O inverno de 2024 trouxe temperaturas recordes para grande parte do Paraná, configurando-se como o mais quente em quase 30 anos de monitoramento, de acordo com dados do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar). Além do calor incomum, a estação também foi marcada por um tempo extremamente seco, resultando em focos de incêndios florestais e na decretação de situação de emergência em todo o estado.
Curitiba e as regiões Norte, Norte Pioneiro, Central e Noroeste do Paraná foram as mais afetadas pelas altas temperaturas. A capital paranaense registrou uma média de 15,9ºC, superando por 0,1ºC o recorde anterior, estabelecido em 2006. No Noroeste, a temperatura média subiu de 20,9ºC em 2002 para 21,7ºC. Já no Norte e Norte Pioneiro, o aumento foi de 19,3ºC em 2023 para 19,7ºC. A região Central, que inclui Guarapuava como referência, também registrou um aumento de 0,3ºC, alcançando 15,6ºC. Apenas as regiões Oeste, Sudoeste, Sul e Litoral do estado escaparam de novas máximas.
A explicação para essas elevações está, em parte, na movimentação de massas de ar quente que, normalmente concentradas na região central do Brasil, desceram para o Sul durante o inverno. O meteorologista do Simepar, Reinaldo Kneib, destacou que esse fenômeno foi agravado pela falta de persistência das massas de ar frio, que se dissipavam após apenas dois ou três dias, permitindo o rápido retorno do calor. Além disso, a urbanização crescente de cidades como Curitiba também contribuiu para a formação de “ilhas de calor”, intensificando as altas temperaturas.
O calor atípico veio acompanhado de um clima extremamente seco, com estiagens prolongadas que agravaram a situação no estado. Paranavaí e Cambará, por exemplo, ficaram mais de 20 dias sem chuva, enquanto a umidade relativa do ar mínima nas regiões Norte, Norte Pioneiro e Noroeste chegou a ser inferior a 20%. Nas regiões Central e Sudoeste, a umidade caiu para menos de 30%, níveis que são alarmantes para a saúde humana e para o meio ambiente. A projeção para setembro não é mais animadora, com expectativa de que o volume de chuvas acumuladas seja 38% menor que a média histórica para o período.
A combinação de altas temperaturas e baixa umidade também favoreceu o aumento de focos de incêndios florestais, o que levou o governador Carlos Massa Ratinho Junior a decretar situação de emergência em todo o Paraná. Para combater os efeitos da estiagem, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest) anunciou novas diretrizes para a gestão dos recursos hídricos, incluindo a Resolução nº 42/2024. Entre as principais medidas, o coeficiente para cálculo da vazão máxima outorgável em corpos hídricos superficiais foi ajustado de 0,5 para até 0,8. A resolução também proíbe novas captações e empreendimentos em áreas de manancial, exceto para abastecimento público e dessedentação de animais.
No entanto, essas mudanças só entrarão em vigor após a aprovação dos 12 Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) do estado. A expectativa é de que essas ações auxiliem na gestão da água e na mitigação dos impactos da seca, que continua a afetar o Paraná.