Em 2017 – “um ano estranho, em que um burburinho começou a correr entre pessoas simples, amigos, parentes, em que ouvi manifestações inimagináveis com tendências fascistas” –, o diretor Luciano Lagares se sentiu impelido a criar um roteiro em que o conhecimento fosse o protagonista.
Morando nos Estados Unidos na época, Lagares criou Knowledge, curta-metragem finalizado em 2018, originalmente em Inglês, que chega em versão em Português, "Conhecimento". A produção ganhou narração de Anielle Franco, educadora, jornalista, escritora, diretora executiva do Instituto Marielle Franco e irmã de Marielle, e estreou no Dia Nacional da Educação Infantil, no dia 25 de agosto.
A inspiração veio da história de duas grandes mulheres. Malala Yousafzai, sobrevivente de um atentado graças à ciência tornando-se uma voz relevante em favor da educação e dos estudos. Já a vereadora e ativista pelos direitos humanos Marielle Franco não teve a mesma sorte e sua verdadeira história foi distorcida e espalhada nas redes sociais, dando suporte ao discurso de ódio. “Não é exagero afirmar que pessoas podem se tornar alvos em razão da busca pelo conhecimento”, afirma Lagares.
A linha de raciocínio de Luciano, diretor de outro premiado curta, Drawing Life, era uma só, o tempo: “Era sobre o que eu queria falar, sobre o tempo conectando esses dois extremos, o conhecimento e as tentativas de eliminá-lo.”
Fazer a narração com a voz de Anielle Franco, a irmã mais nova de Marielle, deu ainda mais significado ao filme: “Anielle é incrível, uma pessoa alegre e muito simpática. Olhando para ela, mal dá para dizer quanto peso ela carrega. Infelizmente, estar num lado diferente dos que pregam o ódio é se tornar alvo de perseguições. Quantos não gostariam de ter tamanha força. Anielle sem dúvida representa os questionadores afiados que surgem a partir dos antecessores narrados no filme. Acredito que o filme Conhecimento é também um derivado dessa experiência do que aconteceu com Marielle e com diversos outros fomentadores do conhecimento”, diz Luciano.
Conhecimento" é um filme para todos, afinal, valorizar o conhecimento não é uma bandeira política e nem ideológica, mas é dedicado às crianças também. “Acho muito frustrante para as crianças as promessas de melhora na vida se estudarem. Aí quando crescem a vida fica confusa e cheias de ‘se você faz isso, você é aquilo’. Onde está o que prometeram? Acredito que o conhecimento deve ser uma companhia, que mais tarde nos posiciona e nos dá a capacidade de discernir frente as escolhas que surgem na vida.”
Lagares usou a técnica de animação quadro a quadro e com frames que “flicam” (tremelicam) para ressaltar a ideia de tempo, de demora para absorver. Outro conceito importante era o de não fazer rostos: “Sugeri a figura da Malala e as demais estudantes com linhas para lembrar o véu cobrindo a cabeça. Já para mostrar a agressividade dos intolerantes e a violência geralmente adotada, as figuras em vermelho são rabiscadas de forma grosseira”, explica.