Um sargento do Exército Brasileiro, Clesio Francisco dos Santos, de 39 anos, está sendo investigado sob suspeita de praticar homofobia contra uma motorista de aplicativo em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. O incidente ocorreu na madrugada de segunda-feira (8) e resultou na prisão em flagrante do suspeito, que foi liberado horas depois, durante a audiência de custódia.
Segundo a Polícia Civil, a motorista começou a gravar a conversa após perceber as ofensas. Em um dos áudios registrados, o sargento é ouvido dizendo: “Tu tem que fazer teu serviço, tá ligado? Tu já foi de contra a tudo que eu imaginei de um profissional da área. Que não é mulher, não é homem, eu nem sei o que é, só dirige”.
A vítima, que prefere não ser identificada, contou que começou a gravar a conversa por sentir medo do comportamento do passageiro. “Ele começou a se alterar e eu comecei a ficar com medo dele. Eu falei pra ele que ele não estava falando com um homem, que estava falando com uma mulher. Acionei o aplicativo que a gente usa pra que outros motoristas pudessem me encontrar. Quando cheguei no desembarque dele, os outros motoristas já estavam todos ali, me aguardando”, relatou.
Outro trecho do áudio mostra o homem se identificando como militar e questionando a motorista sobre suas suspeitas de que ele havia bebido. “Sargento do Exército aqui. Me identifiquei, só isso”, disse ele. Em resposta, a motorista questionou: “Por que você é do Exército você pode ***** na cabeça das pessoas dessa maneira?” O sargento negou que sua posição no Exército justificasse seu comportamento.
O caso foi registrado no Boletim de Ocorrência, onde Clesio afirmou que a discussão era apenas sobre o profissionalismo da motorista e negou ter feito comentários sobre a sexualidade dela. O delegado Fernando Ribeiro Vieira, responsável pelo caso, destacou que o áudio gravado pela vítima sugeriu uma conduta homofóbica, justificando a prisão em flagrante do suspeito. “Desde 2019 o STF entende que para condutas homofóbicas e transfóbicas aplica-se a lei de injúria racial, de 1989, cuja pena máxima é de 5 anos de prisão”, explicou o delegado.
A defesa de Clesio ainda não se manifestou sobre o caso, afirmando que inicialmente apenas acompanhou o sargento na audiência de custódia e que precisa conversar com ele para decidir sobre a continuidade da defesa.
O Comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada emitiu uma nota afirmando que o Exército não compactua com atitudes homofóbicas. “Os fatos são de uma possível prática de crime comum, cuja apuração cabe à autoridade de Polícia Civil. O militar está à disposição da Justiça Estadual, que concedeu liberdade provisória. Portanto, seguirá respondendo às autoridades civis em liberdade, cumprindo expediente de forma regular na respectiva organização militar”, declarou o Comando.
O caso segue em investigação, com o inquérito encaminhado para análise do Ministério Público.