“O plano de mobilidade urbana de Curitiba é referência no mundo todo”. Quem afirma é o professor Mario Carrier, cientista social da Escola Superior de Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional (Ésad) da Universidade de Laval (Canadá). Desde 2011, Carrier estuda cidades que estão na vanguarda do planejamento para o uso do transporte coletivo e que conseguem adequar suas políticas às necessidades locais.
“Cada modelo deve ser analisado a nível local, nacional e global. Curitiba assumiu um caráter proativo desde o início de seu planejamento, promovendo os corredores urbanos e criando sistemas com o BRT”, afirmou Carrier em palestra feita, na manhã desta quinta-feira (12/4), no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
“O caminho agora é ampliar os processos de participação cidadã e governança em suas decisões de políticas públicas”, disse. Em apresentação a técnicos do Ippuc, feita em conjunto com a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Débora Follador, o professor explicou a metodologia e os resultados iniciais da pesquisa, que, além de Curitiba, tem foco especial nas cidades de Seattle (Estados Unidos) e Montreal (Canadá).
Políticas públicas
A investigação trata de como cada cidade aplica suas políticas públicas para a mobilidade. De acordo com o estudo, a demanda urbana por políticas públicas responde a fatores, que em um espectro são determinantes e em outro extremo, voluntários. Esse processo diz respeito a condicionantes geográficas e naturais que podem provocar uma política afirmativa, segundo explicou Carrier.
Uma cidade como Montreal, por exemplo, possui um sistema de metrô desde a década de 60, uma vez que a intensa quantidade de neve dificulta o transporte coletivo. Intervenções urbanas também podem determinar as ações locais no futuro.
É o caso de Curitiba, que desenvolve sua proposta de mobilidade a partir dos corredores urbanos lineares, definidos pelo Plano Diretor desenvolvido na década de 1960.
Um terceiro fator, visto mais como oportunidade que uma condicionante, é a dinâmica das instituições. “Em Curitiba houve um processo de vontade política e de planejamento urbano que resultou na maneira com que o sistema é visto hoje”, disse Carrier.
Pesquisando como se desenvolveram sistemas bem definidos de transporte coletivo, o especialista realizou entrevistas com membros de governo e da sociedade civil nas cidades analisadas. As perguntas qualitativas são para definir qual o instrumento que o município posiciona para aplicar suas políticas públicas para a mobilidade.
Ferramentas
Através da pesquisa, Carrier percebeu quatro ferramentas utilizadas pelas cidades, em maior ou menor grau, que tentam coordenar o desenvolvimento do transporte coletivo. São elas: a autorregulação, as ações pontuais, a proatividade e a governança.
Sobre Curitiba, Carrier diz que os planos Agache e Diretor foram fundamentalmente proativos e a tendência é que a capital assuma ações cada vez mais de governança para complementar o processo de desenvolvimento da mobilidade. A previsão é que, ainda este ano, o resultado da pesquisa completa seja divulgado em forma de livro.
Foto: Cesar Brustolin