo o plano, têm priorizado o lucro em detrimento do bem-estar dos usuários.
A educação também está no centro das propostas de Samuel de Mattos, com planos para remover a presença militar das escolas, eliminar a terceirização e garantir que as decisões sejam tomadas por conselhos escolares deliberativos. A proposta inclui ainda a realização de eleições regulares para diretores de escola e o fim das avaliações externas, conferindo maior autonomia aos professores.
Outro ponto que promete gerar discussões é a proposta de expropriação de grandes imóveis utilizados para especulação imobiliária. De acordo com o plano, esses imóveis seriam destinados à construção de moradias populares, numa tentativa de solucionar o déficit habitacional que atinge milhares de famílias em Curitiba.
No âmbito da saúde, Samuel de Mattos propõe a estatização de todos os hospitais privados, visando a criação de um sistema de saúde 100% público, gratuito e estatal. Essa mudança radical pretende acabar com a dicotomia entre um serviço público sucateado e um setor privado que, segundo o candidato, tem se beneficiado da precarização dos serviços públicos.
Uma das propostas mais polêmicas do plano de governo de Samuel de Mattos é a legalização e regulamentação do aborto. O candidato defende que o aborto seja legal, seguro e gratuito, garantindo que as mulheres tenham acesso a esse direito em um sistema de saúde pública e estatal. A proposta busca atender a uma demanda histórica dos movimentos feministas e dos direitos das mulheres, visando acabar com as práticas inseguras e ilegais que colocam em risco a vida de milhares de mulheres todos os anos.
Finalmente, o plano propõe uma reforma estrutural no processo orçamentário municipal, sugerindo que o orçamento seja decidido em assembleias populares nos bairros. Esse modelo, segundo os idealizadores, garantiria que os recursos públicos fossem realmente destinados às áreas que mais precisam, sob o controle direto da população.
As propostas de Samuel de Mattos colocam Curitiba diante de um potencial cenário de transformações profundas, que prometem redefinir as relações de poder na cidade e a forma como os serviços públicos são geridos. Se implementadas, essas mudanças poderão alterar não apenas a estrutura administrativa, mas também o cotidiano dos curitibanos, levando a cidade em uma direção que, até então, parecia inimaginável.