Possivelmente, a expressão “valuation” não seja estranha para você. Em resumo, nada mais é do que descobrir o valor da sua empresa. Mas como saber quanto vale uma empresa? Isso pode ser muito mais difícil do que se imagina, em especial quando consideramos que mais de 98% das empresas brasileiras, de acordo com números do SEBRAE, são de micro, pequeno ou médio porte.
Antes de tudo, é preciso qualificar o tamanho da empresa, tema de controvérsia no Brasil. Segundo o BNDES, existem 4 portes de empresa: Micro (faturamento bruto anual menor ou igual a R$ 360 mil), Pequena (faturamento bruto anual maior que R$ 360 mil e menor ou igual a R$ 4,8 milhões), Média (faturamento bruto anual maior que R$ 4,8 milhões e menor ou igual a R$ 300 milhões) e Grande (faturamento bruto anual maior que R$ 300 milhões). Ao contrário do que se pensa, o valuation pode ser conduzido também pelas pequenas e médias empresas, desde que sejam tomados alguns cuidados.
Observamos que a maioria das teorias existentes para estimar um valuation exigem cenário desenvolvido, com informações que muitas vezes não foram colhidas ou organizadas pelos respectivos administradores e suas equipes. Analisar o balanço e demonstrativos de empresas listadas em bolsa, com contabilidades extremamente profissionais, altamente formalizadas e auditadas com equipes de controle específicas para cada indicador, certamente possibilita avaliar uma empresa de forma mais precisa. No geral, pegam-se estes dados e aplicam-se modelos de cálculo que chegam a diversos entendimentos.
Existem diversas técnicas para se encontrar o efetivo valor de uma empresa, sendo que a mais aplicada nas grandes empresas é o fluxo de caixa descontado (FDC). A metodologia busca encontrar o valor da empresa considerando a capacidade de retorno ao acionista. Há também a metodologia dos Múltiplos que permite encontrar o valor de um ativo ou empresa com base em ativos e empresas semelhantes. Independentemente do método, é fato que as grandes empresas, principalmente as de capital aberto listadas em bolsa, têm informações muito mais acessíveis e organizadas.
Isso não quer dizer, porém, que companhias de pequeno e médio porte não possam se organizar para este fim. Há sempre a incerteza de quanto vale um negócio, por envolver emoção e razão. É preciso ter em mente que o valor de uma empresa está relacionado ao conjunto de tudo o que ela oferece, indo além do preço da mercadoria e chegando a maneira como o cliente a percebe, conforme os conceitos de Philip Kotler na área de produtos e serviços.
Nesse contexto, é importante que as empresas busquem se aproximar de seus contadores para produzirem uma análise gerencial do seu negócio, extrapolando quaisquer razões emocionais. Com números reais, como as demonstrações de resultados (DRE), de fluxo de caixa e de balanço patrimonial, abre-se um leque de oportunidades. Ao saber periodicamente qual o resultado do negócio – que pode ser reinvestido na empresa ou usado em benefício do empresário –, encontra-se a base para o valuation. Destaca-se que o valuation deve ser ajustado (positivamente ou negativamente) por ativos, contas a receber ou dívidas bancárias ou com fornecedores. Esses dados são essenciais para a tomada de decisão.
Métodos
Como mencionamos anteriormente, o FDC é certamente a técnica mais popular do mercado por apresentar resultados mais precisos. Em alguns casos, o modelo é suplementado por técnicas adicionais, como a avaliação de Múltiplos de mercado, visando oferecer um comparativo com empresas que atuam no mesmo segmento. Esses múltiplos podem ser de Vendas/Faturamento, de EBITDA, de Lucro, de Patrimônio, entre outros.
Um exemplo: ao dividir o valor de venda pelo faturamento, chega-se a um múltiplo. No caso de uma empresa que faturou R$ 800 mil no ano e foi vendida por R$ 4 milhões, o múltiplo seria 5. Se outras companhias semelhantes (porte, segmento, atuação) tiverem múltiplos semelhantes, é possível admitir que o mercado considera este valor para negócios nesta área.
O passo número 1 para obter o valuation de empresas consideradas Pequenas ou Médias é estar com a formalização em dia e ter, de forma organizada, os dados contábeis em mãos. Nesse cenário, independentemente do modelo escolhido, será possível chegar a um valuation, inclusive para empresas pequenas e médias. Caso contrário, o caminho deve ser: organize as contas, compreenda os números do negócio, aproxime-se dos contadores para entender, de fato, a empresa.
O segundo passo é compreender a realidade do segmento. Se for uma franquia, basta observar negócios semelhantes ao seu. Em outros, é fundamental estar atento a companhias similares para identificar os seus múltiplos – atualmente, é possível realizar várias consultas em fontes de dados gratuitas governamentais ou contratar serviços para uma melhor compreensão.
*Os autores são pesquisadores da Fundação Instituto de Administração (FIA). Bruno José Esperança é diretor geral do Grupo Esal, que comanda, entre outras, a Esalflores, maior rede de floriculturas do Brasil. Mauricio Neves é especialista em fusões, aquisições e infraestrutura. Rodolfo L. F. Olivo é PhD em administração pela FEA-USP e atua como professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).