O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, nesta sexta-feira (29), que “não tem pressa” para aplicar a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos, mas ressaltou que o processo precisa avançar. A medida foi aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada em abril e já teve início na Câmara de Comércio Exterior (Camex), que iniciou os trâmites para notificar oficialmente o governo norte-americano.
Durante entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte, Lula explicou que a nova legislação autoriza o Brasil a responder a medidas unilaterais de outros países, como as sobretaxas impostas pelos EUA às exportações brasileiras. Atualmente, 35,6% dos produtos brasileiros vendidos para o mercado norte-americano estão sujeitos a uma tarifa de 50%.
Segundo o presidente, o objetivo é abrir caminho para negociações e pressionar Washington a rever a decisão. “Eu não tenho pressa de fazer qualquer coisa com a reciprocidade contra os Estados Unidos. Tomei a medida porque tenho que andar o processo. Nós já entramos com a ação na Organização Mundial do Comércio. Agora, precisamos mostrar que temos condições de reagir, mas queremos negociar”, disse.
O tarifaço foi introduzido durante a gestão de Donald Trump e ampliado recentemente. Inicialmente, em abril, a sobretaxa era de 10%. Em agosto, uma tarifa adicional de 40% foi aplicada em retaliação a decisões brasileiras que, segundo o ex-presidente norte-americano, prejudicariam empresas de tecnologia dos EUA.
Lula destacou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, acompanhado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), lidera a missão para buscar novos acordos comerciais. “Até agora não conseguimos falar com ninguém. Se o Trump quiser negociar, o Lulinha paz e amor está de volta. Mas não vou ligar para ele. Quem quiser negociar tem que dar sinal”, afirmou.
Combate ao crime organizado
Na mesma entrevista, Lula também comentou as recentes operações policiais que investigam grupos criminosos no setor de combustíveis, utilizados para lavagem de dinheiro de facções do narcotráfico. O presidente classificou a ação como “a mais importante da história” por atingir os líderes do esquema.
“O crime organizado hoje é uma verdadeira multinacional. Está na política, no futebol, na Justiça, em tudo. Agora queremos saber quem realmente faz parte desse sistema. Quem fizer, vai aparecer”, disse.
As investigações revelaram um esquema sofisticado de ocultação de patrimônio ilícito, utilizando fundos de investimento e fintechs. A Justiça Federal já determinou o bloqueio de bens e valores até o limite de R$ 1,2 bilhão, equivalente às autuações fiscais realizadas.




