Localizado na Região Metropolitana de Curitiba, o Presídio Estadual de Piraquara chegou às manchetes depois de receber condenados da Operação Lava-Jato. A penitenciária volta à televisão por uma razão mais nobre, digamos assim. Um pavilhão desativado serviu de locação para Irmandade, série em oito episódios da Netflix que marca a primeira produção da O2 (de Fernando Meirelles e companhia) para a plataforma de streaming.
O cenário é bem anterior ao do escândalo de corrupção. Ambientada em 1994, em São Paulo, a série acompanha o nascimento da facção criminosa que dá nome à produção. Condenado a 20 anos por tráfico de drogas, Edson (Seu Jorge) é o líder da Irmandade. Há tempos sem ter notícias do irmão, a advogada Cristina (Naruna Costa) fica sabendo, por meio de um processo, dos maus-tratos que ele sofre atrás das grades. Resolve intervir, por meios ilícitos. Se dá mal, perde o emprego e é chantageada por um investigador. Entra para a Irmandade para se tornar informante da polícia.
Criada por Pedro Morelli, a trama é ambientada no início dos anos 1990 porque a produção queria uma mulher como protagonista. “Antes do celular, as mulheres tinham a função de comunicação entre os mundos interno e externo”, comenta Morelli.
Para a série, que consumiu os dois últimos anos, houve intensa pesquisa sobre facções criminosas. “Elas nasceram naquele momento como reação à opressão do sistema carcerário. Falta de direitos humanos, tortura, isso sempre existiu. Porém, na década de 1990 era pior do que hoje. Os presos se uniram em grupos para se organizar e resistir. A opressão foi o grande erro do Estado, pois só os estimulou mais”, continua o diretor.
No elenco secundário, destacam-se Lee Taylor (Ivan, iniciado na Irmandade, deixa a cadeia nos primeiros episódios) e Pedro Wagner (Carniça, o segundo homem da facção, que comanda os negócios fora das grades). Wagner, cujo personagem não demora a confrontar com o de Seu Jorge, vê Carniça como o bandido clássico.