Se você algum dia já precisou fazer uma transferência bancária, pagamento ou compra de qualquer natureza, com certeza conhece os desafios, custos e limites dessas operações. Na era da internet e do mobile, os bancos vêm sofrendo com os concorrentes mais novos e digitais, que chamam a atenção dos consumidores devido à qualidade do serviço, custo inferior e experiência inovadora. Ainda assim, os bancos faturaram em 2019 mais de 2 bilhões de reais em processamento dos tipos TED/DOC, além de mais de 5 bilhões de reais com boletos, entre outros meios de pagamento.
O novo sistema de pagamentos do Banco Central, o PIX, é um projeto que começou em 2013, mas foi oficialmente lançado este ano. Apesar do serviço funcionar apenas a partir de 16 de novembro de 2020, ele vem chamando muito a atenção nos últimos dias, principalmente pela rápida adesão dos brasileiros. “Já foram cadastradas mais de 3,5 milhões de chaves desde o primeiro dia de abertura para o cadastro (05 de outubro), impactando inclusive o funcionamento de alguns sistemas bancários pelo volume de pessoas buscando a solução”, conta Rafael de Tarso Schroeder, especialista em tecnologia do ISAE Escola de Negócios.
Segundo Rafael, o PIX muda completamente a regra do jogo. Seja como pessoa física ou jurídica, a solução permite a realização de transferências a qualquer momento, disponibilidade 24 dias, 7 dias por semana, com velocidade – a promessa é liquidação em até 10 segundos -, conveniência e integração com diversas plataformas e casos de uso. Ou seja, o cliente ganha em eficiência e agilidade nas operações e relações de troca financeira. “A melhor parte é que não existe um limite de valores, horários ou aquela velha desculpa que o dinheiro ‘só cai’ na segunda-feira”, diz. “Tive a oportunidade de cadastrar duas chaves (CPF e e-mail) nos dois bancos que tenho conta, o processo foi bem rápido e fácil”, exemplifica o especialista. Lembrando que são 5 chaves para pessoa física e 20 para pessoa jurídica.
A princípio, o PIX não terá custo para pessoas físicas e alguns bancos já fizeram alguns comunicados que não farão cobrança das empresas. Contudo, mesmo nos casos que haverá cobrança, o custo será muito menor que dos atuais modelos. Para os micro e pequenos empresários a vantagem é ainda mais significativa, a expectativa é mais agilidade nas vendas, fluxo de caixa mais consistente, liquidação de pagamento e negociação com fornecedores. “A promessa é que o PIX, somado a outras iniciativas como o Open Banking e o Cadastro Positivo, traga mais transparência, competitividade e principalmente aceleração da digitalização de micro e pequenos empresários”, explica ele.
Alguns especialistas alertam para os riscos de segurança, principalmente neste momento de adesão. Parte pela baixa compreensão digital de muitos brasileiros e, em muitos casos, graças a criatividade e uma série de técnicas da malandragem para captar dados, informações sensíveis e, principalmente, o dinheiro da população. Segundo o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, Beny Parnes,"o PIX é extremamente frágil do ponto de vista de segurança, porque o cadastro é muito simples. O Brasil não é um país seguro onde você pode andar na rua tranquilamente com o seu celular. Então você terá tudo salvo neste aparelho”.
Por outro lado, os operadores financeiros reforçam que diversas estratégias estão sendo adotadas, como a definição de limites em consenso com o cliente e conforme o perfil de movimentação financeira. “Vale ressaltar que a tecnologia que o PIX utiliza não é nova, porém o conceito pode ser sim considerado disruptivo, ao facilitar as operações e abrir novas possibilidades, inclusive de modelos de negócios diferentes e melhorando a circulação dos recursos entre as pessoas, empresas e reduzindo o custo país em relação aos negócios”, completa Rafael de Tarso Schroeder.