O descaso das autoridades, pessoas obesas engordando ainda mais e profissionais passando dificuldades financeiras. O impacto do covid-19 no esporte.
Em todos os decretos de prefeitos e governadores sobre os serviços essenciais, os últimos a serem lembrados aparentemente foram sempre os profissionais do esporte.
Talvez pela fama injusta das salas de musculação de ser um local frequentado por pessoas fúteis e sem conteúdo, os governantes do país tenham esquecido sumariamente o real motivo da existência destes locais, a promoção da SAÚDE.
É um pouco demais exigir que homens que ganham salários exorbitantes e passam os dias em cafés e churrascarias olhem para quem se exercita com bons olhos, mas é importante lembrar que um dos agravantes para uma pessoa que contrai o covid-19 é a obesidade.
O novo coronavírus ataca com mais agressividade pessoas obesas hipertensas e diabéticas, o que deixa claro que ficar preso em casa tendo uma alimentação desregrada, atitude alegada por milhares de brasileiros nas redes sociais, não parece ser lá o que se chama de boa ideia.
O problema de se enfrentar uma doença desconhecida é o fato de se ter poucas informações sobre como enfrentar ela.
As academias, que proporcionam saúde física e mental, estiveram fechadas nos últimos mais de 30 dias, mas as Lojas Americanas, com suas guloseimas cheias de açúcares e sódio, permaneceram abertas e abarrotadas de pessoas se amontoando para fazer estoque de comida.
O mesmo vale para grandes empresas de fast food como McDonalds, Burger King e outros grandes oligopólios mundiais.
Como restaurantes de delivery foram vistos como essenciais, não houve problema em ver motoqueiros amontoados esperando pessoas pedindo comida em casa, não dá para negar que este setor está lucrando muito com a situação.
Nesta conta do que é essencial e o que não é ficaram de fora os profissionais do esporte, donos de academias e professores estão passando por maus bocados com o esvaziamento obrigatório dos tatames, salas de musculação e salas de dança.
Aluguéis atrasados, contas pendentes e professores desempregados fazem parte da rotina de desespero de quem dedica a vida a fazer algo que deveria ser essencial no enfrentamento do vírus, fortalecer o sistema imunológico.
Dheyner, 28 anos, sócio-proprietário de uma academia no Sítio Cercado, em Curitiba, exemplificou o drama que está sendo balancear as contas nas últimas semanas:
"Estamos sem poder abrir desde o dia 20 de março por tempo indeterminado. O maior problema são os custos fixos. Por mais que o custo tenha diminuído, ainda está vindo. Uma conta de luz que vinha com média de R$1.500,00 está vindo em torno de R$800,00, mesmo com quase tudo parado, pois coisas mínimas como catracas e alarmes permanecem ligados."
Dheyner ainda especificou que está negociando o aluguel, pois sem alunos, fica inviável pagar. Os funcionários também sofreram o impacto disso, tendo que negociar os salários num momento em que não estão trabalhando.
Para piorar, mesmo que tudo volte ao normal, boa parte das pessoas não irão frequentar a academia e no inverno a quantidade de alunos diminui vertiginosamente.
Thiago Agibert Elias, 30 anos, proprietário da Academia Elite, no Capão da Imbuia, descreveu o seu drama:
"Férias forçadas em casa. Nos primeiros dias ainda você tenta manter a rotina, arruma aquelas coisas que já estavam a meses para arrumar, descobre outras que ainda tinha que fazer. Mas tudo isso dura no máximo uma semana. O que você no começo tenta ser positivo, com o passar dos dias passa a ser preocupação. As contas não param de chegar, o aluguel, funcionários, e tudo mais.".
Nos tempos de dificuldade muitas pessoas usam a criatividade para driblar os problemas, Thiago foi um deles.
Para auxiliar uma demanda dos alunos e conseguir pagar as contas essenciais, Thiago alugou os equipamentos transportáveis para os conhecidos. A ideia surgiu logo na primeira semana de isolamento e se não gerou lucro, pelo menos ajudou a pagar algumas contas.
Fernando Koester, fisiculturista de 31 anos e sócio proprietário de uma loja de suplementos, afirmou que com o fechamento das academias, o faturamento despencou, uma vez que o público fitness não está seguindo uma rotina de exercícios periódica.
Ele afirmou que todo o comércio à sua volta está com dificuldades extremas.
Ainda é difícil quantificar o quanto a crise provocada pelo covid-19 impactou nossas vidas, mas é possível ter a certeza de que atitudes precipitadas de governadores e prefeitos afetaram diretamente a vida de milhões de brasileiros, dentre eles o setor esportivo, que amargará meses e anos de dificuldades.