Neste mês de março de 2021, o maior desastre socioambiental do Paraná completa uma década. O “Águas de Março”, caracterizado por uma chuva intensa no litoral do Estado, gerou um impacto de perdas econômicas estimadas em mais de R$ 200 milhões e desalojou 14 mil pessoas. De acordo com dados fornecidos pela Defesa Civil do Estado do Paraná, foram registradas ocorrências relacionadas a inundações generalizadas, erosão acelerada, assoreamento de drenagens e movimentos gravitacionais de massa.
Quatro dos sete municípios que compõem a região litorânea do Paraná foram severamente afetados: Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaraqueçaba. A Defesa Civil aponta que os municípios somaram quatro óbitos, 18 mil pessoas afetadas e mil desalojados. Após o “Águas de Março”, órgãos estaduais e municipais desenvolveram um conjunto de boas práticas para fortalecer a Gestão de Risco de Desastre, como a criação do Sistema Informatizado da Defesa Civil (SISDC). Contudo, mesmo uma década após o desastre, ainda temos muito no que avançar sobre a questão da governança brasileira para redução de riscos e desastres (RRD).
“Há uma necessidade real do desenvolvimento de sistemas de alertas eficazes centrados nas pessoas, capacitação, incentivo da participação cidadã na tomada de decisão e do debate sobre a dimensão do gênero associada a RRD”, aponta Kathya Balan, mestranda do Programa de Governança e Sustentabilidade do ISAE Escola de Negócios, que pesquisou sobre inundações na área urbana de Morretes. A pesquisadora conta que, nas áreas de atenção, mapeadas pela Defesa Civil no Plano de Contingência referentes à região central, pouco foi feito em relação à prevenção e mitigação do risco de desastre.
Desde 2001, o município de Morretes foi acometido por 18 eventos relacionados com enxurradas, alagamentos e inundações, sendo o mais recente no início do mês. Segundo a orientadora da pesquisa, a professora Ariadne Farias, geógrafa e doutora em inundações urbanas, a localização geográfica e a classificação do clima somadas ao sistema de drenagem insuficiente, urbanização desordenada e tendência de alterações climáticas, com aumento pluviométrico, indicam a urgente necessidade de trabalhar na prevenção e mitigação de desastres.
“As iniciativas tomadas e ações já realizadas não inserem o cidadão como protagonista e influenciador de medidas de prevenção e autoproteção”, diz a pesquisadora. “Não há um trabalho, na fase pré-desastre, com o objetivo de gerar uma cultura de segurança, que capacite a comunidade para ações mais assertivas e eficazes na antecipação e mitigação dos danos relacionados às inundações, contribuindo para a resiliência da comunidade local”, explica.
As parcerias entre o setor público, a iniciativa privada, entidades não governamentais e instituições de ensino são fundamentais para o desenvolvimento de pesquisas e aplicabilidade de soluções. “A comunidade precisa ser ouvida e inserida em todas as fases da gestão para a redução dos riscos de desastres. O Águas de Março é um passado que deve ser constantemente revisitado para a geração de soluções futuras”, complementa Kathya Balan.