Pelo menos uma vez por ano a gigante Apple gera um grande buzz em todo o planeta ao anunciar o lançamento de novos produtos e funcionalidades. A tradição, criada por Steve Jobs, sempre foi uma forma da empresa celebrar a inovação e criar no consumidor novos interesses de compra. No entanto, em um momento onde se discute diariamente as reais necessidades de consumo, todos precisam se reinventar.
Em julho de 2020, reforçada por uma declaração do CEO Tim Cook, a Apple assumiu o compromisso de se tornar 100% carbono neutra até 2030. A marca reforçou o papel da inovação como um impulsionador da jornada ambiental, ao tornar os produtos mais eficientes energeticamente, estimular a economia circular e trazer fontes de energia limpa para o planeta.
O que se apresenta no lançamento desses novos produtos é justamente isso: a inovação a favor da sustentabilidade. Essa estratégia da Apple irá abranger todos as etapas dos seus negócios, incluindo cadeia de suprimentos e o ciclo de vida dos produtos que, no ponto de vista de pesquisadores e especialistas, é o grande desafio da década. Os cinco principais pilares de mudança da empresa são:
Design
A empresa faz uma análise contínua do design dos seus produtos, em busca de oportunidades de melhoria. Ao fazer essa revisão, procura oportunidades de reduzir o carbono, seja na utilização de componentes mais sustentáveis ou no processo de aprimoramento da engenharia, materiais e energia consumida pelos produtos. Comparado com 2008, o consumo médio de energia dos produtos Apple caiu em 73%.
Apesar das discussões sobre obsolescência programada, a empresa tem investido na durabilidade dos produtos, ampliando o seu tempo de vida e durabilidade da bateria, assim como na atualização mais assertiva do sistema operacional.
Materiais e embalagem
A presença de elementos químicos nos produtos de tecnologia também é algo bastante preocupante. A empresa incentiva a pesquisa para mapear, testar e substituir alguns materiais nocivos por substâncias mais seguras. Foi criada uma ordem de importância para definir o perfil de impacto destes materiais, que incluem dados sobre efeitos sociais, globais e ambientais. Segundo seu Relatório Ambiental, foram determinamos 14 materiais que devem ser priorizados na transição para fontes recicláveis ou renováveis: alumínio, cobalto, cobre, vidro, ouro, lítio, papel, plásticos, metais de terras raras, aço, tântalo, estanho, tungstênio e zinco.
Além da reciclagem em embalagens, é interessante conhecer essa aplicação também nos metais dos equipamentos. Por exemplo, os smartphones da linha iPhone 11 são os primeiros feitos com metais raros 100% reciclados no Taptic Engine. O uso de alumínio reciclado e com baixa emissão de carbono reduziu a pegada de carbono em 4,3 milhões de toneladas em 2019.
Economia circular
Há alguns anos a Apple trabalha para estimular a devolução e circularidade dos aparelhos, com programas de reciclagem e o AppleCare. O chamado Laboratório de Recuperação de Materiais procura otimizar as práticas de reciclagem, aprimorar a desmontagem e avançar em pesquisa e desenvolvimento. Nesse contexto, recentemente foram "lançados" dois rôbos para colaborar com esse processo: a Daisy e o Dave. A Daisy, por exemplo, consegue recuperar materiais de 15 modelos diferentes de iPhone em uma velocidade de 200 aparelhos por hora, impedindo que, apenas em 2019, mais de 47 mil toneladas de resíduos de aparelhos eletrônicos fossem enviadas para aterros.
Eficiência energética e energias renováveis
Quase metade das emissões de carbono mensuradas vem da energia elétrica usada no processo produtivo. Por isso, a Apple vem se comprometendo a identificar novas formas de reduzir o uso de energia em suas instalações corporativas, assim como ajudar a sua cadeia de suprimentos a fazer o mesmo. Hoje, todas as lojas, escritórios, data center, operações e viagens são neutras em carbono.
A meta é transformar toda a cadeia até 2030. Por isso, após ter fechado uma parceria com o US-China Green Fund, investirá US $ 100 milhões em projetos de eficiência energética acelerada para fornecedores. Atualmente, mais de 70 fornecedores assumiram o compromisso de usar energia 100% renovável para a produção da Apple.
Remoção de carbono
Juntamente com a ONG Conservation International, foi criado o Fundo de Soluções para Carbono, para proteger e recuperar florestas, zonas úmidas e pastagens ao redor do mundo. Algumas iniciativas já acontecem em áreas de mangue na Colômbia e savana no Quênia. A ideia é reunir outras empresas e instituições para iniciativas especialmente em regiões onde a empresa tem operações, incluindo florestas e soluções climáticas para China e Estados Unidos.
O interessante em conhecer mais sobre essa estratégia é entender como o mercado vem se comportando. Seja por iniciativa do mercado investidor ou por influencia dos consumidores, as organizações precisam se tornar protagonistas em situações como a urgência climática que estamos vivendo. A receita – apesar de parecer complexa – é bastante simples: analisar a sua supply chain e modelo de negócio, enxergar quais são os pontos de maior impacto socioambiental, refletir e criar ações de mitigação e redução desses impactos, inovar em produtos e serviços.
*Gustavo Loiola é Mestre em Governança e Sustentabilidade e supervisor de Sustentabilidade e Relações Internacionais no ISAE Escola de Negócios, responsável por ações alinhadas com a Organização das Nações Unidas (ONU).