Fábio Tiepolo é fundador da Docway, startup brasileira pioneira em oferecer soluções de telemedicina e atendimento médico domiciliar para empresas e operadoras de saúde, e referência de empreendedorismo nas áreas de saúde e tecnologia brasileiras. Formado em administração de empresas, Tiepolo também estudou o segundo grau no Colégio da Polícia Militar do Paraná, fato que intensificou a disciplina e o senso de organização em sua vida. Durante a graduação, teve seu primeiro contato com a medicina no HSBC Saúde, onde atuou por um ano na parte de credenciamento hospitalar e quase um ano na área de planejamento e controle.
Aos 22 anos, recebeu um convite para entrar na indústria farmacêutica e, seis meses depois, foi chamado para atuar na Johnson & Johnson. “Foram quase 15 anos na Johnson, uma trajetória muito importante na qual pude consolidar minha carreira”, afirma. Tiepolo começou como representante propagandista, batendo de porta em porta nos consultórios médicos, o que o permitiu conhecer boa parte dos grandes líderes da medicina em Curitiba, e foi crescendo até se tornar gerente de produto. “Depois de ter participado do lançamento de um novo produto e, junto de minha equipe, lançado a área de imunologia dentro da empresa, tive o prazer de participar de outro lançamento, dessa vez de um produto que já tinha grande sucesso global e estava chegando ao Brasil. Neste momento, o time de imunologia duplicou de tamanho em apenas duas semanas, fato que impulsionou minha carreira em níveis extraordinários”, comenta.
Tiepolo conta ainda que sempre esteve antenado nas tendências mundiais e, ao analisar os recentes lançamentos internacionais, notou uma grande oportunidade de negócio. “Durante minha trajetória na Johnson, percebi que o avanço tecnológico que naquele momento estava acontecendo em bancos e no setor financeiro, uma hora ia impactar o setor de saúde. Então decidi tirar a ideia do papel e criar uma empresa de saúde e tecnologia”, diz.
Clique de mudança
“Em 2015, minha filha amanheceu doente, com febre, tosse e dor de garganta. Enquanto arrumava a bolsa para levá-la ao pronto-socorro, ela me perguntou: ‘pai, mas se eu quem estou doente, por que o médico não pode vir aqui?’. Na hora liguei para uma médica amiga minha e ela foi até minha casa. Vi o atendimento acontecer no quarto de minha filha, com os brinquedos dela, sem precisar ir até o hospital, e aí sim a ideia começou a tomar força”, explica. Tiepolo conta que a situação o fez questionar quantos pais a mães também sofrem com esse dilema, de querer oferecer atendimento médico seguro e tranquilo aos seus filhos. “Com o médico a domicílio você está poupando uma criança de ir até um ambiente com ainda mais riscos, além do fato de ser muito mais cômodo”, complementa.
A partir deste ponto, ele decidiu que havia chegado o momento de se jogar no mundo do empreendedorismo. “Eu estava no meu melhor momento profissional na Johnson, gerindo uma equipe de dezenas de pessoas, com bom salário e pacote executivo completo. Mas mesmo com medo, decidi que era hora de dar início a uma nova história. Parei e pensei: já que cheguei até aqui em uma multinacional gigantesca, será que conseguiria fazer isso com minha própria empresa?”, conta.
Para se preparar, Tiepolo apostou nas melhores universidades do mundo. No início de 2015, entrou no MBA Innovation Health Care (Inovação em Saúde, em português), da Universidade de Harvard, em Cambridge. Foram seis meses de ensino híbrido, com aulas online e presenciais, de total imersão no mercado da inovação em saúde, possibilitando uma visão holística do assunto. Em seguida, também realizou um curso de Medicine Digital Age (Medicina na Era Digital, em português), em Rice, no Texas. “Estudar com outras grandes mentes de todo o planeta me ajudou e me motivou ainda mais”, afirma.
Além do estudo, o CEO chama a atenção para a leitura como base de seu aprendizado. “Eu leio muito sobre muitas coisas, desde materiais especializados até revistas adolescentes da minha filha. Acredito que as grandes ideias vêm da combinação de fatores, e quanto mais extenso for seu conhecimento sobre coisas aparentemente inúteis, mais repertório você terá para criar um componente poderoso para sua criatividade. Foi assim que, em dezembro de 2015, nasceu a Docway”, aponta.
Olhando para o passado
Fábio Tiepolo conta que, desde criança, sempre teve uma veia empreendedora, graças ao exemplo de seu pai. “Meu pai também é empreendedor, mas a história dele nem sempre foi de sucesso. Ele já quebrou e se recuperou diversas vezes. A partir da trajetória dele, aprendi muito sobre o que fazer, o que não fazer e como fazer. Ele sempre me incentivou para que, ainda jovem, eu pudesse aprender a resolver situações da empresa por conta própria. Olhando pra trás, vejo que foi extremamente importante passar por esse aprendizado”, recorda. “Antes de trabalhar com meu pai, também já fui office boy de uma provedora de internet, o que me permitiu vivenciar uma rotina multitarefa”, complementa.
Próximos passos
Em 2020, foram realizados mais de 1 milhão de atendimentos nas plataformas da Docway, incluindo OMT (orientação médica por telefone) e teleconsulta (vídeo), além de mais de 4,6 mil médicos cadastrados e capacitados, prontos para atender uma base de cerca de 10 milhões de vidas em sua carteira, colocando a startup entre as maiores do setor de telemedicina no Brasil. Entre as empresas que utilizam as soluções da Docway, estão grandes nomes como O Boticário, SulAmérica, Sami Saúde, Hospital Campos Elísios, Seguros Unimed e Unimed Fesp.
Sem medo de falar sobre os planos para o futuro, o empreendedor revela que já começou a traçar os próximos passos para o crescimento de sua empresa, dentre eles o lançamento de novos serviços e novidades importantes associadas à inteligência artificial, que serão integradas ao Pronto Atendimento Digital, atual produto de teleorientação e teleconsulta da companhia. “Na pandemia, estamos vendo a consolidação da Docway e a busca por uma proposta de valor diferenciada. Muitas empresas similares surgiram no período, mas agora precisamos separar aquelas que realmente conseguem fazer daquelas que apenas têm um discurso bonito”, finaliza Fábio Tiepolo.