O Dia dos Pais, celebrado neste domingo (13/7), passou a ter um significado especial para Jaime de Paula Oliveira, 55 anos, e para sua filha, Juliane de Paula Oliveira, 25. Em 2021, depois de mais de uma década em que viveu em situação de rua em Curitiba, Jaime reencontrou Juliane e desde então, entre muitas visitas, passeios e telefonemas, eles recuperam o tempo perdido e mantêm os laços afetivos de pai e filha.
“Deus foi muito bacana comigo, me abriu várias portas. Eu sai da rua, reencontrei minha filhotinha, além de ter arrumado um emprego e alugado uma quitinete. Estou, com certeza, no paraíso”, afirma Jaime.
Todas essas conquistas, segundo ele, farão do próximo domingo uma data especial. Este será o segundo Dia dos Pais que passarão juntos, desde que ele deixou as ruas e decidiu fazer novos planos de vida. A data será comemorada com um almoço que poderá ter a presença de familiares do marido de Juliane, para que Jaime possa conhecê-los.
Para ela, ter o pai por perto e recuperado é algo que não imaginava.
“Eu estou muito feliz em ver em quem ele se transformou, ele é uma outra pessoa, tranquila e muito esforçada”, conta Juliane, que durante dez anos viveu o drama de procurar o pai nas ruas, mas não encontrar.
“Era muito difícil saber que você tem tudo, mas seu pai está na rua. E muito triste não ter contato, não poder ligar e nem ver ele em datas especiais, como o Dia dos Pais”, diz.
Acolhimento e emprego
Jaime se afastou da família e foi parar nas ruas por causa da dependência química. Nos primeiros cinco anos em situação de rua, ele chegou a fazer poucos contados com a filha, mas depois desapareceu. “Eu era usuário, vivia sujo e fedido. Não queria que minha filha me visse naquela situação e nem transferir para ela o meu problema”, explica.
Cansado da vida difícil que levava, Jaime procurou algumas vezes apoio na Fundação de Ação Social (FAS). Nos dez anos em que esteve na rua, foi acolhido e arrumou emprego por duas vezes, mas acabou retornando para as ruas.
Como costumava ficar na região do Boqueirão, o atendimento a Jaime era feito no Centro de Referência Especializado para População de Rua (Centro Pop) e na Unidade de Acolhimento Institucional (UAI) do bairro, que atende homens em processo de superação da condição de rua.
Livre da dependência química, Jaime voltou a procurar a FAS em 2021 e foi novamente acolhido na UAI Boqueirão. Decidido a mudar de vida, foi encaminhado para cursos e para vaga de emprego.
Viu que aquele era o momento certo e telefonou para a filha. Juliane passou a visitar o pai com frequência na unidade de acolhimento e procurava conversar com a equipe para acompanhar o processp. “Eu nunca quis mudar o número do meu telefone porque sabia que era o único meio que meu pai tinha de me encontrar. Eu sabia que um dia ele podia me ligar”, conta.
Em 2020, Jaime começou a trabalhar em uma empresa, mas contaminado pelo novo coronavírus, precisou ser internado. A gravidade da doença exigiu um mês de hospital e o deixou muito debilitado, o que fez com que precisasse deixar o emprego.
Há cinco meses, Jaime conseguiu um novo trabalho em um condomínio residencial, no Uberaba. Aprovado pela chefia, foi encaminhado para outro local, desta vez em um prédio, no Centro.
Com carteira assinada e salário fixo conseguiu alugar e mobiliar a nova casa, também no Boqueirão. Além de cama, TV e de uma bicicleta que usa para fazer pequenas voltas, Jaime comprou um celular, o que nunca teve.
Superação
Para Juliane, o pai tem o maior mérito pela nova vida que conquistou. “Quando a pessoa não quer, não adianta. Há muito tempo tentamos fazer com que ele melhorasse, até internado ele foi, mas logo saia”, conta.
O trabalho, segundo ela, foi a alavanca que ele precisava para a virada de chave. “Ele viu que com o trabalho ele podia ter uma casa, ter as próprias coisas.”
Jaime entende que o trabalho da FAS, que ele chama de divisor de águas, foi fundamental para a vida que tem hoje. “O pessoal da FAS é maravilhoso, sempre fui bem recebido, sempre fizeram de tudo para me oferecer o que eu precisava. Se estou nessa situação hoje é porque eles me ajudaram”, ressalta.
Ter a filha por perto foi o que motivou Jaime a sair das ruas. “Ela sempre foi meu foco e hoje é minha alegria. Como não tenho pai e mãe, ela é a única pessoa na minha vida”, conta.
Jaime comemora cada momento com a filha. “Ela vem na minha casa, nós saímos almoçar. Já avisei que daqui pra frente eu serei um carrapato”, brinca.