Em meio a um cenário complexo envolvendo segurança pública, assistência social e o uso de drogas, a atuação em relação aos moradores de rua no Centro de Curitiba tem enfrentado entraves legais e estruturais. Em conversa com o XV Cast, do portal XV Curitiba, o vereador Guilherme Kilter (Novo) afirmou que, apesar da existência de uma rede de acolhimento ampla mantida pelo poder público, decisões judiciais e a atuação do tráfico de drogas tornam o problema difícil de ser combatido de forma efetiva.
Segundo o parlamentar, Curitiba oferece suporte a pessoas em situação de rua por meio de hotéis sociais, abrigos, restaurantes populares e programas como a Mesa Solidária. No entanto, mesmo com essas opções disponíveis, muitos continuam nas ruas, especialmente no centro da cidade. A principal razão, segundo ele, seria o acesso facilitado à esmola e ao tráfico de entorpecentes.
Kilter explica que parte significativa dessas pessoas utiliza o dinheiro das doações e até mesmo de benefícios sociais como o Bolsa Família para adquirir drogas, uma vez que a alimentação e o abrigo já são oferecidos gratuitamente pelos programas da prefeitura. O entorno do centro, onde se concentram serviços de alimentação gratuita e ações sociais promovidas por ONGs e igrejas, também se tornou um ponto de interesse para o tráfico de drogas.
Diante desse contexto, o vereador defende a descentralização desses serviços. A proposta discutida com a prefeitura envolve realocar ações de solidariedade, como refeições gratuitas e atendimento emergencial, para unidades estruturadas pela Fundação de Ação Social (FAS), fora do perímetro central. A ideia, segundo ele, é reduzir a concentração de pessoas vulneráveis em regiões onde o tráfico atua com mais força.
Kilter elogiou ainda a “Operação Centro Seguro”, parceria entre o município e o governo do Estado, que tem reforçado a presença das forças de segurança na região. Para ele, as abordagens são fundamentais para motivar o usuário de drogas a buscar tratamento voluntariamente, já que a legislação, respaldada por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proíbe a internação involuntária de pessoas em situação de rua, mesmo que estejam em estado de vulnerabilidade extrema.
“Não é um problema de segurança ou falta de estrutura municipal. É um impasse jurídico. Mesmo se aprovássemos uma internação humanitária compulsória, o STF barraria”, afirmou. Ele ainda destacou que traficantes reincidentes continuam soltos devido à frouxidão nas audiências de custódia, dificultando o combate à criminalidade na região central.
Apesar das limitações, o vereador disse que o diálogo com a prefeitura tem sido positivo. Na próxima semana, ele se reunirá com o vice-prefeito Paulo Martins para apresentar novas propostas voltadas à questão. “Temos ideias muito boas e, se forem implementadas, podemos ter resultados concretos já no segundo semestre”, adiantou.
A crise que atinge o centro de Curitiba envolve múltiplos fatores e esbarra em limites legais, mas também revela um esforço articulado entre legislativo e executivo municipal para buscar soluções dentro do que a legislação permite.




