Cerca de 800 mil pessoas se suicidam todos os anos no mundo. Estima-se que de 80% a 90% das pessoas que cometem esse ato sofrem de algum tipo de transtorno do humor – ou seja, devem ser considerados pacientes, assim como alguém que sofreu infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). Desde 2003, celebra-se o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio no dia 10 de setembro, mês que também ganhou a alcunha de “Setembro Amarelo” em alusão ao combate ao suicídio. Em 2020, a campanha ganhou uma nova preocupação com o fato de muitas pessoas estarem em isolamento social devido à pandemia do coronavírus.
“As campanhas de prevenção são de extrema importância para pessoas que consideram a possibilidade do suicídio, pois cada vez mais a medicina entende que isso pode ser prevenido. Entretanto, os profissionais da área da saúde precisam se atualizar e entender os novos fatores de risco para doenças mentais”, explica Sivan Mauer, médico psiquiatra especialista em transtornos do humor, citando o ciberbullying, por exemplo. Entre esses fatores, em 2020, há também a pandemia e suas consequências: sociais, econômicas, psicológicas e emocionais.
Entre as formas de prevenção, encontram-se as abordagens psicoterápicas, caso do Centro de Valorização da Vida (CVV), que trabalha na precaução dos casos, e o uso de psicofármacos. Uma das abordagens de recomendação de medicamentos é o uso do lítio. De acordo com Mauer, que é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine e doutor em Psiquiatria pela USP, apesar de um tratamento de conhecimento comum, é preciso que essa informação e o cuidado se disseminem para todos os profissionais, incluindo aqueles que atuam nos prontos-socorros.
Reflexos da quarentena
A pandemia afetou a rotina da maioria das pessoas. As famílias passaram a conviver em casa, com as crianças tendo aulas dentro de uma rotina domiciliar e os pais em home office. As notícias sobre os reflexos da pandemia e a mudança de rotina, com a obrigatoriedade do uso de máscaras, restrições para frequentar estabelecimentos, entre outras alterações, interfere na saúde mental. Em outras palavras, a quarentena desperta o medo na maioria das pessoas, seja do contágio pelo vírus; da possibilidade de infectar parentes e amigos; das consequências econômicas.
No caso do emprego e do temor do futuro, estudos anteriores, que usaram informações de 63 países entre 2000 e 2011 (incluindo 2008, quando houve a crise econômica mundial), indicaram crescimento do risco de suicídio entre 20% e 30%. “Dados da crise econômica de 2008 revelam aumento no número de suicídios precedendo o aumento da taxa de desemprego. É esperado um aumento da sobrecarga dos serviços de saúde psiquiátrica. A comunidade médica deve estar preparada para este desafio. É importante que hotlines e serviços psiquiátricos estejam prontos para esta fase da pandemia”, diz Mauer.
De acordo com o profissional, as quarentenas mais longas se associam a desfechos psíquicos mais negativos. Desde março, há, no Brasil, a recomendação de isolamento social, que, em setembro, deve atingir os 6 meses. Uma das sugestões do profissional é fornecer informação de boa qualidade sobre a doença, suas formas de contágio, seu risco e buscar reduzir o tédio e melhorar a comunicação. “O tédio e o isolamento causam angústia e sofrimento. Pessoas em quarentena devem ser orientadas, e medidas objetivas devem ser repassadas para que elas tenham mais condições de lidar com o estresse”, ressalta.
Para as famílias ou mesmo para quem vive sozinho, a dica é se comunicar tanto entre quem divide os ambientes quanto com as outras pessoas. “Uma das grandes vantagens dos nossos tempos é a de poder ver a outra pessoa pela internet, interagir com elas. É importante que isso aconteça, que não haja esse isolamento total”, completa o especialista.