A inflação hoje é um fenômeno mundial que está entre as preocupações mais relevantes da população em todo o mundo. No Brasil, seu termômetro oficial é o IPCA, pesquisa realizada todo dia 30 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) seguindo um padrão internacional de indicadores de inflação. No resultado de abril, divulgado nesta quarta-feira (11), a inflação saltou para 12,13% no acumulado em 12 meses, a maior alta desde outubro de 2003.
De acordo com Robson Gonçalves, professor de Economia dos cursos de MBA do ISAE/FGV, esse fenômeno é consequência de dois elementos principais. “De um lado, o volume imenso de crédito que foi despejado em todo o mercado como uma tentativa de amenizar os efeitos da pandemia, gerando um poder de compra na mão da população que evitou uma crise maior, mas gerou pressões de demanda em várias regiões do mundo. Por outro lado, temos a desorganização das cadeias produtivas que aconteceu durante a pandemia, cujo os resultados ainda estão sendo sentidos hoje”, aponta.
A inflação nesse patamar é uma das variáveis econômicas mais sentidas pela população. “O consumidor vai ao supermercado comprar mais ou menos as mesmas coisas do mês anterior e percebe que estourou o orçamento”, exemplifica. Contudo, o especialista aponta que, apesar das elevações das taxas de juros, o IPCA não deve ceder até o final de 2022.
“O lado incômodo para os Bancos Centrais é que essa inflação é insensível à elevação das taxas de juros, então o aumento da SELIC não é capaz de reverter a alta dos preços, como no caso dos combustíveis. Consequentemente, o preço dos combustíveis afeta o custo de produção e transporte também em diversas outras cadeias produtivas que ainda estavam tentando se organizar após a pandemia”, destaca.
Outro fator a ser levado em consideração é o conflito na Ucrânia que, sem perspectivas de encerrar tão logo, gera ainda mais incertezas e especulações sobre as comodities. “Vemos a desorganização da oferta de commodities energéticas e do mercado de fertilizantes, os quais a Rússia tem papel importante, afetando os custos da produção de alimentos em todo o mundo”, diz.
Segundo o docente do ISAE/FGV, o atual lockdown na China, segunda maior economia do mundo, também deve refletir em uma maior desorganização do mercado nos próximos meses. “Se o mundo não estivesse vivendo uma sequência ininterrupta de crises, sendo elas sanitária, econômica e política, este fato contribuiria para a queda rápida da inflação. Mas, hoje, isso é mais um desejo do que uma expectativa concreta”, completa Robson Gonçalves.