Já faz parte do nosso imaginário as histórias, mitologias e lendas protagonizadas por crianças selvagens, que é como costumamos chamar as crianças criadas na natureza ou por animais, como Mowgli e Tarzan, crianças perdidas como as da Terra do Nunca ou Rômulo e Remo, os fundadores míticos de Roma. Em seu primeiro trabalho destinado a todas as idades e pensando especialmente na infância, a Selvática Ações Artísticas, plataforma criativa sediada em Curitiba, investiga essas narrativas para imaginar como seria uma comunidade feita por crianças que vivem em bando e se relacionam com o planeta com responsabilidade coletiva. No espetáculo tais crianças se deslocam para fugir de seus medos em uma alegoria aos processos de migração que marcam a vida de tantas crianças pelo mundo.
Com direção e cabaréturgia de Ricardo Nolasco – pesquisador e entusiasta do teatro cabaré no Brasil – a segunda temporada volta para as duas últimas apresentações deste ano, dias 8 e 9 de outubro, às 16h, no Teatro SESI Portão. “O espetáculo busca esse diálogo com as crianças selvagens como forma de olhar para a peculiaridade de cada criança. A construção de uma micro-multidão que cante a alegria e a liberdade para ser o que quiser”, comenta o diretor.
A linguagem do Teatro Cabaré é uma das principais frentes de pesquisa da Selvática, que além de já ter viajado para importantes festivais dedicados ao formato, atualmente realiza a MIC – Mostra Internacional de Cabaret de Curitiba. Sobre esta relação, Nolasco aponta: “No México, grande polo de investigação da linguagem, o ‘cabaretine’, que é como se chama o cabaré mexicano feito para crianças, já ocupa boa parte da programação dos teatros. Por mesclar teatro, dança, palhaçaria e mágica em espetáculos interativos e em diálogo direto com a plateia, o cabaré oferece uma infinidade de modos de se comunicar com a infância”. Assim, o espetáculo dá continuidade ao aprofundamento da pesquisa do cabaré em um dos maiores desafios do coletivo: “Prometemos uma profusão de cores e sensações para falar das sutilezas da criança e também se comunicar com as crianças que ainda somos”, diz Patrícia Cipriano, integrante do coletivo e atriz de Crianças Selvagens.
Para superar tal desafio, o elenco tem se preparado desde o mês de maio para essa empreitada, realizando durante o processo de criação do espetáculo duas residências artísticas: uma com Montserrat Angeles Peralta (MEX), nome importante do cabaré mexicano para crianças, e outra com Paula Lice (BA), pesquisadora, professora, atriz, diretora e roteirista baiana especializada em criaçoes cênicas, audiovisuais e literárias voltadas para a infância. “Estamos construindo todo esse espetáculo com muito cuidado”, fala a atriz Janaina Fukuxima, “buscando construir um espaço que seja um convite para reinventar o mundo através do jogo e da brincadeira”. Para isso, a equipe também tem feito oficinas, mostras de processo e outras atividades em que convidam crianças a colaborarem com a construção do espetáculo. Para Nolasco, o espetáculo “parte acima de tudo de uma defesa da criança que fomos, de um sonho utópico e um desejo de liberdade, uma defesa de um mundo onde a gente possa ser o que quiser, entendendo que a gente pode juntos construir outras realidades mais possíveis para adultos e crianças”.
O espetáculo tem sonoplastia original criada por Jo Mistinguett e um trabalho musical proposto pela também atriz Má Ribeiro pensando na musicalidade do cabaré como brincadeira. No processo colaborativo, como é característica da investigação selvática, a equipe musicou poemas e compôs canções e paisagens sonoras: “brincando como em um jogo de encaixes em que sons, imagens e palavras dançam juntas”, fala Má Ribeiro que trouxe sua experiência híbrida da música, palhaçaria, improviso e atuação para colaborar com o processo.
Serviço:
Crianças Selvagens
Local: Teatro SESI Portão
Endereço: Rua Padre Leonardo Nunes, 180, Portão
08 e 09 de outubro às 16h
ENTRADA FRANCA – chegar 1h antes para retirada de ingressos
Espetáculo com Tradução para Libras
Elenco: Janaína Fukuxima, Leo Bardo, Ma Ribeiro, Madu Forti, Matheus Henrique, Nina Ribas e
Patricia Cipriano | Direção e cabaréturgia: Ricardo Nolasco | Colaboração dramatúrgica: Francisco
Mallmann | Direção Musical: Má Ribeiro | Coreografia: Gabriel Machado | Trilha sonora: Jo
Mistinguett | Desenho de luz e operação: Semyramys Monastier | Figurino: Stéfano Belo | Assistência
de figurino: Lucca Lírio | Producão: Vida Santos | Assistência de produção: Michelle Malc |
Assessoria de comunicação: Leo Bardo | Desenho gráfico: Thalita Sejanes | Ilustrações: Thalita
Sejanes e as crianças: Antônio Cunali Ferreira do Amaral, Amora S. C. Solak, Arthur R. Dulcio,
Caetano Callai Bragatto Mehl , Cecilia B. Silveira, Clarice Rocha, Cloe Helena V. Rosenbaum, Emília
M. Machado, Dora Ferreira do Amaral, Inácio Callai Bragatto Meh, Olga Toscani B. R. de Camargo,
Olivia Leão, Teodora S. D'Escragnolle Cardoso | Coordenação de projeto: Gabriel Machado e Renata
Cunali.