Segundo números do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), o Brasil registra anualmente cerca de 300.000 feridos graves por acidente de trânsito. Mesmo com o altíssimo número de mortes decorrentes destas situações, não existe uma grande comoção ou mobilização por parte da população. Então, por que parar o funcionamento de toda uma sociedade devido a um novo vírus?
Para o especialista em administração de empresas Milton Rui Jaworski, fundador da Consultoria Jaworski Empresarial (www.jaworskiconsultoria.com.br), essa questão está estritamente relacionada a capacidade do sistema de saúde. “Se esses 300.000 feridos em acidentes de trânsito recorressem ao sistema de saúde em 60 dias, certamente teríamos o caos instaurado. O número de mortes seria agravado pela falta de atendimento”, ressalta ele.
No caso dos acidentes de trânsito, a solução seria parar a circulação de todos os carros a fim de reduzir o número de acidentes e ir liberando gradativamente até que o sistema, como um todo, se equalizasse. “O que ocorre com o coronavírus é a mesma coisa”, afirma o administrador. “Como o vírus tem um poder de contágio muito alto, a circulação de pessoas de forma irrestrita fará com que o índice de infectados seja muito elevado. Sabemos que somente cerca de 5% requer atendimento hospitalar, mas 5% de uma população é um número absurdamente grande, o que geraria um caos no sistema de atendimento hospitalar”, detalha.
De acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 209,5 milhões de habitantes. Em caso de 5% da população, ou seja, mais de 10 milhões de pessoas necessitarem de atendimento médico no mesmo período, não existiria estrutura hospitalar em lugar nenhum para dar vazão a essa demanda. Para Jaworski, a decisão sensata é parar a circulação de pessoas para parar a transmissão do vírus. “O vírus não circula, são as pessoas que circulam. Então precisamos de uma parada momentânea, de 1 a 2 meses, tempo suficiente para que o sistema se equilibre. Enquanto isso, devemos tentar aproveitar as oportunidades que o mundo digital e os serviços à distância nos proporcionam”, aponta.
Como já vemos acontecer, a perda de renda momentânea é considerável, entretanto Jaworski acredita que não se deve pregar o pânico. “Precisamos ter racionalidade. O cenário mudou e isso requer mudança de comportamento, de ações, de orientação estratégica e de visão de solução”, afirma. “Se os poderes públicos conduzirem a situação de forma sensata, a eventual perda de emprego e de receita das empresas terá fim. Portanto tenhamos serenidade, pois dias melhores virão e sairemos fortalecidos”, completa o especialista.